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São João 2022: quadrilheiros cearenses celebram retorno das festas juninas
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São João 2022: quadrilheiros cearenses celebram retorno das festas juninas

Após dois anos sem a tradicional festança do São João, devido à pandemia da Covid-19, quadrilheiros e brincantes cearenses festejam a volta de festas comunitárias, festivais e competições em 2022
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Quadrilhas voltam às festas após hiato de dois anos por conta da pandemia da Covid-19 (Foto: Thaís Mesquita)
Foto: Thaís Mesquita Quadrilhas voltam às festas após hiato de dois anos por conta da pandemia da Covid-19

O céu fica ainda mais iluminado, estrelado e todo pintado de balões e bandeiras coloridas, nestas noites. Enfim, chegou a hora da fogueira! — parafraseando a clássica canção das festas juninas, composta por Lamartine Babo. A festança do São João marca todo este mês de junho, mas também deve adentrar julho e até agosto e setembro nesta temporada. Após dois anos sem os tradicionais festejos, devido à pandemia da Covid-19 desde 2020, aquelas alegrias aglomeradas, com danças, comidas e trajes típicos retornam em 2022. Como cita a música, com a volta proporcionada pela ampla vacinação, "também fica a fogueira dentro do meu coração".

Com a retomada da maior festa popular da região Nordeste do Brasil, quadrilheiros e brincantes cearenses celebram arraiás e arrasta-pés, as bandeiras dançando no ar e a explosão de cores e felicidades do período. Para os apaixonados pelo São João, o sentimento se mistura entre o lamento pelas perdas da Covid-19 e a alegria pela volta responsável da tradição. Em festas comunitárias, festivais e competições do Ceará, aqueles que esperam, aproveitam intensamente e também lucram com os eventos, homenageiam os mortos pela pandemia e anseiam levar um tanto de esperança e sentimento de renovação depois de um momento tão difícil.

Então, "o forró já começou/ bota o disco de Luiz/ chegue mais perto pro meu abraço/ vamos esquentar, balançar, se mexer, acender a fogueira, dançar". Composta por Gereba Barreto e Tuzé de Abreu, a canção "Rancheira" talvez seja adequada para anunciar os festejos deste ano. As quadrilhas Filhos do Sertão e Arraiá do Bairro Ellery, inclusive, já começaram as apresentações deste São João.

Os grupos realizaram suas estreias em 4 de junho, em Fortaleza. O Ginásio Padre Félice, no bairro Bom Futuro, recebeu mais de mil pessoas naquela noite, segundo organizadores. Com ingressos a R$ 10, a bilheteria angariou recursos para circulação das quadrilhas em festas na Capital, no interior do Estado e até em outros municípios do Nordeste. O que se via era um festival de sorrisos compartilhados, lágrimas nos olhos e o resultado de dois anos de investimento energético e financeiro em figurinos, coreografias e cenários.

Como os festejos juninos públicos, provenientes de editais, só devem acontecer entre agosto e setembro, quadrilhas como a Filhos do Sertão e a Arraiá do Bairro Ellery participam de eventos privados e os independentes, de prefeituras; e os federados, com apoio de entidades como Federação das Quadrilhas Juninas do Estado do Ceará (Fequajuce), Federação dos Eventos Juninos e Culturais do Ceará (Fejuc) e União Junina do Ceará.

"Seja como Flor"

Em atividade há mais de 25 anos nas festas juninas cearenses, a quadrilha Filhos do Sertão apresenta o espetáculo "Seja como Flor" nesta temporada. Com o tema, o grupo promete levar "doçura e pureza das flores" aos arraiás do Estado e do Nordeste. Neste hiato de dois anos, os quadrilheiros "tiveram que se renovar". Assim conta Paulo Henrique Sampaio, presidente da Filhos do Sertão, sediada no bairro fortalezense Tancredo Neves. No elenco da quadrilha, ele dá vida ao noivo.

"Ficamos dois anos parados, reorganizamos o grupo e promovemos movimentos de festas, rifas, por conta do desemprego provocado pela pandemia. Nós perdemos brincantes e familiares para a Covid-19, abrimos mão de muita coisa", lamenta Paulo Henrique. A Filhos do Sertão conta com 40 casais nos arraiás de 2022. Em 2019, a quadrilha era formada por 60 casais, ou seja, 120 pessoas.

