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Humor Cearense: O princípio do humor no Brasil
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Humor Cearense: O princípio do humor no Brasil

Vida&Arte percorre um pouco da história do humor no Brasil e aborda nomes importantes para o cenário artístico, como Paula Nei e Leonardo Mota
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O bode Ioiô está empalhado no Museu do Ceará, atualmente fechado para obras (Foto: Felipe Abud / Divulgação)
Foto: Felipe Abud / Divulgação O bode Ioiô está empalhado no Museu do Ceará, atualmente fechado para obras

O município cearense de Aracati, conhecido por suas paisagens naturais de dunas e falésias, tem o trunfo de ser a terra natal do primeiro humorista brasileiro. Essa tese é defendida por Jader Soares, autor do livro "Paula Nei: o primeiro humorista brasileiro"; e por Chico Anysio, que assina o texto de apresentação da publicação.

Francisco de Paula Nei — o Paula Nei — nasceu numa terça-feira, no segundo dia de fevereiro, em 1858, na Vila de Aracati, a cerca de 150 quilômetros de Fortaleza. Poeta, jornalista e boêmio, ele foi contemporâneo de Capistrano de Abreu, Olavo Bilac, Aluísio Azevedo e Coelho Neto. Filho do alfaiate Mariano de Melo Nei e da dona de casa Carlota Cavalcanti de Sousa Pinheiro, ele era conhecido por ser uma criança inquieta.

Em Fortaleza, Nei estudou no Ateneu Cearense, no Seminário de Fortaleza e no Liceu Cearense. Conta-se que o menino fazia graça e tinha respostas rápidas para qualquer questionamento. Aos 18 anos, foi morar no Rio de Janeiro, então capital do Reino do Brasil. Estudou Engenharia e Medicina. Desistiu de ambos os cursos. Sua passagem pela Engenheira parece ter durado apenas um dia. Numa aula de cálculo, o professor abarrotou dois quadros com números, letras gregas e operações matemáticas. Ao fim, depois de uma hora, tudo aquilo havia resultado a zero. Ao notar o contraponto, Paula Nei disse: "Quer dizer que o senhor, professor, passou uma hora gastando giz nestes dois quadros, para no final dar em nada… Igual a zero… Sinto muito! Eu desisto".

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Segundo o historiador Jader Soares, ele era tão apaixonado pelo Ceará, que dizia: "Pelo Brasil, sou capaz de morrer; pelo Ceará, sou capaz de matar". O soneto com os dizeres "Fortaleza, a loira desposada do Sol" é de Paula Nei. Aos 39 anos, o intelectual morreu na capital carioca, em 13 de outubro de 1897. Essa história está documentada no livro "Paula Nei: o primeiro humorista brasileiro". A publicação pode ser adquirida no Museu do Humor Cearense (avenida da Universidade, 2175 - Benfica), a R$ 35.

Jader considera que, no Ceará, há uma "tríade de precursores do humor". São eles: Paula Nei, Quintino Cunha (1875-1943) e Leonardo Mota (1891-1948). Paula Nei e Quintino Cunha contavam anedotas, eram conhecidos por fazer graça e inventar histórias.

Paula Nei não chegou a publicar textos contando causos. Quintino Cunha lançou livros, mas com destaque para outros gêneros da literatura. "Nada com piada", diz Jader. "Outros autores que escreveram livros contando os causos do Quintino, sendo o mais notado o filho dele, Plautus Cunha, que lançou diversos livros contando causos do pai".

Leonardo Mota, que pesquisava a cultura nordestina, chegou a escrever textos e explorar o cordel. Ele é autor do livro "Cabeças-chatas", em que cita Paula Nei e Quintino Cunha. Coelho Neto, amigo de Paula Nei, dedica o livro "Fogo Fatuo" ao cearense. Essas são algumas das fontes de pesquisa de Jader para o livro dedicado ao primeiro humorista brasileiro.

Eis uma curiosidade! Em Fortaleza, a rua Leonardo Mota, no bairro Aldeota, cruza a rua Paula Ney, bem próximo à Praça das Flores. "Paula Nei parava a Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro. Se destacava no fazer graça, era um ativista social pela abolição da escravidão. Era o cara que melhor se compreendia como humorista. Contava piadas nos cafés, nos restaurantes, ali entre amigos ou desconhecidos", explica Jader Soares.

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No OP+, os leitores podem encontrar o Almanaque do Humor, que reúne os nomes de 140 humoristas que integram o cenário artístico do Ceará. Parte da pesquisa foi concedida pelo historiador Jader Soares, diretor do Teatro Chico Anysio e do Museu do Humor Cearense.

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