A casa protegida por dois leões de porcelana, que está localizada na avenida Barão de Studart e a alguns quarteirões de distância do mar, faz parte do imaginário local há mais de sete décadas. O casarão que um dia serviu de residência a políticos cearenses hoje sedia o Museu da Imagem e do Som do Ceará Chico Albuquerque. O espaço cultural, que estava há quatro anos fechado para reformas, reabriu na semana passada e volta a integrar o dia a dia de Fortaleza. Ali, a história do estado permanece conservada. Além da restauração da arquitetura, trabalha com um acervo importante para a cultura. Mas o espaço retorna com um compromisso que extrapola a preservação da memória: junto com um prédio de cinco andares, o objetivo também é dialogar com a tecnologia e o incentivo ao futuro do Estado.
Para Silas de Paula, diretor do MIS, o complexo tem um destaque em relação aos outros museus brasileiros: "O museu tem o Ceará. Ninguém mais tem o Ceará". De fato, a essência cearense está por todas as partes. Na exposição "Ontem Choveu no Futuro", do artista Batman Zavareze (que atuou nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 e com cantores como Roberto Carlos e Marisa Monte), os visitantes são convidados a imergir no trabalho de grandes nomes das artes visuais no Ceará.
Nas paredes, há imagens produzidas por Chico Gomes, Davi Pinheiro Santos, Hélio Rola, Mestre Júlio Santos, Patativa do Assaré, Tibico Brasil e - é claro - Chico Albuquerque. A música que acompanha a imersão é assinada por Alberto Nepomuceno e Leopoldo Miguez. Durante vinte minutos, o público assiste à mostra feita por meio de videomapping, uma técnica de projeção de vídeo em superfícies irregulares, para se questionar: quais as imagens que temos do nosso Estado?
Ao sair desse ambiente, que está situado no novo edifício, é possível conhecer o "Laboratório dos Sentidos". Dentro da casa histórica, as pessoas descobrem questões específicas sobre a luz e o som a partir de uma perspectiva lúdica. Diferente daquele conceito padronizado de museu, em que ninguém deve tocar nos objetos, todos podem fazer experimentações. No local, crianças e adultos fazem experimentações com sonoridades, entendem o que está por trás de um disco de vinil, compreendem a biologia da visão e até usam a criatividade para criar sons e elaborar uma cena em stop-motion.
Silas de Paula ressalta que, apesar das áreas de entretenimento, o museu tem o intuito de oferecer formação às novas gerações. "Temos a arte de encantar, mas não é o suficiente", pondera. "Houve uma mudança mundialmente, que começa na América Latina, mas é uma mudança mundial, sobre o que é um museu. O museu é basicamente formação e educação com olhar sobre a questão social. Ele não é só um local para guardar coisa velha e antiga, para as pessoas terem ideia de memória", afirma.
Para isso, o complexo cultural abriu editais para incentivar profissionais a trabalharem com o MIS e a proporem conteúdos para serem produzidos. Também haverá uma programação formativa contínua aberta ao público geral. "Há uma possibilidade voltada para o mercado, que é a questão do videomapping. Temos isso na sala de imersão. Estamos trazendo o Batman Zavareze para formar pessoas no Ceará, não só para trabalhar no MIS, mas também para entrar em uma profissão que está em ascensão", explica o diretor. Segundo ele, o propósito é evidente: "queremos colocar o Ceará no mundo, esse é o papel do museu".
Para os próximos passos, porém, há muitas questões a serem pensadas e elaboradas. Silas de Paula acrescenta que o primeiro ano depois da inauguração é um período de experimentações. O acervo do Museu da Imagem do Som e do Ceará, por exemplo, ainda deve chegar em um futuro próximo. Também há a intenção de catalogar e digitalizar todos os conteúdos. A biblioteca que servirá para pesquisa e estudos deve ser inaugurada em breve. Outra perspectiva é a de ofertar serviços para empresas privadas e entidades diversas.
Mas o diretor cita o principal desafio do equipamento: "fazer com que as comunidades tenham uma relação de pertencimento com o espaço. Sem essa relação, nenhum museu sobrevive. São essas comunidades que vão nos fazer existir e continuar existindo. É muito fácil qualquer governo vir depois, e não necessariamente fechar, mas diminuir a subvenção. Isso é o que acontece normalmente no Brasil. Isso só não acontecerá, e essa é a parte desafiadora, se a gente conseguir manter o relacionamento com as comunidades. Elas são a cara do museu e as defensoras das ideias do museu".
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Programação de abertura
quinta-feira, 7
19h30min - Show de Fernando Catatau com participação de Rodger Rogério
Onde: na praça do MIS
sexta-feira, 8
18 horas - Aula magna com Zelma Madeira
19h30min - Show de Mateus Fazeno Rock
Onde: na praça do MIS
sábado, 9
18 horas - Aula aberta "Conhecendo o que é programação criativa", com Rafa Diniz
19h30min - Show da banda Vacilant
Onde: na praça do MIS
domingo, 10
17 horas - Visita mediada na exposição "Laboratório de Sentidos", com André Scarlazzari e Marcus Vale
Onde: no casarão do MIS
Ambientes do museu
- Espaços expositivos;
- Biblioteca física e digital;
- Sala multiuso;
- Auditório;
- Laboratórios para restauro, digitalização e impressão do acervo;
- Reserva técnica;
- Estúdios de fotografia, vídeo e de som;
- Ilhas de edição;
- Sala imersiva com projetores para instalações multimídias.
Museu da Imagem e do Som do Ceará Chico Alburqueque
Quando: de quinta-feira a domingo, das 13h às 21 horas
Onde: avenida Barão de Studart, 410 - Meireles
Mais informações: uso de máscara e apresentação de passaporte de vacina são obrigatórios para acesso aos espaços internos
Entrada gratuita
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