A história de Fortaleza está entrelaçada à sua tradição literária. Além do imaginário da Capital ser permeado por escritores brasileiros, esse aspecto cultural também toma conta dos espaços físicos da Cidade. Basta prestar atenção nos nomes de suas principais ruas e avenidas: Domingos Olímpio, Antônio Sales, Leonardo Mota, Raimundo Girão e Paula Ney. Eles foram autores que integraram a cena da literatura cearense e que, em vida, deixaram obras importantes para as próximas gerações. Uma dessas pessoas, que recebeu uma homenagem do lugar que adotou como lar, foi Rogaciano Leite (1920 - 1969). O poeta, cantor, escritor e jornalista brasileiro é um desses artistas que fizeram grandes contribuições para a cultura e que tem seu legado repercutido por meio de um projeto de preservação de seu trabalho.
Nascido na Fazenda Cacimba Nova, em Itapetim, saiu da casa paterna ainda adolescente para divulgar sua poesia em outras regiões brasileiras. Passou primeiro por Caruaru, onde tornou-se apresentador de rádio, e seguiu para Fortaleza. Na capital do Ceará, casou-se, formou uma família e transformou a nova Cidade em uma moradia. Por isso, pode ser considerado um escritor pernambucano com alma de cearense. Em sua trajetória, escreveu várias obras famosas, entre letras de música e poemas. Uma dessas produções é "Carne e Alma", que ganhou nova edição pela Editora Imeph e que contará com evento de lançamento nesta quarta-feira, 10 de agosto, na Biblioteca Pública Estadual do Ceará.
A iniciativa terá apresentação de Helena Roraima Leite, filha de Rogaciano Leite, e de Lucinda Azevedo, diretora da editora Imeph. Além disso, a ação contará com recital de poesia e música - algo semelhante ao que ocorreu em junho de 1951, quando o livro obteve uma comemoração de lançamento na casa de Juvenal Galeno. Naquela época, autoridades, intelectuais e representantes da sociedade civil se reuniram e aproveitaram apresentações musicais e recitação de poemas. Agora, em 2022, suas letras serão musicadas por Silvio Caldas, Denis Brian, Socorro Lira, Wanda Cunha e outros.
A nova edição do livro preserva as características da primeira publicação de sete décadas atrás. "Preservamos a versão original de 1950, separando-a com ilustrações de Maurício Negro, incluimos a capa da primeira edição, as orelhas e contracapas das 1ª e 3ª edições, a relação das outras obras publicadas e fotos da época. Na orelha do livro, há um texto belíssimo de Rogaciano Leite Filho que constou da 3ª edição (1988) e um texto meu, introdutório, o qual reverencia as datas comemorativas e agradece ao povo de Santos, que trouxe, para a realidade gráfica e documental do livro, esta obra que ficou para toda a vida, passada de mão em mão, como uma relíquia", afirma Helena Roraima Leite.
A obra, dividida em três partes - "Poemas Sertanejos", "Versos a Esmo" e "Lianas Amazônicas" -, atravessa os sentimentos de saudades de uma vida sertaneja, o romantismo presente em seu coração e a relação com o tempo. Para a filha, os poemas humanizam o ser humano. Para o pai, a visão é semelhante: "A poesia tem sido, do ponto de vista histórico, político e social, uma formidável arma de combate e defesa. Do ponto de vista estético e espiritual tem sido a expressão da Arte na mais sublime tarefa de aperfeiçoamento, contribuindo, em todas as épocas e entre todos os povos, para o desenvolvimento da civilização. Sem ela (falo em tese), o mundo se tornaria um caos e a alma humana perderia sua finalidade".
Mas "Carne e Alma" não será o único trabalho de Rogaciano Leite que será divulgado para as gerações atuais. Helena Roraima Leite ressalta seu compromisso em publicar todas as obras dele. "Pretendo disponibilizar ao público suas ricas produções, que são verdadeiras obras-primas. A primeira a sair ainda este ano é 'Coração Sertanejo', que é uma coletânea de poesias inéditas e outras publicadas em jornais antigos, fotos e recortes de jornais, na qual costuramos a trajetória dele dividida em 16 partes, além de uma destinada a poemas e depoimentos em sua homenagem", explica.
Outros conteúdos também estão na fila para os próximos meses e anos. Entre eles, haverá o processo de organização e produção dos livros que contêm as séries de reportagem que ganharam o Prêmio Esso, premiação que perdurou durante seis décadas e que foi considerada a mais importante na área jornalística. Ainda não há, entretanto, previsão para as datas de lançamento.
Segundo Helena, preservar a memória de Rogaciano Leite é importante para que os brasileiros compreendam a importância do escritor para a cultura e para a imprensa do País. "É importante porque Rogaciano Leite é um dos maiores nomes da literatura brasileira, porque ele era um gênio, capaz de improvisar durante duas horas 18 sonetos seguidos com motes dado pela plateia, por ser pioneiro em tudo que se propôs fazer. Foi um homem além do seu tempo, que revolucionou a cultura popular, elevando-a a patamares nunca vistos e que, merecidamente, pela sua beleza e riqueza de versos, como dizia, deveria estar nos palcos dos teatros, nas antologias e na academia", defende.
Lançamento de "Carne e Alma"
Quando: quarta-feira, 10 de agosto, às 18 horas
Onde: na Biblioteca Pública Estadual do Ceará (avenida Presidente Castelo Branco ou avenida Leste Oeste, 255 - Centro)
"Carne e Alma", de Rogaciano Leite
264 páginas
Editora Imeph
Preço médio: R$60
Onde encontrar: site da editora Imeph ou na Amazon
Mais informações: rogacianoleite.com.br
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