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Centenário do artista Aldemir Martins é destaque no Anuário do Ceará 2022-2023
Vida & Arte

Centenário do artista Aldemir Martins é destaque no Anuário do Ceará 2022-2023

As ilustrações de Aldemir Martins (1922-2006), artista visual cearense de renome internacional, estampam a mais antiga publicação impressa em circulação no Ceará. O Anuário do Ceará 2022-2023 também conta com capítulo especial sobre a vida e a obra de um dos maiores nomes das artes no Estado
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Foto: Aldemir Martins em Anuário do Ceará 2022-2023 Obra "Peixe Escorpião ou Aranha (1953), de Aldemir Martins, estampa o Anuário do Ceará 2022-2023

O cearense que pedia ao pai por lápis de cor, no íntimo da infância, tornou-se o próprio instrumento. Feito lápis, Aldemir Martins (1922-2006) coloriu o mundo. Da região do Cariri, munido de imensa curiosidade, aprontou as malas rumo à utopia: fazer arte em tudo quanto for possível, mostrar arte a quem quer que fosse. Com nanquim, acrílica, aquarela, litogravura e mais possibilidades, o artista visual, ilustrador, pintor e escultor criou gatos, passarinhos e galos, peixes, rendeiras e futebolistas, violeiros e cangaceiros em mais de sete mil obras, ao longo de sete décadas de carreira. Além das galerias, seus trabalhos estamparam abertura de telenovelas, como "Gabriela" (1975), pratos, roupas, colchas, embalagens de sabonetes, brinquedos, potes de sorvetes e latas de tinta. Em meio às celebrações que destacam os 100 anos de nascimento de Aldemir, obras do cearense ilustram as 680 páginas do Anuário do Ceará 2022-2023.

Promovida pelo O POVO e realizada pela Fundação Demócrito Rocha (FDR), a publicação reúne dados e análises sobre o Estado em 14 capítulos. O Anuário também conta com um capítulo especial, de autoria da jornalista Bruna Forte, sobre o centenário de Aldemir. O guia é a mais antiga publicação impressa em circulação no Ceará, com 150 anos de história. Também tem hoje uma versão digital no portal www.anuariodoceara.com.br.

Era de se esperar que um sujeito autodidata e vanguardista, com os ideais da arte popular e acessível a todos, tivesse nascido em 8 de novembro de 1922 — ano da Semana de Arte Moderna, evento que originou um movimento artístico e político no País em prol da diversidade estética. Mas não só: o filho de Raimunda e Miguel Martins fez-se gente no distrito de Ingazeiras, a cerca de 467 Km da Capital, no município de Aurora — palavra do latim que também pode representar o amanhecer, o início de tudo, o princípio da vida.

Desde que Aldemir morreu, aos 83 anos, na São Paulo de 2006, sua filha Mariana Pabst Martins não o escuta cantarolar enquanto desenha. Das memórias, ela lembra do cheiro da tinta nanquim, dos papéis e da bronca caso encostasse na mesa. Ela e o irmão, Pedro Martins, são os guardiões da obra de Aldemir. Artista, Mariana enfatiza: "Tive privilégio de uma vida sem preconceitos. A casa era frequentada por pessoas de várias sexualidades, gêneros, credos. Ele era amigo de muita gente e lutou para popularizar sua arte, para que a arte não fosse vista como inacessível, especialmente na Fortaleza dos anos 1940". Aldemir era amigo de Antônio Bandeira, Mario Baratta e mais artistas da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap). Mariana diz: seus ideais são "mais necessários do que nunca". "O Brasil não é um país imbecil, apesar de autoridades, principalmente os que estão no poder, negarem isso e criminalizarem artistas. A arte não é só da elite, é de todos".

Pedro Martins, o primogênito, repercute a generosidade do pai, o bom humor e a inovação no mercado. "Vivia da arte e, quando era acusado de ser muito comercial, respondia que era seu ganha pão, assim como a Capela Sistina (de Michelangelo) foi encomendada". Segundo Pedro, a obra de Aldemir representa o Brasil, com "inclusão, pluralidade e atitude popular". "O objetivo dos modernistas era clamar por identidade nacional. Aldemir fez. Era um artista pós-moderno. Sua obra é uma produção além do tempo. Nosso trabalho, hoje, é que ela seja reconhecida e viva para sempre".

Para Joelma Leal, jornalista e editora-executiva do Anuário do Ceará, homenagear "um artista tão relevante e querido para nosso Estado e País" é uma alegria. Andrea Araujo, editora de arte do Anuário e gerente de Marketing e Design da FDR, comenta como "a intensa e variada paleta de cores" de Aldemir inspirou o projeto gráfico da publicação. "O artista ganha merecida homenagem. A lente multicor com a qual Aldemir compartilha sua forma de enxergar a vida transborda energia, vitalidade e beleza".

A jornalista Bruna Forte, quem assina o capítulo especial sobre o artista no Anuário, divide: "Aldemir inspirou gerações. Consagrou-se no Sudeste, mas fez-se artista ainda no Cariri, quando guardou no olhar os bordados das rendeiras, os desenhos rupestres de peixes e pássaros. O menino de Ingazeiras, que implorava ao pai por lápis para colorir, viveu da arte. Aprendeu e ensinou que todos podem ter obras ao alcance das mãos, que as mesas de jantar das famílias também são museus de histórias. Escrever sobre o artista coloriu-me os olhos. A generosidade do cearense mora na boca de cada entrevistado. Seu legado atravessa décadas, eterniza-se no hoje que também é amanhã".

A edição 2022-2023 do Anuário do Ceará é composta por 680 páginas e 14 capítulos
A edição 2022-2023 do Anuário do Ceará é composta por 680 páginas e 14 capítulos

Anuário do Ceará 2022-2023

Edição digital disponível gratuitamente em anuariodoceara.com.br

A publicação impressa estará à venda, em breve, na sede do O POVO (avenida Aguanambi, 282 - José Bonifácio, Fortaleza) e nas principais bancas e livrarias do Ceará


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