Lenni é uma adolescente que passa os últimos anos de sua vida em um hospital. Diagnosticada com uma doença terminal, seu entretenimento é conversar com os pacientes e os funcionários da unidade de saúde onde mora. Por vezes, torna-se chata e insistente aos olhos dos adultos. Nesta situação, ela conhece Margot, uma idosa que está doente e que decide compartilhar suas memórias com a jovem. Quando as duas começam uma amizade improvável, principalmente, por causa da diferença de gerações, propõem-se a realizar um desafio: fazer uma centena de quadros em referência aos 100 anos que as duas teriam se somassem suas idades. Essa é a história de "Os cem anos de Lenni e Margot", escrito pela estreante Marianne Cronin e publicado pela editora Planeta.
"Lenni e Margot são muito parecidas. Ambas não têm vergonha, ambas têm um gosto pela vida e uma propensão para problemas. Da mesma forma, as duas se encontram no hospital, enfrentando seus últimos dias, e estão compreensivelmente muito assustadas. Eu acho que são essas duas coisas que as fazem se conectar, porque, enquanto elas estão assustadas, elas não desistiram da vida e de se divertirem", explica a escritora em entrevista ao O POVO.
"Acho que há muito valor nas amizades entre pessoas que estão em diferentes fases da vida. Há muito o que aprender e compartilhar. Eu sabia que queria que Lenni encontrasse uma amiga que lhe trouxesse sabedoria e bondade, mas que também pudesse compartilhar suas histórias de vida. Lenni consegue sair do hospital em sua mente e viajar pelo mundo vivendo indiretamente através das histórias de vida de Margot", complementa a autora. Segundo Marianne Cronin, as duas se beneficiam da relação, porque Margot fica contente que uma pessoa a veja como amiga, não apenas como uma idosa.
Apesar da insistência para continuar viva, Lenni compreende que nunca sairá daquele local. Sem apoio familiar, ela também forma laços amigáveis com padre Arthur, que trabalha na pequena capela do hospital. A personagem é a única visitante recorrente do lugar. Em um primeiro momento, fazia as visitas para aborrecer o ministro religioso. Entretanto, depois de algumas conversas, os dois se aproximam.
Com muitos diálogos e uma narrativa fluida, "Os Cem Anos de Lenni e Margot" reflete sobre os significados da existência humana. A protagonista se questiona quais os motivos para que, tão nova, já esteja morrendo. E a verdade é que não há respostas. Ninguém se propõe a encontrar uma razão, porque ela não existe. Mas a autora não se restringe aos questionamentos sobre a vida. Ao explorar o passado de Margot, a obra percorre temas como a juventude, a paixão e o processo de amadurecimento. Ainda se aprofunda nos vínculos familiares que são frágeis e, ao mesmo tempo, infindáveis.
Mas o futuro da personagem idosa fica em aberto. De acordo com Marianne Cronin, que diz não gostar de finais definitivos, ela ainda pretende retornar à história. "Eu adoraria voltar para a história de Margot! Tenho uma ideia muito clara em minha mente do que acontecerá a seguir com Margot. Eu sempre soube que deixaria a história dela em aberto porque não gosto que as coisas sejam embrulhadas em um laço muito arrumado, mas adoraria voltar. Eu também tenho uma ideia de prequela para Arthur (ele originalmente existia em seu próprio romance antes de eu trocá-lo pelo mundo de Lenni!)", afirma.
Para a autora, seu maior objetivo com a obra é fazer os leitores perceberem a importância de uma família, mesmo que estejam em situações e lugares pouco propícios. "Espero que o livro faça os leitores pensarem com carinho em seus amigos e em sua 'família escolhida', quem quer que seja. Acho que a mensagem que realmente refleti com Margot é que nunca é tarde demais. Seja para fazer as coisas que você quer fazer ou para ser a pessoa que você quer ser, Margot faz um pouco das duas coisas mais tarde na vida. Espero também que gostem das amizades que salvam Lenni e que são encontradas nos lugares mais improváveis", reflete
Processos de produção
Em entrevista exclusiva ao O POVO, a escritora inglesa Marianne Cronin se aprofunda em seu período de produção do livro, detalha sobre a construção de diálogos e faz projeções para o futuro. Confira:
O POVO: Como foi o processo de produção do livro "Os Cem Anos de Lenni e Margot"?
Marianne Cronin: Comecei a escrever o livro aos 23 anos. Eu estava trabalhando em um ensaio de linguística muito chato para o meu mestrado e, do nada, a primeira linha do livro surgiu na minha cabeça. Então eu escrevi e descobri que não conseguia parar de escrever. Parecia que Lenni tinha vindo me visitar, e, mesmo naquele estágio muito inicial, eu me senti tão clara sobre quem ela era - sua bravura e seus medos. O resto do livro fluiu rapidamente nos meses seguintes. Então veio a tarefa de moldá-lo em algo que seria um livro. O primeiro rascunho era muito longo e um pouco triste demais, por isso, nos anos seguintes, reescrevi e editei o livro várias vezes antes de sentir que estava pronto para procurar um agente literário. Foi cerca de sete anos depois que escrevi aquela primeira linha que o livro foi publicado.
O POVO: Você tem uma maneira muito interessante de escrever seus diálogos, pois cada personagem tem sua própria voz e personalidade. Pode falar um pouco sobre a forma como cria diálogos?
Marianne Cronin: Ah, obrigada! Adoro escrever diálogos. Para mim, é a parte mais divertida de escrever. Acho que muito da maneira como escrevo diálogos é influenciada pelo ritmo da linguagem. Há um certo fluxo na minha cabeça que tenho que correr para escrever. Também sou muito influenciada pelo meu amor pela televisão. Eu sei que não é o mais 'alto' dos meios, mas analisar a forma como o diálogo é construído em minhas comédias de televisão favoritas me ajudou a entender como estruturar o discurso entre os personagens. É quase como se eu estivesse agindo como cada um dos diferentes personagens.
O POVO: "Os Cem Anos de Lenni e Margot" foi seu primeiro livro. Quais são seus planos para o futuro?
Marianne Cronin: Atualmente estou trabalhando no meu segundo livro e estou me divertindo muito com ele (embora eu sinta falta de estar no mundo de Lenni e Margot). Eu tenho um bebê de oito semanas, então, no momento, eu troquei sessões de escrita noturna por trocas de fraldas noturna!
"Os cem anos de Lenni e Margot", de Marianne Cronin
351 páginas
Planeta
Preço médio: R$56,90 (e-book: R$43,11)