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Vocalista do Selvagens À Procura de Lei, Gabriel Aragão lança primeiro EP solo
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Vocalista do Selvagens À Procura de Lei, Gabriel Aragão lança primeiro EP solo

No primeiro álbum de sua carreira solo, Gabriel Aragão discute sobre solidão, luto, morte e relacionamentos durante a pandemia
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Cantor e compositor cearense Gabriel Aragão lança o EP
Foto: Murilo Amancio/ Divulgação Cantor e compositor cearense Gabriel Aragão lança o EP "ABRECAMINHOS", primeiro de sua carreira solo

Durante o período mais crítico da pandemia de Covid-19, ainda sem vacinas à disposição, Gabriel Aragão estava em São Paulo (SP). Com um filho recém-nascido e precisando passar por isolamento social, a saudade não saía de perto do músico cearense. Uma saudade tanto do convívio com a família e os amigos, mas também de um cenário em particular: o mar.

Na selva de concreto paulista, a visão que tinha era de grandes prédios e pouca luz do sol a preencher seu apartamento. Mais que "sobre o mar", mas "através do mar", parecia inevitável falar desse conceito que o acompanhou ao longo de sua vida. Em "ABRECAMINHOS", seu EP, o mar se torna elemento importante para a ponte de mensagens que o cantor e vocalista da banda cearense Selvagens À Procura de Lei abraça em seu trabalho solo.

Composto por quatro faixas, o EP apresenta visões do músico sobre a solidão, o luto, as (re)construções de relacionamentos durante a pandemia e reflexões sobre o tempo e a mortalidade. Paul Ralphes assina a produção da obra, que também conta com parceria da cantora mineira Roberta Campos e videoclipes que ajudam a tornar o trabalho um "álbum visual". "ABRECAMINHOS" está disponível nas plataformas de streaming.

O nome do EP mostra um processo que vem se desenhando para Gabriel há algum tempo: o de olhar para si e de ter uma visão mais aberta para a espiritualidade. Nesse sentido, o mantra "abrir caminhos" o ajuda a "seguir forte" e poder "seguir em frente" diante das adversidades. A trajetória começa com a faixa "Onda", que se funde à canção "Toca o Barco" em arranjo com elementos de "Dia Cheio", música que encerra o trabalho.

A produção também foi uma oportunidade de abrir caminhos para compor com outras pessoas, como Roberta Campos em "Se Você Quiser". O conceito de maré se solidifica com o "poder de renovação" dos "ciclos das águas" sentido nas faixas.

"Eu achava que só ia fazer uma carreira solo no dia que o Selvagens acabasse, porque nunca gostei muito da ideia de dividir forças. Mas, ao longo dos anos, isso foi fazendo muito sentido para mim", diz.

As músicas foram marcadas por diversos contextos - o principal deles talvez tenha sido o isolamento obrigatório causado pela fase mais crítica da pandemia. Uma das faixas, porém, remonta a um tempo anterior ao da crise sanitária. "Toca o Barco" foi inicialmente composta após o falecimento do jornalista Ricardo Boechat, em 2019.

O músico lembra de como o profissional terminava suas transmissões na Band News FM com a frase que intitula a canção. Os sentidos que a música traria no começo, porém, foram alterados a partir de sua morte.

"Quase que a música entrava no 'Paraíso Portátil', mas acabei guardando. Eu queria muito fazer uma canção com essa frase enquanto ele estava vivo, mas depois que ele faleceu se tornou uma música de luto, e o fato de ter sido gravada na pandemia aumentou ainda mais isso", compartilha.

Os versos "Quando você foi embora / Nasceu uma cicatriz em mim / Me perguntei: "Meu Deus, e agora? / Não quero mais ficar aqui" ajudam a contar a história da faixa. Diante das dificuldades vindas do isolamento e da solidão de um tempo pandêmico, com as memórias de seus familiares e de sua terra natal chegando a todo instante, falar sobre o que estava sentindo foi um caminho natural que se abriu para Gabriel Aragão em seu EP.

A música não foi seu único refúgio, já que também pôde escrever um livro de poesias para abarcar seus sentimentos. As ondas de inspiração que o atingiram vieram, então, de diferentes formas. "Acho que todo artista deve falar a mesma coisa: 'Durante a pandemia eu criei muita coisa sobre a pandemia', introduz.

Ele acrescenta: "Cada um de nós tem as suas próprias impressões. Eu pude escrever um livro de poesias também, e a maioria das poesias falam sobre política e pandemia. Trazendo para a música, o que eu vejo é que é um EP bem calmo, tranquilo e reflexivo", pontua.

O lançamento foi há pouco tempo, mas Gabriel já tem em mente pelo menos duas apresentações de "ABRECAMINHOS", sendo uma em São Paulo em setembro e outra em Fortaleza, em dezembro. O show se chamará "Mar Sem Fim" e, além das suas músicas, terá "um pouquinho de Dorival Caymmi e de Elza Soares, mas sempre com o mar presente como metáfora". Além disso, já está produzindo seu primeiro disco solo, previsto para estrear em 2023. "Estou terminando meu primeiro disco solo e estou aprendendo. Não tenho a resposta certa sobre como é dividir ou como vai ser, mas eu descobri na carreira solo agora um reencontro comigo mesmo, de quando eu comecei no Selvagens. É uma espécie de recomeço, de alguma forma".

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Faixa a Faixa

Onda

"Eu tive muita experiência com música instrumental quando fiz a trilha sonora para o filme "Malhada Vermelha", e durante esse processo conheci o Felipe Pacheco Ventura. Eu expliquei o conceito do EP para ele e disse que queria criar um arranjo com ele. Eu queria muito uma introdução para 'Toca o Barco', mas que partisse do finalzinho do arranjo de 'Dia Cheio'. Então, pegamos um pouco da harmonia de 'Dia Cheio' e misturamos com o primeiro acorde de 'Toca o Barco'. Essa faixa se chama 'Onda' porque eu queria que esse fosse um EP cíclico"

Toca o Barco

"É uma canção que nasceu da minha admiração pelo jornalista Ricardo Boechat. Eu queria muito escrever algo chamado "Toca o Barco", porque adorava essa frase, e isso antes dele falecer. Depois que ele morreu, acabou se tornando uma canção de luto, só que, como foi gravada durante a pandemia, ganhou outros contornos, de algo muito maior. É uma música de luto. Todo mundo conhece pessoas que perderam entes queridos na pandemia. Então, acho que é essa 'pedrada' do luto do ponto de vista de quem ficou".

Se Você Quiser

"É a minha primeira parceria como coautor fora da 'bolha' do Selvagens, em um estilo de composição em que um começa e o outro termina. É muito legal porque abre o leque de possibilidades do que um queria dizer no começo e do que de fato a música acaba dizendo no geral. A Roberta Campos foi muito generosa comigo, me mandou o primeiro trecho da faixa e eu pude completá-la a bel prazer. Acho que essa junção deu um sabor agridoce para a música".

Dia Cheio

"O título resume bem o que ela representa. É uma reflexão nesse contexto de pandemia sobre a própria mortalidade, sobre o valor de que está ao seu lado - sejam amigos ou a família - para seguir em frente. Acho que, se não fosse isso, ninguém teria conseguido suportar o peso da pandemia. 'Dia Cheio' conclui bem o EP. Em 'Toca o Barco', é o luto, a visão de quem ficou e perdeu alguém. 'Se Você Quiser' traz o lado de quem era casal durante a pandemia e passou por essa crise. 'Dia Cheio' é a reflexão sobre a própria mortalidade. Acho que foi bem desenhado o conceito de canções atravessadas pelo mar, mas com começo, meio e fim".

Capa do EP
Capa do EP "ABRECAMINHOS", de Gabriel Aragão

ABRECAMINHOS

Onde ouvir: www.ingroov.es/abrecaminhos

Acompanhe o artista: @gabrieloaragao no Instagram

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