Ele criou um dos mangás mais famosos do mundo. Mas, apesar de sua notoriedade e de um ritmo frenético de trabalho, Eiichiro Oda, o autor de "One Piece", gosta de cultivar um pouco de imprudência à imagem do herói de sua obra. O artista de 47 anos se recusa a ser chamado de "sensei" (mestre), título geralmente ligado ao nome de mangakás, e tem fama de frequentar restaurantes e hotéis caros de bermuda e chinelo, a roupa do pirata Monkey D. Luffy, personagem principal de One Piece.
"Quero que as crianças que leem 'One Piece' pensem em mim como seu irmão", disse o autor em uma rara entrevista em 2017 por ocasião do 20º aniversário da série. Mas "eu sei que tenho idade suficiente para ser tio delas... então talvez um tio engraçado e legal".
Um tratamento muito modesto para o homem, cuja obra - que narra as aventuras de Luffy, que sonha em se tornar o rei dos piratas, e sua tripulação heterogênea - rendeu-lhe a entrada no Guinness pelo "maior número de cópias em circulação da mesma série de quadrinhos do mesmo autor".
Na sexta-feira, 22, esse fenômeno cultural, que já vendeu quase 500 milhões de cópias em todo mundo, comemora o 25º aniversário do início de sua publicação - ainda em andamento - na revista japonesa Shonen Jump. O arco final dessa história, que até hoje conta com 102 volumes lançados nas livrarias do Japão, deve ser publicado a partir da próxima semana na revista.
Travesso, destemido e mais esperto do que deixa transparecer, Luffy, o pirata do chapéu de palha em busca do lendário tesouro One Piece, encarna o público-alvo do mangá, de acordo com Oda: os adolescentes. "Toda a semana me pergunto se aos 15 anos teria gostado" desse episódio, disse Oda em 2009. "O objetivo não é fazer o leitor pensar", assegurou, apresentando claramente seus trabalhos como puro "entretenimento".
Luffy está mais interessado nas aventuras do que em assuntos do coração, pois Oda considera que isso não excitaria seus fãs. "Eu sei que há muitos leitores adultos por aí agora, mas se eu alinhar muito com seus gostos, sinto que One Piece perderia seu valor", comentou.
O próprio mangaká mantém a alma de uma criança, transformando sua casa em um verdadeiro parque de diversões, com trenzinho e máquinas de pegar bichos de pelúcia, sem contar uma impressionante coleção de figurinhas e dioramas. "É como se ele fosse o próprio Luffy", disse um colaborador próximo de Oda em um programa de TV japonês.
Oda diz que vê Luffy como sua "criança ideal". "Gostaria que as crianças fossem como ele. Às vezes, diz algo que inspira a todos, mas gostaria que fosse sempre uma criança", afirmou, em entrevista ao jornal Yomiuri. Luffy "mantém um certo mistério para mim", admitiu. "É muito bom assim. Se eu soubesse tudo sobre ele, os leitores ficariam entediados".
Natural de Kumamoto, no sul do Japão, Oda entrou no mundo ultracompetitivo dos mangás aos 17 anos, quando seu primeiro trabalho "Wanted!" venceu um prêmio da revista Shonen Jump.
Sua carreira então experimentou ventos contrários e vários fracassos. Mas Oda tinha apenas 22 anos quando a publicação de "One Piece" começou, inspirado em parte por seu fascínio pelo desenho animado teuto-austríaco-japonês "Vic the Viking".
Workaholic, conhecido por dormir apenas algumas horas por noite, Oda confia pouco em seus assistentes e desenha quase todos os personagens e objetos sozinho. E, se ele relaxou com o tempo, sua paixão permaneceu intacta. "Para mim, desenhar mangá é um hobby", explicou em 2017. "Não me estressa, então tenho certeza de que nunca vou me matar no trabalho".