O interesse de Carolina Casarin pelo casal "Tarsiwald" (apelido cunhado por Mário de Andrade) e pela moda culminou em seus estudos de doutorado, compartilhados no âmbito de um programa de pós-graduação em artes visuais na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A análise, depois de chegar à academia, sob a direção da professora Maria Cristina Volpi, é agora apresentada em livro publicado no início deste ano pela Companhia das Letras.
Em conjunto com os 100 anos da Semana de Arte Moderna, "O guarda-roupa modernista" abre com 12 temas que entrelaçam moda e história. A autora destaca a interpretação da moda que Tarsila e Oswald deixaram como marca própria, além das contribuições artísticas que os tornaram os principais representantes do movimento modernista no Brasil até hoje.
A imersão que a levou, durante sua construção, a Paris é entregue ao leitor a partir de uma abordagem central, junto com os personagens e a atmosfera da época, a importância da aparência das roupas e da moda no modernismo brasileiro. Segundo Carolina, é nessa linha que, ao defender sua obra, ela consegue "compreender as informações e reflexões, bem como as estruturas analíticas e históricas" que fazem parte de suas leituras sobre o assunto.
Para a pesquisadora, vestuário e moda estão no cerne da nova leitura proposta. "Elas nos dizem coisas sobre o modernismo que, de alguma maneira, tornam, descortinam facetas do modernismo que talvez nunca se tivesse se atentado a isso", e que, então, ressalta. Um olhar tanto sobre o conjunto de movimentos culturais, escolas e estilos, o Modernismo, como, ao mesmo tempo, de seus "agentes". "Especialmente, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade", as figuras centrais dessa (re)descoberta, a convite de Carolina.
Conforme a análise da autora, "é interessante observar como eles souberam também usar a moda e a construção da aparência e a alta costura francesa como uma forma de estética modernista", que a condutora da narrativa percebe inserida por ambos com base no que estavam desenvolvendo no momento.
"Não podemos dizer ser uma roupa 'de artista' porque não foram eles que produziram aquela roupa. É uma roupa da alta costura, feita pela 'maison poit poiret', mas, a maneira como eles (Tarsila e Oswald) usam aquele traje na ocasião, por exemplo", é o que desperta à imagem produzida. Um exemplo, cita, é um recorte da abertura da primeira exposição individual de Tarsila em Paris, que Carolina associa, oferecendo exemplos da intersecção de moda e ideologia, estética artística, com o movimento Pau-Brasil.
"O guarda-roupa modernista" também abriga os "Oswalds", "a grife Tarsiwald", como, também, as referências para musa atribuídas a Tarsila até o seu vestido de casamento. No mesmo espírito, a responsável pela obra anotou cada uma das etapas marcando a identidade de cada um deles em diferentes épocas, como na "fazenda". "Existem documentos, vinculados à alta costura, relacionados a Tarsila e Oswald que nunca circularam aqui, no Brasil", acrescenta ainda a autora, sobre a singularidade da publicação.
Para Carolina, essa é a "riqueza" do processo, baseada na importância, ela acredita, de ter um olhar reflexivo e analítico sobre nossa própria história e que definiu para a direção de sua tese de doutorado "para que outras reflexões sejam suscitadas" futuramente. Além de um livro, Tarsila também é a força motriz dos desfiles de grifes brasileiras. Duas delas são: Osklen e Água de Coco, do Ceará.
"O guarda-roupa modernista: O casal Tarsila e Oswald e a moda"
Uma análise dos trajes de dois nomes do modernismo brasileiro.
de Carolina Casarin
288 páginas
Ano: 2022
Companhia das Letras
Quanto: R$ 109,90 (livro impresso) e R$ 44,90 (e-book)
Onde comprar: Sites de editora, Amazon e livrarias