Dedilhados no violão antecedem a pronúncia das frases que abrem a faixa “Rebirth”. “Brisa fresca de um dia de verão / Ouvindo ecos de seu coração / Aprendendo como recompor as palavras / Deixe o tempo simplesmente voar”, anuncia a canção presente no álbum homônimo. Mais de 20 anos se passaram desde a primeira vez em que esses trechos foram ditos. O tempo “simplesmente voou” para a banda de heavy metal Angra.
Entretanto, vale dizer que não voou sem “ouvir os ecos do coração” de milhares de fãs espalhados no Brasil e mundo afora, que ajudaram a aumentar ainda mais o alcance do grupo brasileiro com o disco “Rebirth”, lançado em 2001. O álbum foi um marco na história da banda, que, na época, teve que lidar com a saída de três de seus integrantes - e a apresentação de outros três músicos que se juntaram ao conjunto.
Fundado pelo guitarrista Rafael Bittencourt e atualmente composto por Fabio Lione, Felipe Andreoli, Marcelo Barbosa e Bruno Valverde, o Angra foi criado com o objetivo de difundir o heavy metal no Brasil e com elementos característicos da sonoridade brasileira junto à sofisticação da música erudita. O grupo tem sucessos na bagagem como “Carry On”, “Wuthering Heights", “Nova Era” e “Rebirth”.
Neste sábado, 16, a banda se apresenta no Centro de Eventos a partir das 20 horas, dentro da turnê de celebração dos 20 anos de lançamento do álbum “Rebirth”. Os ingressos estão à venda no site Sympla a partir de R$ 50 a meia e a inteira social. O guitarrista Rafael Bittencourt conversou em entrevista para o Vida&Arte sobre as expectativas da turnê.
Se tem uma coisa difícil de fazer, para Bittencourt, é definir em apenas um sentimento o que está envolvido nessa turnê de celebração. Havia, de fato, uma "ansiedade muito grande” de reencontrar a banda após tanto tempo parado e sem “fazer música” devido à pandemia. A “saudade”, sem dúvida, também estava muito presente.
Diante do momento de retomada dos eventos presenciais na pandemia, a sensação é a de que as mensagens do “Rebirth” seguem ecoando ainda mais intensamente neste período. “O álbum fala do renascimento de uma sociedade que foi destruída, e o tema do ‘Rebirth’ é ainda mais apropriado agora do que na época, porque agora vejo essa ‘cidade’ se reerguendo e procurando encontrar esperança e o otimismo que nos foram tomados por muito tempo”, destaca.
“Passamos por um período de angústia e agora eu acho que as pessoas estão procurando se apegar a mensagens boas, à esperança e ao otimismo, renovando nossa vida em sociedade”, acrescenta. De fato, o “Rebirth” segue sendo importante para a banda, e isso continua mesmo depois de 20 anos, pois representou a “superação” do Angra depois da saída de três integrantes.
As mensagens continuam: “O ‘Rebirth’ também celebra o renascimento dos valores das pessoas. Os seres humanos hoje estão todos com algum tipo de cicatriz, algum nível de ansiedade, angústia, por causa da pandemia, além de aprendizados. Agora, tem também o renascimento da própria formação atual, que é a terceira geração do Angra. É o sucesso de estar há 30 anos na estrada e ainda lotando as casas. Então, é uma convergência de celebrações simbolizadas no álbum”.
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Nesses 30 anos de carreira, os integrantes do Angra vivenciaram diferentes momentos da indústria fonográfica - tanto no consumo quanto na produção. Com a “era dos streamings e dos algoritmos” ditando de forma intensa o ritmo de veiculação de novas obras, uma alteração marcante, para Rafael Bittencourt, é a forma como os artistas passaram a se relacionar com o público - e ele com a música.
“Hoje, cada um tem sua playlist, com as músicas que você gosta e podendo escutar em um fone de ouvido. Raramente compartilhamos momentos que são exclusivos para ouvir música. A música deixou de ser protagonista de momentos de encontro - com exceção, obviamente, dos shows. Então, isso muda muito”, relata.
A bagagem e a consolidação do Angra nos destaques da música brasileira - e internacional - fortalecem o respeito e a admiração da banda no cenário do heavy metal ao longo dos mais de 30 anos de carreira. As contribuições do grupo para o crescimento do gênero musical no País são sentidas. Então, a que ponto está hoje o estilo no Brasil? Rafael Bittencourt lembra de quando começou e aponta a qualidade das bandas atuais.
“O cenário é maravilhoso, temos bandas muito boas e a estrutura e o circuito para elas são melhores”, comenta. Ele destaca grupos formados por mulheres e como isso tem se expandido com o passar dos anos: “Existem bandas de mulheres que fazem muito sucesso, coisa que talvez não seria possível na minha época, pois o público era mais machista e conservador. Hoje, é mais ‘cabeça aberta’. O roqueiro, de modo geral, é um pouco mais conservador, mas nem se compara com o que era no passado”.
A turnê que chega a Fortaleza neste fim de semana pode até celebrar o passado, mas não deixa de olhar para o futuro. “Bebendo” da inspiração que é o “Rebirth”, com suas mensagens de otimismo e “sempre um olhar para a frente”, o Angra já tem planos para o lançamento de um novo disco. “Independentemente de quão caótica pareça a realidade, são a esperança e o otimismo que salvam. Quando perdemos isso, não conseguimos reagir e desistimos. Então, a ideia é não desistir e olhar para a frente. Inspirados nesse disco, vamos fazer um novo álbum”, argumenta o fundador da banda.
“Queremos criar um disco sobre o olhar do futuro, da esperança e de não desistir. Vamos com tudo que vivemos. Vamos mais uma vez chacoalhar a poeira e dar a volta por cima”, finaliza.
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Turnê Rebirth
Quando: sábado, 16, às 20 horas
Onde: Centro de Eventos (Avenida Washington Soares, 999 – Edson Queiroz)
Quanto: Pista: R$ 50 (inteira social e meia) e R$ 100 (inteira); Front: R$ 240 (inteira); vendas no site Sympla
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