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Com inspiração no folclore, filme "Como Matar a Besta" estreia em Fortaleza
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Com inspiração no folclore, filme "Como Matar a Besta" estreia em Fortaleza

Primeiro longa-metragem da argentina Agustina San Martín estará disponível no Cinema do Dragão a partir desta quinta-feira, 28
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Foto: Divulgação Filme "Como Matar a Besta" trata de assuntos como folclore, religião e sexualidade

O que você faria se descobrisse que há uma besta à solta? Este é o desafio com o qual Emilia (Tamara Rocca) se depara ao chegar em uma pequena cidade na divisa entre Brasil e Argentina. A jovem, natural de Buenos Aires, visita o vilarejo em busca do irmão, que está desaparecido. No local, paira um ar misterioso, composto por uma névoa quase constante que traduz em paisagem o medo dos habitantes, em sua maioria religiosos. A hospedagem dela será na casa da tia Inés (Ana Brun), uma senhora solitária que vive em um espaço próximo à floresta, região na qual a fera foi vista há poucas semanas. A vigilância é constante: pessoas falam que a criatura é o espírito de um homem que toma forma de diferentes animais.

O enredo é a trama do filme "Como Matar a Besta", da argentina Agustina San Martín, disponível nos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira, 28, viabilizado pela nova edição da Sessão Vitrine. O longa-metragem foi gravado na Região das Missões, situada na divisa entre províncias argentinas e brasileiras, no Noroeste do Rio Grande do Sul. Por ser fronteira entre territórios distintos, as pessoas unem culturas e se comunicam em uma combinação de português e espanhol. "Tem essa mistura muito tangível que você pode sentir todo o tempo, e eu achava o melhor lugar para fazer esse filme. Não é uma coisa, nem outra", explica a roteirista em uma entrevista com O POVO por chamada de vídeo via Zoom.

Já nas primeiras sequências, Emilia evoca uma lembrança ao cantar a música da lenda do Boi da Cara Preta em recado deixado na secretária eletrônica do irmão. A cena indica o teor folclórico e mitológico que perpassa toda a narrativa. Para Agustina, apesar das diferenças culturais entre Brasil e Argentina, o folclore surge como um ponto em comum. "Acho que a latinoamérica tem muitas semelhanças com mitos, mesmo que eles tenham nomes diferentes, eles são mais ou menos a mesma coisa, como o Curupira. São os mesmos arquétipos". Ela ainda acrescenta que, muitas vezes, esses personagens surgem nas histórias como representação simbólica. "Eu fiquei muito interessada nesse arquétipo 'educativo', para controlar as pessoas, particularmente as meninas. A gente inventou essa besta, que para mim é uma mistura de muitos outros mitos", explica.

Esta, entretanto, não é a única questão. Em meio à confusão presente na região, a protagonista ainda se depara com a manifestação de sentimentos amorosos a partir da chegada de uma nova colega de quarto. "Minha ideia foi fazer um filme do despertar sexual de alguém, que cresce em sua adolescência, com um olhar de que isso pode ser também um pouquinho tenebroso", complementa Agustina. Entre realidade e mitologia, humano e animal, fato e ficção, passado e presente, Emilia também se depara com os assombros da vida adulta e da autodescoberta feminina.

Os personagens, um deles sendo interpretado pelo ator brasileiro João Miguel, vivem em um clima misterioso e ambíguo, marcado pela fotografia e sonoridade da obra. "Eu tinha uma ideia de gerar algo que hipnotiza, encontrar algo que dê um transe. A construção de som, por exemplo, tinha que ser uma atmosfera atraente. A imagem enquanto a gente fazia o som era que tinha que levar como um rio, que a gente vai entrando e não pode prestar atenção nele, mas ele vai te seduzindo. Era a mesma sensação com a fotografia, de chegar a algum lugar que provoque essa sensação". A produção foi exibida no Festival Internacional de Cinema de Toronto e demorou dez anos para ficar pronta, desde o esboço inicial até a versão finalizada, concluída em setembro de 2021. Todo o processo foi documentado em um caderno de Agustina, com páginas repletas de desenhos, frases e colagens de imagens. O método, de acordo com a diretora, funciona para "pensar que tipo de filme é", com descrição de cada plano, cor e detalhe.

O espectador não se depara com a imagem da besta. Entretanto, homens e mulheres a procuram incessantemente, aos gritos, por horas a fio. Por vezes, a criatura parece estar nos cenários, nos bichos, nos vizinhos. É a iminência dos medos presentes nessas narrativas folclóricas que são repassadas geração após geração. "Eu gosto muito do debate que acontece quando as pessoas assistem ao filme, porque elas interpretam coisas diferentes. Uma homem, por exemplo, falou que a besta era sua culpa com a homossexualidade. Outra mulher falou que a besta era o povo, o patriarcado, esses homens violentos. Para mim é incrível essa ideia de que todo mundo tem a sua besta e que ela também pode ser qualquer uma dessas coisas", expressa Agustina.

"Como Matar a Besta"

Quando: de quinta, 28, a domingo, 1º, às 16h20min

Onde: Cinema do Dragão (Rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema)

Quanto: R$ 6 (meia) e R$ 12 (inteira)

 

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