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Prestes a viver Eike Batista, Nelson Freitas fala sobre novos projetos
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Prestes a viver Eike Batista, Nelson Freitas fala sobre novos projetos

Prestes a interpretar nos cinemas o empresário Eike Batista, ator e humorista Nelson Freitas fala sobre preparação, novos projetos e o momento atual de sua carreira
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Ator e humorista Nelson Freitas tem mais de 35 anos de carreira, acumulando passagens pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (Foto: Ricardo Fasanello/Divulgação)
Foto: Ricardo Fasanello/Divulgação Ator e humorista Nelson Freitas tem mais de 35 anos de carreira, acumulando passagens pelo teatro, pelo cinema e pela televisão

Fosse no teatro, na televisão ou no cinema, Nelson Freitas conseguiu construir ao longo de seus mais de 35 anos de carreira um forte lado em sua profissão: a versatilidade. Para o ator, ficar “parado” em um único segmento não é o ideal: é preciso estar “sempre fazendo de tudo”, se “arriscando” e se “desafiando”. Não à toa, então, acumula passagens por novelas, musicais, filmes e programas televisivos.

Em um desses, por sinal, caminhou por longo tempo no humor: o “Zorra Total’, em que interpretou diversos personagens de 2001 a 2015, como Carretel e Leozinho. Recentemente, porém, tem dedicado sua atuação para outras vertentes. O cinema é uma delas, e Nelson viverá nas telonas o empresário Eike Batista no filme “Eike - Tudo ou Nada”, previsto para estrear em 22 de setembro.

Em 2020, teve seu contrato com a Globo encerrado. Atualmente, mora na Austrália, mantém um canal no YouTube e também organiza um podcast de entrevistas. Entretanto, não para por aí: Freitas tem participação prevista em outros longas - sendo um deles o filme de ação, “Tração” - e na série “El Presidente”.

Em entrevista exclusiva ao Vida&Arte, o ator e humorista conversa sobre sua preparação para viver Eike Batista nas telonas, a vida na Austrália e projetos em andamento.

O POVO: Você interpretará nos cinemas o Eike Batista. Como foi a preparação para esse papel? Que camadas da personalidade dele você conseguiu perceber ao longo desse processo?
Nelson Freitas: Foi um desafio e tanto, sobretudo porque ele não é uma criação aleatória, ele está aí. É uma interpretação de um personagem que nos é contemporâneo e não dá para inventar muito. É uma personalidade controversa e rica, não só pelo que acumulou financeiramente, mas pelo que ele é e pelo que viveu. Minha posição é fio da navalha. Foram dois meses de preparação e me debrucei em uma quantidade imensa de vídeos e entrevistas que tínhamos à disposição. Procuramos fugir do estereótipo da imitação ou qualquer coisa que transparecesse isso.

O POVO: Existe um movimento no mercado internacional de atores que têm grande reconhecimento na comédia e ultimamente têm participado de filmes e produções mais voltadas ao drama. Quais são os desafios de realizar essa mudança e o que mais instiga você a querer seguir nessa vertente?
Nelson: São 35 anos de carreira sempre fazendo de tudo, me arriscando, me desafiando. Fiz dezenas de musicais, que são uma classe de artistas diferenciados, com uma disciplina e dedicação fora do padrão. Fiz inúmeras novelas e filmes, mas o humor me puxou com uma força tamanha que acabou impulsionando minha carreira, e me fazendo ser conhecido como comediante. Mas a vontade de contar histórias e de viver personagens mais densos retomou seu lugar, e tem sido muito bom e relevante para mim estar fazendo tantos trabalhos no cinema como agora.

O POVO: Você se mudou para a Austrália após anos vivendo no Brasil e com grandes projetos realizados no País. O que motivou essa mudança e quais passos você imagina que conseguirá dar em sua carreira a partir dessa vivência em um outro país?
Nelson: É um ano meio ano sabático, que tem um objetivo: me aprimorar na língua inglesa e estar preparado para esse novo mundo do streaming, com tantas produções acontecendo e o intercâmbio intenso de atores, diretores e produtores. O mundo está cada vez menor e as oportunidades estão cada vez maiores. Mas minha motivação maior mesmo foi poder estar perto da minha filha Gabriela e do meu neto Felipe, que já está com 18 anos. Eles moram aqui há 16 anos. A pandemia atrapalhou nossos planos de vir vê-los. Nós já frequentamos a Austrália há 16 anos e, dessa vez, decidimos ficar mais tempo com eles.
É um sonho o que estamos vivendo. Aqui é tudo muito organizado, tudo funciona e você vê o retorno dos impostos, o povo é alegre e acolhedor, e como a população é pequena em comparação ao Brasil, é mais fácil de manter, educar e controlar, e também é um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza… Mas vamos voltar para o Brasil. Nossa família vai aumentar! Vamos ser avós de novo! Dessa vez, da nossa mais nova, a Paulinha e também tem o lançamento do filme Eike Tudo ou Nada.

