Fortaleza é um polo de produção e distribuição têxtil consolidado no Nordeste. Mas muito além de indústrias e feiras, a moda autoral tem se fortalecido na Capital. O movimento fez surgir uma nova geração de artistas, caso da estilista estreante Sherida Livas, de 29 anos. Por outro lado, valoriza precursores do ramo, como o experiente designer de moda Lindebergue Fernandes. Os dois são destaques desta edição do Dragão Fashion Brasil, que se encerra hoje, 28.
A emoção de ver suas peças subindo à passarela do principal encontro de moda autoral da América latina já é imensa. Para Sherida, a sensação é ainda maior: a coleção esteve no Dragão Fashion, em sua terra natal, e foi o que inspirou a estilista a embarcar no mundo da moda.
A artista faz parte da nova geração da cena cearense de moda autoral e já conquistou espaço na DFB com a coleção Terraluz, uma celebração de reencontros e laços com a Cidade. "As estampas, cada detalhe, vêm mostrando detalhes desse dia-a-dia, recortes de lembranças de praia, plantas, em uma mesclagem bem delicada, mas também muito gigantesca, muito rica de toda essa memória afetiva", diz a estilista.
As inspirações de Sherida partem do cotidiano do litoral a e trazem o mar, o sol e a vibração como ponto de partida criativo. "A ideia de uma pessoa indo à praia e ficando lá o decorrer do dia, então é uma pessoa que tá vendo a ideia de um pôr do sol e de um entardecer, até o anoitecer", conta.
Sherida cresceu assistindo à mãe, Lidelba Livas, produzindo modelagens em seu ateliê. A figura materna, somada a grandes nomes da moda nacional, serviram como referência para desenvolvimento do seu estilo.
Sobre as referências, ela cita o estilista Weider Silveiro. "Ele é um artista piauiense incrível, um expoente da moda brasileira, assim como eu posso citar minha mãe que é uma das minhas maiores inspirações, então eu acredito que as minhas inspirações partem tanto de coisas naturais como também de arte, música, movimento", declara.
Cores neon, realidade aumentada e futurismo são influências que tornam o trabalho de Sherida uma explosão de sensações. Unindo o contemporâneo ao regional, a artista diz ser subversiva. "A minha arte trabalha com ruptura, algo mais subversivo e eu não obedeço realmente às regras", afirma.
Além da carreira na moda, ela também se aventura no design gráfico e diz agregar elementos da realidade aumentada à coleção. "Eu acredito que as duas [moda e realidade aumentada] vão conviver em harmonia". Para ela, o princípio de trazer para mais perto o cliente público é algo que tem sido incorporado no design de moda.
Veterano da moda autoral no Ceará, Lindebergue tem muita história para contar. Com trabalho reconhecido mundialmente, ele fala do que permanece e do que muda na atual fase de sua carreira. "Se há algo que tento preservar, no meu trabalho, é o afeto". Em suas coleções, 'Lili' como é chamado por pessoas próximas, promove a inovação sem perder o estilo que lhe é próprio. O artista foi um dos que aderiram, anos atrás, à moda sem gênero. A inspiração veio da família e dos preconceitos vividos ao longo da vida.
Para ele, a moda deve ir além das limitações. "Preconceitos, inclusive que vivenciei dentro do âmbito familiar, me estimularam a ressignificá-los no fazer de uma moda plural, inclusiva e sem demarcações de gênero", relembra.
Em sua nova coleção, o estilista se inspira no contexto pandêmico para repassar ao público o recado: é preciso celebrar a vida. "Hoje, a mensagem precisa sinalizar aquilo que se cala ou se perdeu. Diante deste absurdo pandêmico, a vida - em sua jornada de fé, tentativas e cicatrizes - é a maior mensagem, que demanda por reconhecimento e valorização", sustenta.
DFB
Quando: até hoje, 29
Onde: Praia de Iracema
Mais info: dfbfestival.com.br
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