"Sendo assim Brasil inteiro/ Ouça o que eu vou falar/ Meu repente é cultura/ Quando eu canto é para encantar". Os versos foram improvisados por Vyni ao deixar o reality show Big Brother Brasil 22 (BBB 22) na última terça-feira, 15, com 55, 87% dos votos. O cearense de 23 anos entrou na casa mais vigiada do País com grande expectativa do público e ganhou mais de 2 milhões de seguidores no Instagram antes mesmo da estreia. Após dois meses de programa, ele ressalta o turbilhão de emoções proporcionado pela vivência. "Estou em um mix de tristeza, saudade e alegria . Penso que poderia ter feito diferente, porque me fechei, mas fui acolhido", diz emocionado em entrevista exclusiva.
Natural do Crato, no Cariri, Marcus Vinicius Fernandes de Sousa tem formação em Direito, mas se autodenominava "influencer de baixa renda" até integrar o elenco do grupo Pipoca no BBB22. Durante a conversa com O POVO, ele mencionou que estar no jornal é uma realização pessoal e reforçou a satisfação de dialogar com conterrâneos, para matar "a saudade do sotaque". A fala rápida e leve deixa notório o entusiasmo característico de sua personalidade, que se perdeu em meio ao reality.
"Eu cheguei no meu auge, mas me apaguei dentro da casa. Toda aquela situação nova me deixou intimidado, cheguei muito querido, com vários corações no queridômetro, e não contava com isso. Quando você não tem atrito direto com ninguém, fica difícil indicar para o paredão, justificar um voto, a gente sabe que isso não é bem visto porque é um jogo, as pessoas tendem a lhe chamar de planta", conta. Em conversas com os outros brothers, Vyni afirmou que assumiu sua sexualidade para a família pouco antes de entrar no programa e compartilhou ataques homofóbicos sofridos. "Eu não estava acostumado a ser gostado, mas a ser detestado, apontado, julgado e menosprezado. Fiquei sem saber o que fazer".
O ex-participante relata que o humor sempre foi utilizado como mecanismo de defesa e empoderamento, visto que tinha questões em relação à aparência. "Eu tirava onda comigo mesmo, para não sair magoado se alguém me machucar. Também sempre me colocava em segundo plano e percebi que precisava consertar. Mas não é uma coisa que acontece de um dia pro outro", comenta. Em seu último discurso, Vinicius pontuou que o programa o auxiliou na trajetória de amor próprio. "Li várias pessoas falando que eu prometi tudo e entreguei nada, eu queria ser o Vyni da eliminação. Mas lá dentro você não pode se dar ao luxo de ficar introspectivo, custou para me mostrar completamente. Eu sou aquela pessoa do primeiro e do último dia".
A relação de Vyni com os outros integrantes ficou mais restrita ao ciclo do quarto Lollipop, de onde saíram nove eliminados da dinâmica. Um dos aspectos que causou polêmicas entre os internautas foi sua relação próxima com Eliezer. "O Eli foi um grande amigo, me deu aquilo que eu não estava acostumado a receber. Eu tenho uma tendência a me entregar nas minhas amizades. Foi uma relação muito boa que transcendeu vários aspectos, talvez as pessoas não estejam acostumadas a ver essas demonstrações de carinho entre dois homens, principalmente entre um hétero e um gay. Essa é a minha verdade, mas sempre vai ter quem não acredite", afirma. Outro ponto especulado como estratégia foi o comportamento do ex-brother na edição ao vivo do programa. Alguns internautas classificaram gestos - inclusive tropeços - e falas como falsos. "Se fosse uma estratégia seria a mais irresponsável do mundo, eu sou estabanado mesmo. Já no ao vivo, eu via que tinha que ser mais incisivo, mais imponente. As pessoas se acostumaram com a versão mais quietinha, viam como se eu estivesse fingindo. Mas é aquilo da vida real, certas situações pedem posturas diferentes. Acho que foi mal interpretado".
Apesar da eliminação, Vyni afirma que o feedback dos seguidores apresentou um leque de possibilidades para o futuro, além do espaço como influenciador digital. "Por ter me amado, me aceitado, eu vejo o que sou capaz de fazer. Eu quero compensar aqueles momentos introspectivos", garante. Ainda é cedo para ditar novos rumos, mas ele pretende explorar a área artística. "Nunca tive condição financeira para me dedicar, agora quero delimitar algo e focar naquilo. Esse muro caiu, estou aberto e disponível a esse mundo que sempre sonhei, seja para teatro, televisão ou música".
Uma coisa é certa: independente do caminho, Vyni seguirá levando a bandeira do Nordeste. "Quero estampar minhas raízes no peito e no coração de uma maneira visível, eu sinto que estou trazendo um pedacinho do meu Cariri", desenvolve. Ele deve chegar à cidade natal ainda neste fim de semana, onde pretende revisitar a família, sua maior saudade. "A cultura do Brasil precisa ser valorizada e vista, é um prazer enorme estar representando de alguma forma. Não no jogo, porque aí já vimos que eu sou uma tragédia, mas em viver eu sou profissional. É uma honra dizer que eu represento meu lugar e levo minhas origens".
Podcast Vida&Arte
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker.