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Inquieta Cia. de Teatro comemora 10 anos com espetáculo "Tchau, Amor"
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Inquieta Cia. de Teatro comemora 10 anos com espetáculo "Tchau, Amor"

Espetáculo mistura referências que vão de Julio Cortázar à música brega para refletir sobre diferentes formas de relações
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Inquieta Cia. de Teatro comemora 10 anos com espetáculo
Foto: Jamille Queiroz / divulgação Inquieta Cia. de Teatro comemora 10 anos com espetáculo "Tchau, Amor"

"Eu vou embora". A frase foi disparadora na construção do novo espetáculo da Inquieta Cia. de Teatro, que completa 10 anos em 2022. Com direção e texto de Andreia Pires e, em cena, Gyl Gyfonni, Melindra Linda, Geane Albuquerque e Well Fonseca, "Tchau, Amor" agrega referências, reflexões e extravasamentos para pensar as permanências e movimentos das relações. A peça estreia hoje, 3, às 20 horas, no Teatro Dragão do Mar, seguindo em cartaz aos sábados e domingos de setembro.

"A gente queria muito refletir sobre quem vai e quem fica na vida, no mundo, nas coisas, nas relações", explica Andreia. De partida, o espetáculo se passa em um bar ocupado por quatro personagens: A Dona, O Seresteiro, O Garçom e A Cliente. Os arquétipos e o local foram consequências do processo espontâneo e lento de criação da obra. "Nós fomos nos encontrando inicialmente sem ter roteiro definido e sem saber onde iríamos chegar, mas com jogos, exercícios e propostas ligadas ao argumento inicial a gente encontrou 'Tchau, Amor' pouco a pouco, a cada ensaio", contextualiza.

Nessa construção, diversos aspectos e inspirações foram se reunindo para resultar no espetáculo, incluindo a fisicalidade e os sentimentos do próprio elenco, como divide Gyl. "Trabalhamos partindo de nossos corpos, e a partir da proposição de jogos com narração e movimentos físicos fomos chegando a uma dramaturgia autoral. Com esses estímulos, acredito que foram aparecendo memórias e sentimentos que nos entranham, e que estão em entrelinhas das personagens", credita o ator.

Ao agregar o livro "O Jogo da Amarelinha", do argentino Julio Cortázar, à experiência de construção coletiva da peça, o grupo foi moldando a forma de "Tchau, Amor". Na obra de Cortázar, o autor propõe um percurso não-linear pelos capítulos, conclamando a agência de quem lê.

"Esse procedimento nos inspirou na construção e organização das cenas. É como se a primeira fosse o final da peça e, no meio, acontece o início da relação entre os personagens. O livro foi um dos caminhos de inspiração principalmente pelo modo labiríntico que propõe", avança a diretora.

O convite à criação conjunta também surge em "Tchau, Amor", endereçado à plateia. "Tem uma relação de troca e de olhar ao público que a gente vai construindo ao longo do trabalho com a quebra da quarta parede, uma abertura de caixa cênica que se expande para ele", adianta Andreia.

"Acredito numa plateia que gosta do teatro e de se surpreender com o que ele pode ser. Como artista e público, ando muito interessado pelo acontecimento e pela aventura. 'Tchau, Amor' é uma peça para se aventurar junto", instiga Gyl. "O principal jogo que nos interessa é a relação. É o estar junto, é a convivência, é questionar sobre que relações eu vivo, em que relações eu estou, onde eu estou. Tem um jogo um pouco existencial dentro dessa busca", dialoga Andreia.

"Existe uma codependência entre as personagens e, a gente espera, os questionamentos delas também vão se dar na relação com o público: continuidade, existência, dificuldade de sair e entrar nas relações. Há uma relação interna que se expande ao externo, gerando um ciclo que passa de um lado pro outro, como uma costura entre o público e o palco", afirma.

Essa relação de troca é reforçada, segundo Andreia, pela escolha de agregar diferentes referências que se ligam à reflexão central do espetáculo — do cancioneiro "brega" à dança contemporânea —, ativando distintos níveis de identificação com quem assistirá. "Há na peça referências que trazem o campo das relações, das convivências, para as pessoas irem fazendo suas diversas associações. As referências não tematizam o trabalho, mas abrem portas para a imaginação e para levar a plateia a construir", explica a diretora.

As relações destacadas em "Tchau, Amor", enfim, vão das internas do coletivo — cujo marco de 10 anos de trajetória é celebrado com o novo espetáculo — às das personagens da obra, passando pelas trocas com o público. Todas, destacam Gyl e Andreia, altamente necessárias após o período de afastamento nos momentos mais graves da pandemia. O distanciamento se impôs, mas a possibilidade de reencontro dá a tônica da peça.

"As personagens têm uma forte codependência entre si e ao espaço que ocupam, algo que nossa sociedade fragiliza, ou desestimula, e que 'Tchau, Amor' recorda: estamos aqui juntas e juntos, fazemos esse agora, esse bar, esse mundo", compara Gyl. "Construir essa peça reativa nossa existência nessa cidade, País, e reaviva nossa vida nesse momento. O que fazemos como artistas, na contramão de tantas coisas, tem uma importância única para nós, e é ela que a gente quer compartilhar com as plateias. A gente entra e sai dessa sabendo que o nosso presente e futuro é inquietar", conclui o ator.

Tchau, Amor

Quando: sábados e domingos de setembro, às 20 horas
Onde: Teatro Dragão do Mar (rua Dragão do Mar, 81)
Quando: R$30 (inteira) e R$15 (meia)
Vendas: bilheteria do Teatro Dragão do Mar e plataforma Sympla

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