O POVO: Você conseguiu se adaptar rapidamente à Austrália? Quais são as diferenças do mercado audiovisual australiano para o brasileiro?
Nelson: Não foi muito difícil porque, como falei anteriormente, já frequento o país há muitos anos. Mas o mercado audiovisual aqui é diferente. Primeiro, eles não são muito de novelas. Para falar a verdade, só tem duas, e são longas. Uma delas tem mais de 10 anos no ar. Tudo fica concentrado em séries e filmes - aliás, aqui estão os maiores estúdios de Hollywood fora de Hollywood. Centenas de blockbusters foram filmados aqui e nem sabemos. Mas, de uma maneira geral, o mercado está superaquecido e grandes players estão investindo pesado na indústria.

O POVO: Com essa moradia em um país que tem outro mercado no audiovisual, você tem mais liberdade para atuar em outros projetos de seu desejo?
Nelson: Sem dúvida, mas ainda tenho um caminho pela frente. É preciso estar afiado na língua inglesa, criar o networking, e tentar não ficar restrito ao regionalismo. É meio que começar do zero. Mas um passo depois do outro. Enquanto tem bambu, tem flecha (risos).

O POVO: Na sua carreira, você teve uma presença muito forte dentro do humor, principalmente na TV Globo, quando falamos do "Zorra Total". Como você observa o modo de fazer comédia na televisão ao longo desses últimos anos? Houve muitas mudanças em relação ao período em que você esteve no Zorra?
Nelson: O cenário é bem desafiador e de “reaprendizados”. As coisas grosseiras e preconceituosas não são mais engraçadas. Precisamos mudar, mas não podemos perder o espaço do humor, porque ele é fundamental. Então, temos que nos adequar. Nós conhecemos uma sociedade pela maneira como ela ri - e do que ela ri. Às vezes, as coisas que assistimos pela internet, de outros países, não nos fazem muito sentido e vice-versa - mesmo aqui as regiões têm características diversas, coisas que funcionam no Nordeste não tem o mesmo efeito na região Sul. Porém, mais do que nunca, é preciso rir. É uma pena que não temos mais tantos programas de humor na grade. Estamos vivendo uma transformação definitiva e irreversível, um renascimento.

O POVO: Você também manifesta outras vertentes quando o assunto é empreendedorismo, a exemplo da série educativa "Télos". Como tem sido, para você, conciliar projetos de diferentes áreas?
Nelson: O “Telos” foi uma boa surpresa. Um convite do Thiago Oliveira, que fez “Chiquititas” comigo há 25 anos atrás. Hoje, diretor conceituado, que me propôs o desafio. Como eu sempre estive ligado ao assunto educação, achei que poderia dar minha contribuição e o produto é ótimo. Nesse momento da vida, o que importa é estar alinhado com propostas relevantes.

O POVO: Atualmente, está em pré-produção o filme "A Parada", da Globo Filmes, uma comédia road movie. Quais são os detalhes desse projeto e o que significa para você participar dele mesmo estando muito distante fisicamente do país de origem da produção?
Nelson: O projeto é um sonho antigo do diretor e produtor Marcelo Martins, meu parceiro de muitos anos. O filme terá a batuta do craque José Lavigne, com a supervisão do mestre Cacá Diegues, que adorou o projeto. Mas como tudo é muito lento em se tratando de cinema, a expectativa é conseguir abrir a câmera no meio do ano que vem. A talentosíssima produtora Joana Henning da Escarlate Filmes abraçou a causa e o filme vai sair finalmente.

O POVO: Atualmente, você mantém um canal no YouTube e consegue expressar diferentes facetas suas, como o canto. Como tem sido para você essa experiência e como se sente ao poder manifestar outros talentos seus para além da atuação?
Nelson: Um aprendizado atrás do outro. Cheguei já tarde nesse universo on-line e ainda estou tentando entender a ferramenta. Pensei em como poderia levar para o público que gosta do que eu faço algum tipo de conteúdo que trouxesse leveza e motivação, pois, afinal, eu estreei no meio da pandemia. Comecei cantando e falando sobre música, fizemos o quadro `Pessoas incríveis e extraordinárias´, que foi muito bem aceito, onde conversei com famosos e anônimos, que passaram por situações limites e conseguiram a força e a resiliência para dar a volta por cima. Passaram por lá os atores e meus amigos Felipe Camargo, André Ramiro e Raul Gazolla, entre outros. Com esse quadro, quis motivar pessoas e mostrar exemplos de quem superou grandes dificuldades. Também tem o podcast "Embaralha e Dá de Novo", que faço com o André Dessandes e a Fernanda Loureiro. Apesar de termos interrompido temporariamente o processo de criação e produção por conta da minha viagem, nós continuamos a enxergar esse projeto muito positivo e longevo. Já estamos preparando o terreno para quem sabe colocar no palco, que era a ideia original, mas a pandemia atrapalhou e acabamos fazendo o podcast primeiro

O POVO:. São mais de 30 anos de carreira com projetos em diferentes âmbitos artísticos. Ainda falta algo que você deseja conquistar?
Nelson: O mundo está cada vez menor com a internet e com as plataformas de streamings. Tenho muita vontade de trabalhar com produções internacionais e, ao mesmo tempo, divulgar o imenso manancial cultural que temos no Brasil. Temos potência para muito mais no cinema e no audiovisual planetário. Produzir conteúdo nacional, de grandes estrelas da nossa literatura e dramaturgia, em língua inglesa, e espalhar essa diversidade e criatividade única, dessa mistura de quem somos e o quanto o mundo precisa de nós, da nossa graça, da nossa bossa, do nosso melhor.

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