A Marquês de Sapucaí vibrou com a apresentação da Acadêmicos da Grande Rio, grande campeã do Carnaval de 2022. Com a temática "Fala, Majeté! Sete chaves de Exu", a escola de samba conquistou de forma inédita o título para Duque de Caxias. Protagonizando a apresentação, no papel de Exu, estava o ator e modelo Demerson D'alvaro. De passagem por Fortaleza, Demerson conversou com O POVO sobre o momento especial que viveu no carnaval, a carreira, novos projetos e engajamento com causas sociais.
O POVO - Você sempre teve convivência com muitas religiões no ambiente familiar. Em que medida isso influenciou sua trajetória pessoal e artística?
Demerson D'alvaro - Influenciou em tudo. Na formação de caráter de ser humano, estar convivendo com várias religiões e com toda harmonia. Minha mãe é de uma religião, minha avó é de outra e minha tia de outra, então estar sabendo que cada um tem a sua e convivendo em paz, sem um jogar piada pro outro, sem um estar implicando com o outro, pra mim é formação de caráter. Quando virei artista e comecei a trabalhar com artes eu já tinha isso muito concreto na minha vida.
OP - Há anos, o carnaval do Rio é um grande palco, termômetro de questões sociais e políticas contemporâneas. O que representa, para você, ter sido campeão com os Acadêmicos da Grande Rio, trazendo o tema da desmistificação de Exu?
Demerson - Ter trabalhado com esse tema, com a Grande Rio e ainda ter sido sagrado campeão do carnaval carioca é uma forma de representatividade linda que há muito tempo eu não via. Porque se a gente passasse ali na avenida e não fosse campeão, não sei se seria toda essa repercussão, né? E estar podendo se autoafirmar, levantar a bandeira contra a intolerância religiosa é um privilégio. Eu não sou da religião, porém bebo muito da fonte, da cultura e das religiões de matrizes africanas, não é meu primeiro personagem com essa vertente. Ter feito parte desse trabalho e poder ter sido campeão, ser essa voz que fala sobre intolerância religiosa, é um prazer imenso.
OP - O Brasil é um país de diversidade religiosa, desde a formação, mas ao mesmo tempo e infelizmente, a intolerância religiosa é muito comum. Como você enxerga o Brasil de 2022 para quem segue religiões de matrizes africanas?
Demerson - Toda essa guerra, essa intolerância religiosa, não é exclusividade do Brasil, né? Pelo mundo se mata pela fé, se trava guerras pela fé e aqui no Brasil é muito complicado, ainda mais sendo de religião de matriz africana. É muito complicado a pessoa não poder falar da sua fé. Escutei relatos, me falam no Instagram, que tem gente que já perdeu o emprego porque falou que era de religião tal, porque chegava às vezes com uma guia. Isso não deveria ser empecilho para nada na vida de ninguém. Cada um tem sua fé, é só respeitar a do próximo. Estar podendo levantar essa bandeira é muito importante e espero que cada vez mais se consolide.
OP - Outro espaço de bastante destaque em que você esteve recentemente foi a São Paulo Fashion Week. De onde veio o convite e como foi estar nas passarelas de um evento de moda tão importante?
Demerson - Estou voltando, porque já desfilei bastante no Rio de Janeiro e também já fui modelo fora do Brasil. Já fiz bastante trabalho, fiquei três meses na Espanha e estou regressando nessa carreira que foi uma época linda. O convite [para o SPFW] mesmo veio no baile da Vogue, conheci os estilistas e a gente já começou a conversar, começando a ver a possibilidade e já chegando mais perto do desfile. Fiquei muito feliz com o resultado, fazia tempo que eu não passava numa passarela e foi minha estreia no São Paulo Fashion Week.
OP - Além do seu trabalho artístico, você também atua em projeto social. Qual a importância desse viés para você?
Demerson - Eu tenho um projeto social de futebol faz quatro anos. O nome é Projeto Social Marimba, uma homenagem que fiz pro meu pai já falecido, cujo apelido era Marimba. Apareceu a oportunidade de vir para Fortaleza com alguns amigos estrangeiros e poder trazer os garotos do meu projeto para cá. Trabalho com garotos, crianças carentes, de 13 a 21 anos. Consigo ter alguns garotos em clubes lá do Rio, levar [jogadores] para o Atlético Mineiro, para Goiás, São Paulo. Estou tentando fazer pontes com clubes daqui de Fortaleza. A gente, como ser humano precisa entregar, também para a sociedade