Logo O POVO+
Alexandre Nero comenta seu retorno à música em novo disco
Vida & Arte

Alexandre Nero comenta seu retorno à música em novo disco

Alexandre Nero retoma a carreira musical com lançamento de quarto disco solo; Ao Vida&Arte, o artista fala sobre a volta à música, maturidade e desafios na pandemia
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Alexandre Nero é conhecido também por seus papéis em telenovelas, como
Foto: Priscila Prade/Divulgação Alexandre Nero é conhecido também por seus papéis em telenovelas, como "Império", da TV Globo

"Eu gosto de títulos em que precisamos pegar fôlego para falar", brinca Alexandre Nero ao falar sobre o nome do novo álbum solo. A mais de dois mil quilômetros de distância de Fortaleza, o artista conversa de seu quarto, no Rio de Janeiro, a respeito da emoção que sente ao se reencontrar com a carreira musical após dez anos de "Vendo Amor em Suas Mais Variadas Formas, Tamanhos e Posições".

"O disco foi o resgate da sonoridade e do garoto que estava em mim quando comecei a tocar violão e a compor. Claro que, agora, apenas com a sonoridade e aquela lembrança. Mas os temas e a condição técnica são de um homem maduro e com experiência", afirma.

O comentário é sobre o álbum "Quarto, Suítes, Alguns Cômodos e Outros Nem Tanto", lançado em abril e o quarto de sua carreira. Ao longo de 11 faixas, o cantor, compositor e ator paranaense discute temas como depressão, paternidade, política, calmaria e a pandemia, em um trabalho que reúne parcerias importantes com artistas como Aldir Blanc, Elza Soares e Milton Nascimento.

Em entrevista exclusiva ao Vida&Arte, Nero fala sobre seu retorno à carreira musical, a construção do disco, como a música o ajudou a enfrentar a pandemia, a sua parceria com o compositor Aldir Blanc e a necessidade de se ter "mais calma" e "enfrentar a tristeza" com outros olhares nos dias atuais.

Conhecido também por trabalhos em telenovelas, como "Império", da TV Globo, na qual interpretou o protagonista comendador José Alfredo, o artista agora se volta para as suas origens artísticas: a música. Apesar de o novo disco ter sido disponibilizado para o público em 2022, esse retorno teve sua semente plantada ainda em 2017, quando esteve em Cabaceiras, na Paraíba, para gravar a série "Onde Nascem os Fortes".

Foi lá que começou a ser composta a música "Lajedo do Sertão", inspirada no cenário encontrado por Alexandre no Lajedo de Pai Mateus, localizado na cidade paraibana. A reaproximação com o violão resultou nessa que foi a primeira composição do disco, uma faixa "triste", em sua concepção. Tudo a partir da "necessidade fisiológica" de voltar à música.

"Foi a primeira canção que eu compus sem um instrumento. Eu escrevi a letra e saí cantando no meio daquele lugar, sozinho naquela imensidão, aos poucos a melodia foi se modificando também… Então, essa foi a semente do 'Quarto'. É até irônico pensar que daquela imensidão saiu um disco que foi feito em um quarto", descreve.

Essa foi a primeira canção a ser feita para o disco, mas a faixa que abre o trabalho é "Virulência", parceria com Aldir Blanc e Fernando Saraiva. A primeira versão da letra escrita por Blanc trazia um conteúdo mais "desesperançoso" e "magoado", que, na visão de Nero, não cabiam no disco. Assim, a letra foi reescrita.

"O disco é intimista, é contemplativo, mas tem esperança, um caminho e uma luz. Ele é feliz, apesar de parecer que não. Ele tem esse silêncio, esse tempo que parece tristeza, mas não é. Ele toca na tristeza porque não é um assunto que tem que ser proibido, temos que ter esses momentos de tristeza, sim, mas ele é um disco feliz", explica.

