Criança tem vontades, desejos e sonhos. Napoleão é um menino tímido, pouco falante, mas apaixonado por cantar. Ele está descobrindo o mundo ao seu redor, incluindo os anseios e imposições do próprio pai. A partir desse enredo, o grupo Pavilhão da Magnolia se propõe a discutir infância, educação e criação para inspirar pais, crianças e famílias através do espetáculo "Napoleão".
A peça infantil estreia no próximo sábado, 23 de abril, no Teatro Dragão do Mar, trazendo os conflitos que mesmo uma criança precisa lidar. Em meio às regras, leis e convenções sociais, os pequenos são muito ensinados, mas pouco ouvidos. Enquanto a criação tradicional ensina pais a ser donos de filhos, o espetáculo busca revelar que as crianças podem e merecem escolher o seu futuro. Napoleão é uma criança bombardeada pela neurose dos adultos que tenta escapar por meio da sensibilidade e amor.
Com texto e direção de Marcelo Romagnoli, a produção estreou na 9º edição do TIC - Festival Internacional de Teatro Infantil do Ceará em outubro de 2019 e chegou a ter uma breve temporada de apresentações no início de 2020, até que a pandemia interrompeu a continuação do projeto. Com o isolamento social, o espetáculo circulou virtualmente por festivais e programações nacionais. Mas agora retorna aos palcos, permanecendo até o dia 15 de maio no Teatro Dragão do Mar.
Em entrevista ao O POVO, Jota Junior que integra o elenco e produção do grupo Pavilhão da Magnolia, contextualiza a história. "Napoleão é um menino tímido cercado pelo pelo pai opressor e também pela estrutura da escola que de alguma maneira o deixa sem voz. Na verdade, é um menino que não é que ele não fale, é porque não se deixa ele falar. E aí o refúgio que ele encontra para se expressar é a música. E o sonho do Napoleão é ser um cantor de rock, mas o pai quer que ele seja um militar. Por isso que ele recebe esse nome de Napoleão", explica.
A criança tem dois amigos, chamados de Menina e Menino, sendo esse último interpretado por Jota. "É um menino que está todo machucado, ele tem um gesso no braço, usa óculos, não enxerga bem, está perdendo a visão... E aí ele é muito protegido pela mãe e quer ser poeta. Ele fala palavras e frases um pouco mais filosóficas. Ele tem uma amizade também bastante bonita com o Napoleão", conta. Ele também interpreta um médico, que é apresentado na trama quando o pai do protagonista busca uma resposta na ciência para a falta de comunicação do filho.
Em meio as incompreensões do pai de Napoleão, a mais profunda delas é não permitir o filho ter a liberdade de escolha. Enquanto projeta seus desejos e aspirações na criança, ele não permite que o menino possa sonhar. A partir disso, a história se propõe a discutir problemáticas da criação na atualidade. "A gente pensa essa história junto com a infância de hoje. Como a gente trabalha com a questão da liberdade, que a gente tanto prega, mas às vezes a gente tanto oprime", pontua.
"As vezes, a gente projeta nossos desejos, quer que o filho seja médico ou engenheiro. Mas será que a gente quer que nosso filho seja músico, bailarino ou ator? O que está por trás desses desejos? É importante a gente pensar nessa criança e nessa projeção que a gente faz na criação. As vezes a gente protege demais e acha que sabe o que é melhor. Que melhor é esse? O espetáculo não vai responder isso, mas quer que as pessoas se perguntem. Que felicidade a gente quer pro nosso filho? É a felicidade que a gente acha que é ok? E se ele não quiser seguir o que a gente desejou? Eu acho isso muito bonito do espetáculo, faz a gente pensar o futuro que é muito próximo", opina Jota.
Ele também destaque que a produção provoca um olhar da criança para o adulto e principalmente do adulto para a criança e acredita que os pais irão se envolver na trama. "Todo texto e toda encenação são construídos não só pra criança. O pai que vai acompanhar a criança no teatro ele não fica lá olhando o celular, esperando o tempo passar. Ele acaba se envolvendo. Porque tem mensagens que são pras crianças, mas tem mensagens que são pros adultos", ressalta.
Temporada de Napoleão
Quando: 23, 24 e 30 de abril. 1, 7 e 8 de maio, sempre às 17 horas
Onde: Teatro Dragão do Mar (R. Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), ingressos disponíveis no Sympla ou na bilheteria do Dragão
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