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Alaíde Costa lança disco com composições de Emicida e Nando Reis
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Alaíde Costa lança disco com composições de Emicida e Nando Reis

Com mais de 60 anos de carreira, Alaíde Costa lança "O que meus calos dizem sobre mim", álbum que reúne inéditas de Emicida, Céu, Nando Reis e Tim Bernardes
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Produzido por Emicida, Alaíde Costa lança disco cantando inéditas de Tim Bernardes, Céu, Guilherme Arantes, Ivan Lins e outros (Foto: Ênio César / Divulgação)
Foto: Ênio César / Divulgação Produzido por Emicida, Alaíde Costa lança disco cantando inéditas de Tim Bernardes, Céu, Guilherme Arantes, Ivan Lins e outros

Alaíde Costa é uma reconhecida cantora revelada no anos 1950, quando a música brasileira transitava do samba canção para a bossa nova. Ela é também pianista e compõe eventualmente. No entanto, o instrumento que esta carioca de 86 anos domina com mais apuro é o tempo. Sua relação com esse elemento é íntima e se mostra de diferentes formas. Está, por exemplo, na sua forma de cantar, sem pressa, estendendo notas até que se extraia o máximo que elas tenham para dar.

O tempo também é fundamental na construção da sua obra. Embora tenha gravado menos do que algumas de suas contemporâneas, ela soube esperar convites para projetos que fossem dignos do que sabe fazer de melhor. Como resultado, ela imprimiu em sua discografia uma personalidade tão única quanto seu timbre, tão delicado e tão forte ao mesmo tempo. E essa personalidade atraiu fãs de diferentes searas, como João Gilberto e Emicida.

E é por isso que o rapper se propôs a trabalhar no mais recente disco de Alaíde. "O que meus calos dizem sobre mim" nasceu quando o produtor Marcus Preto compartilhou uma peça de divulgação da live que ela faria em homenagem a Johnny Alf. "Porra, mano, essa live é meu presente de aniversário! Mentira: Alaíde Costa cantando Johnny Alf! Cê tá maluco, mano! Que lindo, que lindo, que lindo, que lindo! Apenas obrigado. Já é meu presente de aniversário", empolgou-se Emicida num áudio.

Produtor responsável por discos de Gal Costa e Paulo Miklos, Preto saiu em busca de melodias para que Emicida colocasse letra e o retorno foi suficiente para vários discos - que não estão descartados. "Jamais imaginei que o Emicida, que faz um trabalho tão diferente do meu, fosse meu fã. Foi uma coisa que me deixou bem feliz", confessa Alaíde, por telefone. A voz estava maltratada por uma laringite ("Desculpa, mas vou ter que falar pouco"), mas não escondeu sua satisfação. "Eu fiquei muito surpresa de ele fazer esse convite. O Marcus Preto que disse e eu pensei: 'o Emicida?'. Ele tem um trabalho tão diferenciado, mas eu estou sempre aberta a novas propostas. Vamos nessa".

Com direção musical de Pupillo, "O que meus calos dizem sobre mim" traz oito faixas, sendo sete delas inéditas. A exceção é "Aos meus pés", de João Bosco e Francisco Bosco, gravada na trilha da novela "A lei do amor". Guilherme Arantes e Fátima Guedes mandaram, respectivamente, as inéditas "Berceuse" e "Nenhuma ilusão". Abrindo o disco, "Turmalina negra" é uma parceria de Céu com seu irmão Diogo Poças. "Eles pensaram bem em mim. Na minha trajetória, na minha vida toda. Acho que todas foram feitas pensando em mim", orgulha-se Alaíde.

Emicida inaugurou duas parcerias. Com Ivan Lins, ele fez a misteriosa e reflexiva "Pessoa-Ilha", que tem um denso arranjo de metais do maestro Tiquinho. Com Joyce, ele divide "Aurorear", que Alaíde defende com a segurança de quem aconselha. Já Erasmo Carlos e Tim Bernardes dividem a amarga e doída "Praga" ("Já faz tempo eu fui embora, você disse 'Eu duvido'. Ouve a minha praga agora em seu ouvido"). "O Erasmo é um outro estilo de música. Daí, ele ser meu fã a ponto de querer participar foi uma surpresa pra mim. Eu vi o Erasmo uma vez na minha vida, na época da TV Record. Não sei se foi no (programa) Jovem Guarda ou se ele estaria em outro. Isso em 1969, por aí. Uma única vez. Agora, acho que devo encontrá-lo", espera.

Outra parceria que nasceu é de Alaíde com Nando Reis. Ao saber, por acaso, do projeto, o ex-titã pediu para participar avisando que ela era a cantora preferida de seu pai. Nando, então, colocou letra numa melodia que Alaíde guardava desde os anos 1960, e assim nasceu "Tristonho". Mais uma surpresa para ela, ao saber do interesse de um artista com quem ela não tinha aproximação. "Acompanhar não, mas já o conhecia. E, embora não seja a mesma praia que a minha, eu admiro".

Seja cedo ou tarde, "O que meus calos dizem sobre mim" chega aproximando Alaíde Costa de uma geração que talvez não a conhecesse se não fosse a presença dos nomes citados acima. Mas nenhuma colaboração foi tão forte nesse disco quanto a do tempo, que ela manipula com destreza, delicadeza e respeito. "Aos 86, ainda cantar da forma que eu sempre cantei, conseguir manter essa minha voz, isso pra mim é uma vitória grande, né? Porque, com as pessoas na minha idade, a voz vai mudando. A minha não. Deus me deu esse privilégio. Isso é uma vitória", fala sem soberba e encerra dizendo algo que deve servir de lição. "Acho que é gratificante demais a pessoa com a idade já bem avançada conseguir fazer trabalhos de uma forma digna. Estou feliz".

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Capa do disco
Capa do disco "Antes e depois", de Alaíde Costa

Trabalhos recentes

O anel

Parceria com o compositor e pianista Zé Miguel Wisnik. Lançado pelo Selo Sesc, o disco traz faixas como "Saudade da saudade", "Assum branco", "Por um fio" e "Estranho jardim".

Porcelana

Dividido com o pernambucano Gonzaga Leal, o álbum reúne canções que falam de amores felizes ou não. "Solidão" (Alceu Valença), "Quando se vai um amor" (Capiba) e "Divinamente nua, a lua" (Caetano Veloso/ Orlando Moraes) entre elas.

Canções de Amores Paulistas

Alaíde dá voz a 13 canções de Eduardo Santhana, um dos integrantes do grupo Trovadores Urbanos. Entre os parceiros, nomes como Isolda, Carlos Henry e Nelson Botton.

Antes e Depois

Lançado pela Discobertas, o CD traz gravações inéditas feitas em 1972 e 1974. São composições de Milton Nascimento ("Nada será como antes" e "Viola violar"), Chico Buarque ("Atrás da porta") e Astor Piazzolla ("Fuga y mistério").

Capa do disco
Capa do disco "O que meus calos dizem sobre mim", de Alaíde Costa

O que meus calos dizem sobre mim

Produção: Emicida e Marcus Preto

Direção artística: Pupillo

8 faixas

Independente

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