Ao longo desse processo de construção do disco, a pandemia não foi o único fator que levou Alexandre a enfrentar solidão e distanciamento físico de seus entes queridos. A história remonta ao período no qual esteve em Lajedo de São Mateus. Desde aquele tempo, a música foi uma forma encontrada pelo cantor para seguir em pé, fosse com saudade ou com tristeza, e observar o que estava ao seu redor com "outros olhos".

Foi também em Lajedo, por sinal, que ele começou a compor "Beleza na Tristeza", canção com a qual propõe que "Só quem tocou a tristeza um dia pode reconhecer a beleza e a alegria". Diante das dificuldades e de sentimentos profundos, a faixa explora mensagens que extrapolam os sentidos negativos associados ao "estar triste". Para Nero, existem outras possibilidades.

"Eu estava passando por um momento muito particular. A solidão, distante da família… Estava há seis meses naquele lugar, e essa música, por exemplo, eu comecei a compor lá, é daquele lugar que eu estou falando. Eu via aquela seca e comecei a misturar o local com uma pessoa junto e começava a ver beleza. Apesar da tristeza, do 'deserto' e da seca, tinha uma beleza. Eu acho que a tristeza é um lugar que não podemos negar de falar sobre. Não tem problema de estar triste, o problema é morar na tristeza", destaca.

Alexandre também fala como foi atingido por ela quando percebeu que não poderia lançar logo o seu disco devido ao "alongamento" da pandemia, e um dos traços mais marcantes foi a impossibilidade inicial de reunir os músicos para continuar a produção. Angústia e ansiedade foram outros sentimentos que se somaram a isso, mas, mesmo que o álbum o tenha feito "mal" em algum momento, foi esse mesmo trabalho que, inicialmente, serviu como sua "tábua de salvação". Os legados da obra se estendem a Nero até hoje.

"Ele foi minha tábua de salvação e confesso que o disco, para mim, é hoje um disco de autoajuda. Não é autoajuda para os outros, isso cada um vai dizer se é para si ou não, mas, para mim, ele é de autoajuda. Eu o escuto e eu falo que quero ser o que falo nas músicas. Podem até perguntar: 'Nero, mas você é desse jeito que está falando no disco?'. Não, não sou, mas eu quero ser. É um horizonte para mim, uma utopia que eu fico tentando alcançar", relata.

Nesses dois anos de produção de "Quarto, Suítes, Alguns Cômodos e Outros Nem Tanto", Alexandre Nero foi "atravessado" pela pandemia e por seus desdobramentos. Um deles foi a presença cotidiana de seus filhos, o que acabou influenciando na inserção da faixa "A Partícula" no álbum. "Esse eterno fio rendado a partir/ Da partícula/ Uma em particular/ Dois Querendo ser bem mais/ Do que a vida traz", anuncia o pai-cantor-ator na música.

Assim, é possível notar que a paternidade também guia as mensagens do disco. Com "calma", como defende Nero, é necessário do ouvinte uma escuta atenta ao trabalho que, apesar de ser de "fácil compreensão" - como o próprio compositor afirma -, demanda um trabalho "ativo" do "receptor".

"Ele é um disco de fácil compreensão, mas precisa de uma atenção e de um receptor ativo. O ouvinte precisa estar acordado e estar escutando. Se a pessoa se propuser a realmente escutar, acho que pode gostar profundamente do álbum".

Capa do disco
Capa do disco "Quarto, Suítes, Alguns Cômodos e Outros nem Tanto", de Alexandre Nero

Quarto, Suítes, Alguns Cômodos e Outros Nem Tanto

Onde escutar: plataformas digitais de música 

O POVO Mais

Alexandre Nero é o entrevistado do novo episódio do Vida&Arte Convida, disponível na seção “Séries e Docs” do O POVO Mais. O cantor, compositor e ator também comenta sobre sua relação com Aldir Blanc durante a produção do álbum, os motivos para o título do disco e planos futuros para as carreiras de músico e de ator.

Podcast Vida&Arte
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker. Confira o podcast clicando aqui

O que você achou desse conteúdo?