Entre as adaptações do grupo, está uma versão de figurino com materiais "mais acessíveis". A indumentária teve seu valor reduzido para que a "quadrilha conseguisse sair", diz Paulo. Ao mesmo tempo, ele compartilha: "Voltar é conseguir levar um pouco de alegria, de renovação neste momento. O grupo está muito unido, com a ganância de dançar".

O quadrilheiro destaca o desenvolvimento da economia criativa com o São João. "Consigo empregar 15 pessoas diretamente durante este período junino, entre costureiras e maquiadores". Especialmente no bairro Tancredo Neves, a Filhos do Sertão, que também atua como Associação Cultural, promove dias de festa. "Com feirinhas, comidas típicas que movimentam o bairro e a comunidade num todo. É fonte de renda extra para essas pessoas e articuladores".

Para saber mais sobre a programação, basta acompanhar o grupo nas mídias sociais. As agendas, segundo o quadrilheiro, estão abertas. O grupo já tem apresentações marcadas para arraiás nos bairros Panamericano e Cidade dos Funcionários.

"Foi difícil fechar o orçamento deste ano"

Já a quadrilha Arraiá do Bairro Ellery apresenta o tema Labuta neste São João. "Estamos falando sobre o trabalho árduo, fazendo referências às histórias de vida de vaqueiros, com homenagem à vaqueira e aboiadora Mestra Dina Martins", divulga Edgleydson Lemos, presidente do grupo. Os ensaios, segundo o quadrilheiro, começaram em janeiro de 2022.

Apesar da articulação prévia da Arraiá do Bairro Ellery, Edgleydson destaca: "O São João mesmo vai começar a partir de julho. Junho será abaixo da média, mas sair já é uma vitória". Ele acrescenta: "Muita felicidade e alegria em retornar, ainda que com dificuldades. Estamos há dois anos sem a chama acesa e estamos saindo em homenagem a Lucas Paixão, um rapaz de apenas 26 anos, que era muito atuante e querido no grupo. Infelizmente, ele foi vítima da Covid-19, e por isso a retomada foi bem complicada para a gente, porque a ausência dele ainda dói. O amor que temos pela quadrilha nos dá força para lembrar dele e também celebrar a vida. Este momento é, antes de tudo, de gratidão a Deus".

Na Arraiá do Bairro Ellery, os brincantes contribuem para o orçamento da quadrilha por meio de carnês (boletos para pagamento de serviços parcelados). Além disso, os quadrilheiros elaboram rifas e sorteios para levantar recursos financeiros e, assim, adquirir materiais de costura, elementos dos trajes e de cenários.

"Foi difícil conseguir fechar o orçamento deste ano. Os materiais, como tecidos, por exemplo, estão três vezes mais caros do que o padrão de 2019 (quando ocorreram as últimas festas de São João, antes da pandemia da Covid-19 chegar ao Brasil em março de 2020)", lamenta Edgleydson, ao passo que ressalta: "Éramos 32 casais, estamos saindo com 35, um número maior. Geramos no mínimo 50 empregos diretos num dia de festa, com equipe de limpeza, segurança e músicos. Ainda tem costureiras, bordadeiras e cenografistas que acompanham a gente na preparação. O bairro se movimenta junto nesses dias também". (Colaborou Flávia Oliveira)

Acompanhe

Filhos do Sertão: @filhosdosertao.oficial

Arraiá do Bairro Ellery: @juninabairroellery

Na íntegra

Na seção "Reportagens especiais" do OP+, confira a íntegra da reportagem "Pula fogueira! Quadrilheiros cearenses celebram retorno das festas juninas", com mais personagens que falam sobre a sua relação de amor ao São João, como a narrativa de Gal Saldanha, uma das poucas mulheres marcadoras de quadrilhas no Ceará; de Ana Maria Alves, vendedora ambulante que aproveita para fazer uma renda extra nas festas; e a tradição da quadrilha Zé Testinha, além de projeção do circuito de festivais por Alex Folia, presidente da Federação dos Eventos Juninos e Culturais do Ceará (Fejuc) e análise de pesquisadora sobre o tema e playlist com canções juninas.

Programação

Acompanhe na Vumbó, coluna diária de agenda cultural disponível na segunda página do Vida&Arte na edição impressa do O POVO e no O POVO+, as programações de arraiás e festas de São João em Fortaleza.

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