Memória ao mesmo tempo íntima e coletiva, em imagem e palavra. É nessa base que nasceu e se perpetua a comunidade do Poço da Draga. É também por ela que surge "Poço 115 - Um Álbum Imaginário", fotolivro construído em conjunto por Felipe Camilo e Álvaro Graça Jr. Destacando a história do território litorâneo da Capital cearense, o projeto — que se desdobrou ainda em exposições e outras audiovisuais — parte de arquivos pessoais de moradores para formular reflexões sobre pertencimento, vizinhança e narrativa. A publicação ganha lançamento nesta quinta, 11, às 18 horas, na Biblioteca Pública do Estado do Ceará.
A gênese do movimento veio a partir da pesquisa de doutorado de Felipe no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC, que resultou na tese "Comunidade Visível: Narradores de Imagens e Memórias do Poço da Draga". "Essa desculpa, porque eu chamo de desculpa (risos), me permitiu construir uma amizade com Álvaro e ela foi a base para a pesquisa em torno dos álbuns de família dos moradores do Poço", explica.
"Eu e Camilo nos conhecemos já vai fazer seis anos e sempre tive vontade de fazer um livro falando um pouco da história do Poço. Com nossa relação e sintonia boa, consegui realizar esse sonho", compartilha Álvaro, nascido e criado na comunidade. Antes do livro, porém, a pesquisa de memória ganhou outros formatos, incluindo intervenções urbanas, obras em audiovisual, perfil no Instagram e exposição virtual e presencial.
"À medida que eu ia conhecendo as pessoas — porque o Álvaro já conhecia todo mundo — e a gente ia conhecendo os acervos fotográficos, ia também sistematizando e pensando em maneiras de como ativar esse arquivo", explica Felipe. "A gente tem um arquivo informal, não é de instituição nenhuma, que existe na medida em que a gente vai atualizando ele em fotolivro, vídeo, exposição. Ele é vivo e existe por um bocado de gente envolvida", avança.
Os acervos que foram base para as "sistematizações" destacam inúmeros aspectos que compõem o Poço da Draga, da relação específica de vizinhança ali aos anos de trajetória do time da comunidade, o Brasileirinho Futebol Clube, passando pela contribuição memorialística essencial de Ivoneide Gois, a "vizinha que tinha uma câmera e fotografava os aniversários" das crianças nos anos 1980 e 1990.
"É muito potente tanto ouvir esses narradores, como também perceber que é uma experiência de vizinhança em torno dessas imagens. É muito importante pensar que existe uma afirmação e luta dos moradores por reconhecimento do valor simbólico, político, cultural do Poço da Draga para a memória de Fortaleza, da formação da cidade", segue Felipe.
"Os esforços políticos para marcar presença no campo da memória da cidade dizem muito sobre as lutas das populações negras. O apagamento colonial aconteceu — acontece — e existem estratégias de conservação de memória que devem ser louvadas. O Poço da Draga é um desses lugares", afirma. "No livro, a gente não consegue colocar tudo que a gente quer, né? Se a gente fosse colocar tudo, renderia mais de duzentas, trezentas páginas, só de história do Poço da Draga", garante Álvaro.
Lançamento do fotolivro "Poço 115 - Um Álbum Imaginário"
Quando: quarta, 11, às 18 horas
Onde: Sala multiuso da Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Av. Leste Oeste, 255, Centro)
Gratuito
É necessário apresentar passaporte de vacinação e documento oficial com foto
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