Em novembro de 1974, um grupo de jovens do bairro Liberdade decidiu “mudar a cara” de um Carnaval tido como racista, criando um bloco apenas para pessoas negras e levando a história da África até sua cidade. Conhecida ao redor do País por seus históricos carnavais, a cidade de Salvador-BA é berço do Bloco Ilê Aiyê, que luta pela igualdade racial desde o seu nascimento e, a partir da música, transforma a história em arte. “Durante os 10 primeiros anos do Ilê Aiyê, ele saiu contando a história de reinos, países e nações africanas”, conta Sandro Teles, atual diretor musical do bloco.
Ao longo de seus 47 anos de história, o grupo se dedicou à cultura e educação da capital baiana, levando conhecimento e musicalidade principalmente às crianças da comunidade onde nasceu. E, nesta sexta-feira, 29, os ensinamentos do Ilê Aiyê chegam a Fortaleza para um show que engloba desde a história africana até discussões sobre “a questão do negro e o poder”, como referenciou Sandro em entrevista ao Vida&Arte. A apresentação ocorrerá no Cineteatro São Luiz a partir das 20 horas e está com ingressos à venda no site Sympla.
Sandro faz parte do bloco há 30 anos e conta que “ao longo de todos esses 47 anos, a gente veio fazendo um trabalho concomitantemente cultural, com o Carnaval, e educacional, com as nossas três escolas”. Após uma década focando apenas no Carnaval, o Bloco Ilê Aiyê decidiu, em 1988, criar uma escola de ensino fundamental chamada Mãe Hilda, com o objetivo de levar mais cultura negra às escolas, indo além do currículo formal. Em 1992, criaram a Banderê, que é voltada para as artes e tem aulas como canto e percussão, e, três anos depois, uma escola profissionalizante para os jovens da comunidade. “A ideia, no início, foi criar uma escola para a criança da comunidade, mas que ao longo dos anos foi se abrindo e hoje já é uma escola para toda a cidade de Salvador”.
Sem deixar de lado o seu objetivo socioeducacional, o show na capital cearense irá contar parte da história da África, homenagear a mulher negra e a Mãe Hilda Jitolu – matriarca do Ilê Aiyê –, discutir por que, mesmo sendo maioria, a população negra não consegue eleger candidatos negros, e cantar os grandes clássicos da Band’Aiyê, como “Negrume da noite” e “O mais belo dos belos”. O grupo não fazia uma turnê ao redor do país desde 2001, mas, neste ano, já levou sua força musical a Aracaju-SE e tem data marcada para pousar em Fortaleza-CE, Recife-PE, Belo Horizonte-MG, São Paulo-SP e Rio de Janeiro-RJ.
Além de um show que transborda a potência cultural afro-brasileira, o Bloco Ilê Aiyê fará, a partir das 14h30, uma passagem de som aberta e um bate-papo sobre a questão da cultura negra e das relações étnico-raciais. A intenção da conversa é promover uma ação de formação ao público, a partir da interação dos músicos com instituições locais convidadas. Em Fortaleza, a formação contará com os integrantes da Casa Mãe África, e os participantes do Projeto Kebra Mola e do Maracatu Vozes da África foram convidados, dentro da cota de ingressos sociais, para conferir o show.
Com ingressos a partir de 25 reais e interpretação em libras, o projeto “Ilê Aiyê: Que Bloco é Esse?” marca a volta da Band’Aiyé aos palcos após dois anos de pandemia, na qual apenas lives eram possíveis. “Foi uma grande dificuldade, porque são esses shows que fazem com que os nossos projetos sociais aconteçam. Uma parte do cachê que a gente recebe desses shows é colocado todo nos nossos projetos sociais”, afirma Sandro. Sobre o retorno às apresentações presenciais, ele acrescenta que o grupo está muito feliz. “Já fizemos esse reencontro com o nosso público em Aracaju e foi muito emocionante encontrá-los depois de tanto tempo, e a gente espera que o nosso público aí em Fortaleza também chegue junto e faça com que seja um som perfeito”.
Ilê Aiyê: Que Bloco é Esse?
Quando: sexta-feira, 29, às 20 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)
Quanto: a partir de R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia); vendas pelo Sympla
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