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"Alemão 2": Filme estreia com discussão sobre políticas de segurança pública
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"Alemão 2": Filme estreia com discussão sobre políticas de segurança pública

Longa chega aos cinemas nesta quinta-feira, 31. Obra atualiza debate sobre o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro
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Elenco ainda conta com Vladimir Brichta e Leandra Leal (Foto: Divulgação/Laura Siervi)
Foto: Divulgação/Laura Siervi Elenco ainda conta com Vladimir Brichta e Leandra Leal

"Não há heroísmo na polícia". A frase foi dita pelo delegado Valadares, personagem de Antônio Fagundes no filme "Alemão" (2014). No ano de 2022, a sentença é utilizada pelo diretor José Eduardo Belmonte para contextualizar o lançamento do filme "Alemão 2", que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 31. A sequência se passa nove anos depois da ação militar que visava acabar com a presença do tráfico no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, com a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).

Com roteiro de Thiago Brito e Marton Olympio, a obra acompanha operação inserida no Alemão, liderada pelo policial Machado (Vladimir Brichta) e acompanhada pelos agentes Ciro (Gabriel Leone) e Freitas (Leandra Leal). A busca é por Soldado (Digão Ribeiro), um dos líderes do tráfico de drogas após a falência das UPP. A nova produção leva para as telonas o foco nas problemáticas dentro da política de guerra às drogas da capital carioca.

Logo na primeira cena, de acordo com exibição ao O POVO, a ação é conduzida em plano-sequência com uma cena de perseguição. A partir deste momento, os espectadores são introduzidos na trama por meio de confronto inicial entre Machado e Soldado. "Foi um processo de produção bem complexo, que durou sete anos. Primeiro pela agenda de atores e pelas mudanças da realidade pós UPP, o roteiro nunca conseguia contemplar. Até que certo dia decidimos zerar tudo", explica o diretor José Eduardo Belmonte em entrevista exclusiva por Zoom. Na conversa, também esteve presente o ator Digão Ribeiro, que compartilha a visão acerca da seleção: "Quando eu fui aprovado, não sabia que o Soldado era o antagonista da história, alguém que carrega a trama nesse lugar marginalizado, então tem que ter mais cuidado ainda. A gente conseguiu fazer um processo de muita escuta e experimentação que se estendeu antes, durante e depois da preparação".

O personagem mencionado pelo intérprete é alvo de negociações entre os policiais e traficantes. No decorrer da história, situa suas antigas aspirações pessoais e a relação com a família. "Ele vem para tentar fazer um debate de uma coisa muito delicada, que é conseguir humanizar essas pessoas, esses corpos pretos que podem estar dentro desse mercado, mas que ainda assim são humanos. Ele tem um momento de virada de chave, que ele está sofrendo, então vamos entender essas camadas para que a gente consiga ver qual é o problema e solucionar, sem ficar nesse lugar raso perdendo vidas a todo momento", continua o ator. A narrativa também aborda temas como a corrupção institucionalizada dentro das organizações policiais. "Esses personagens da trama vêm emprestados para poder contar e denunciar uma realidade que é viva, que é a violência dentro das comunidades, com consciência e com responsabilidade. Todo mundo tentou entender as relações sabendo que, na verdade, a gente tinha que dar ênfase para o que acontece no Alemão".

A principal responsável por trazer a perspectiva do local é Mariana (Mariana Nunes), única que está presente nos dois filmes. Ela é moradora do Complexo e representa a conjuntura da população que sobrevive em meio aos embates. A personagem é um dos destaques femininos do longa, que conta com a chefe de polícia Amanda (Aline Borges), defensora de uma abordagem sem violência; a agente novata Freitas (Leandra Leal), esperançosa em uma polícia com mais humanização; e a matriarca interpretada por Zezé Motta. "É um filme de ação, mas a gente pensou muito em quais são os dramas dessas pessoas, as contradições que elas estão inseridas e as coisas que elas amam, que elas têm medo. Acho que essa era nossa intenção, inserir num filme de ação popular todos os problemas das pessoas que vivenciam essas questões de segurança pública", complementa Belmonte.

A preparação para representar essas narrativas foi árdua e envolveu treinamentos intensivos com a polícia e os dublês, algo que Digão "nunca tinha experienciado" em produção nacional. O objetivo era trazer realidade para uma história ficcional, a fim de introduzir debates importantes. "O filme traz um diálogo muito equilibrado. A gente não consegue dizer quem é o certo e quem é o errado. A gente consegue dizer que a vítima é o Alemão, assim como as pessoas da comunidade. Mas só soluciona sentando, entendendo, debatendo, para dali conseguir trazer um desfecho, porque nem em "Alemão 2" a gente consegue dar uma resposta", elabora Ribeiro. Já o diretor adiciona: "O que a gente tentou fazer é organizar e lançar as perguntas. O que a gente vê é que, há muito tempo, o processo de segurança pública é uma militarização. Quem ganha com essas violências? Acho que são questionamentos que o filme tenta jogar para a sociedade debater".

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