Com cabelos vermelhos e uma mecha loira, o cantor e compositor Getúlio Abelha veste um kimono azul marinho. Da casa de um amigo em Fortaleza, o artista conversa com o O POVO por videoconferência. Antes de iniciar a entrevista, ele mostra o cachorro que fazia companhia por ali no cômodo. Piauiense, Getúlio ascendeu na cena musical da capital cearense e, unindo referências também do Maranhão e do Pará, tem ganhado o Brasil. Na mistura de forró pé de serra e eletrônico, pop, rock, punk e brega, reflete sobre libertação, romance, crítica ao conservadorismo, questões de corpo, identidade e gênero.

Tudo isso marca seu disco de estreia, "Marmota" (2021). Com repertório do álbum e de clássicos do forró, Getúlio realiza show no Theatro José de Alencar (TJA) neste sábado, 19, às 19h30min. O retorno aos palcos da Cidade ocorre após hiato de dois anos, em razão da pandemia da Covid-19 e de seus deslocamentos no eixo Rio-São Paulo.

Com 12 faixas, "Marmota" chegou às plataformas digitais após atraso no lançamento, devido à pandemia. Diz o artista que o disco "já estava pedindo para ser lançado". O compilado ganha versão em LP pelo selo Mistura Pop, de Recife (PE); e pela Rec-Beat Produções. A edição limitada (R$ 199,90) conta com encarte duplo, autógrafo e faixa inédita exclusiva. Segundo Getúlio, a 13ª canção, "Caranguejeira Satanista", é "insana, assim como todo o álbum".

Lançar o primeiro disco na pandemia foi "frustrante", diz Getúlio. "A principal coisa que pode render a partir de um trabalho musical gravado, no caso do álbum, é se fazer show e ganhar aí o Brasil, o mundo, fazendo com que essas músicas sejam performadas ao vivo. Possa viajar e levar pro palco a minha música. A pandemia atrapalhou muito esse processo. Não considerando fazer show ao vivo só como se fosse uma divulgação do álbum, mas realmente como um processo importante e que precisa ser feito".

Getúlio lamenta os entraves, mas também celebra. Para o artista, o disco é "atemporal". No trabalho, fala sobre tapuru, manda "se lascar" e diz que prefere usar calcinha. O vinil é uma forma de materializá-lo. "É uma necessidade ter fisicamente esse material. Acredito que ele pode, sim, ser um tesouro daqui a um tempo... Ter um vinil é uma forma de dizer que esse álbum não vai morrer e não vai ficar perdido na internet".

O primeiro disco pode ser considerado, por muitos artistas e críticos, como o início de uma era. Getúlio, contudo, não vê a hora de iniciar uma nova fase, lançar mais canções e videoclipes. "Marmota" simboliza, então, o fechamento de um ciclo — da infância artística em Teresina (PI) e da vivência em Fortaleza ao desejo obstinado de criar. Na canção "Laricado", com o videoclipe gravado no Mercado São Sebastião, entre frutas e olhares curiosos, ele já revelava um tanto desse "apetite": "Eu tô com fome/ eu vou enlouquecer".

"Não consigo escolher uma melhor faixa do álbum. Depende do momento que eu estou. Acho que todas têm uma qualidade impecável. Nenhuma música foi um resto de composição que coloquei ali só para preencher o álbum. Todas foram feitas unicamente para o álbum. Não existe uma música descartada. Não existe música sobrando. Foram músicas feitas exatamente para estarem ali. E foram todas produzidas com o mesmo cuidado. Todas são maravilhosas", comenta.

Getúlio explica o título do disco. “Não existe palavra para definir essa coisa toda. Não seria o nome de uma música, não seria o meu nome. E a palavra marmota a gente usa muito aqui para definir coisas que a gente não sabe bem definir. É uma palavra que resume bem. Acho que, de fato, é uma marmota. E até porque eu me livro do compromisso da seriedade. Me livrei do compromisso de ‘Ai, olha gente, aqui é um álbum e é experimental e num sei o que e tal…”. Não, gente! É uma marmota! É isso”.

Há sentimento diferente num show em Fortaleza? Getúlio avalia: "Talvez, para o público daqui que gosta de mim, tenha mais do que para mim… No sentido de que vou dar minha paixão sempre em qualquer show. Mas vai ser bom estar em uma Cidade que gosta tanto do que faço e que vivo há tantos anos. Finalmente vou fazer um show depois de ter um álbum inteiro. Vou acabar 'mimando', cantando mais músicas. Quero estar em casa, conversar durante o show, cantar músicas que nunca cantei".

Na entrada do TJA, o público deve apresentar o Certificado Nacional de Vacinação Covid-19, acompanhado de documento oficial com foto. Os ingressos estão disponíveis na plataforma virtual Sympla.

Vida&Arte Convida

Getúlio Abelha conversa sobre o desenvolvimento do disco, explica porque a faixa “Caranguejeira Satanista” foi a escolhida para compor o vinil e revela detalhes da canção; repercute o deslocamento no eixo Rio-São Paulo e presta homenagem à inspiração para o seu nome artístico: Paulinha Abelha (1978-2022), vocalista da banda Calcinha Preta morta no último mês, no projeto de entrevistas Vida&Arte Convida, disponível na seção “Séries e Docs” do OP+

> Clique aqui para conferir a entrevista com Getúlio Abelha

O disco

1. Tapuru
2. Laricado
3. Cavalo Corredor
4. Voguebike
5. Sinal Fechado
6. Tempestade
7. Cachorro Maldito
8. Pigarro
9. Vá se lascar!
10. Aquenda
11. Tamanco de Fogo
12. Perigo
13. Caranguejeira Satanista (faixa inédita e exclusiva em vinil)

Marmota - Getúlio Abelha

12 faixas
Disponível em Spotify, YouTube, Deezer e mais

LP Marmota, edição limitada
Mais info: www.misturapop.com.br

Getúlio Abelha ao vivo em Fortaleza

Quando: neste sábado, 19, às 19h30min
Onde: Theatro José de Alencar (rua Liberato Barroso, 525 - Centro)
Quanto: ingressos a partir de R$ 35
Mais info: www.sympla.com.br

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Instagram: @getulioabelha
YouTube: /GetúlioAbelha