"No reisado se a gente fazia uma promessa para os santos Reis do Oriente, se fosse válido, aí enquanto fosse vivo tinha de manter aquela cultura viva", declara o mestre Antônio Luiz de Souza, natural de Potengi e que mantém a tradição do Reisado de Caretas. Há quase 20 anos, os mestres cearenses foram reconhecidos como guardiões da cultura, passando a receber proteção do Estado por meio de suporte financeiro mensal. Em homenagem a esses artistas, a exposição "Legado dos Mestres" reúne seus trabalhos e destaca a importância dos mestres.
Com curadoria de Dora Freitas e Sílvia Furtado, a exibição apresenta imagens, vídeos e objetos que carregam histórias de 106 mestres da cultura tradicional popular do Estado. A exposição está em cartaz até o final de outubro no Complexo Cultural Estação das Artes e a visitação é gratuita. A iniciativa é da Fundação Waldemar Alcântara, com fotos de Jarbas Oliveira, e surge a partir do "Livro dos Mestres", lançado por Dora e Sílvia em 2017.
"Os mestres da cultura tradicional popular são os representantes da mais genuína tradução do povo cearense e dos seus modos de viver, de conviver com a natureza e sua ancestralidade", diz um trecho da obra escrita pelas autoras. Durante a elaboração do livros, elas atravessaram o Ceará entrevistando todos os mestres da cultura vivos. "Fotografamos, conversamos com eles, fomos nas casas deles, nas oficinas, fomos super bem recebidas por eles", relembra Sílvia. A partir da necessidade de dar mais visibilidade a esses mestres, as duas autoras decidiram criar a exposição.
"A gente tem um material muito legal porque na exposição, além das fotos, a gente tem vídeos também com entrevistas gravadas com os mestres", ressalta Sílvia. Para ela, um dos destaques da exposição e do livro é permitir que os próprios mestres narrem suas histórias. "O que é inédito no nosso trabalho, que não tinha sido feito até então, é que nós damos voz aos mestres porque o livro, os vídeos, nós quase não editamos. São os mestres falando sobre a vida deles, do trabalho deles, sobre o que significa ser mestre e da tradição deles", explica. "Quem compra o livro fica encantado, porque são os mestres contando as histórias deles", afirma.
A curadora ainda ressalta a importância do título. "Eles são empoderados por um título que a Secretaria está dando a eles. Eles já tem o reconhecimento na comunidade, claro, mas aí tem uma instância que é maior de poder e diz: 'você é um mestre da cultura do Ceará'", comenta. A exibição ainda conta com um altar em homenagem aos mestres da cultura que já faleceram.
O idealizador da Fundação Waldemar Alcântara, Lúcio Alcântara, também reconhece o trabalho desenvolvido por esses artistas. "Não esqueçamos a necessidade de cada vez mais ampliarmos o leque de amparo às manifestações culturais que nos circundam. Levando em conta a constante transformação de nossa sociedade, de pronto se aquilata o enorme risco de extinção de manifestações populares tradicionais ligadas à religião, à arte, folguedos, gastronomia e ofícios que cessam continuamente em decorrência da mudança veloz de usos e costumes", declara.
O espaço da exposição é amplo e Sílvia explica que foi necessário essa amplitude para exibir a grandiosidade dos mestres. "Dá uma ideia de como nós enxergamos os mestres, de quão importante é a gente ter esses artistas e trabalhadores. É uma infinidade muito grande de ofícios e saberes e a gente queria realmente fazer com que isso parecesse grande, que as pessoas ficassem curiosas e dar visibilidade maior a esses mestres, porque muitos pessoas não os conhecem, essa nova geração não conhece, não sabe muito das nossas tradições. Queremos despertar essa curiosidade sobre a nossa cultura que é muito rica", declara.
Após o lançamento do livro em 2017, surgiram outros editais e consequentemente novos mestres da cultura. Com isso, as autoras planejam lançar ainda em 2022 uma nova versão do livro que traz o conteúdo de 2017 com o acréscimo dos novos mestres. A edição ampliada do "Livro dos Mestres" chegará no final de outubro com o encerramento da exposição.
Exposição Legado dos Mestres
Visitas: todos os sábados (16h às 20h) e domingos (9h às 12h) de setembro e domingos (9h às 12h) de outubro.
Local: Complexo Cultural Estação das Artes (R. Dr. João Moreira, 540 - Centro)
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