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Turma da Mônica reforça inclusão com personagem surda e novos projetos
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Turma da Mônica reforça inclusão com personagem surda e novos projetos

Sueli, a primeira personagem surda da Turma da Mônica, já aparece em livros, eventos e está pronta para estrear nos gibis do universo de Mauricio de Sousa
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Imagens dos estúdios Mauricio de Sousa (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Imagens dos estúdios Mauricio de Sousa

Com apenas nove anos, Sueli chegou na Turma da Mônica para mostrar que além da inclusão é preciso ter representatividade. Divertida, jovial e fã de esportes, a personagem criada pelo ícone mundial de histórias em quadrinhos, Mauricio de Sousa, transmite que mesmo tendo alguma deficiência é possível se relacionar com as outras pessoas que tenham, ou não, a mesma condição, se divertir e aproveitar a vida.

A personagem é simpática, inteligente e expressiva, com roupa popular e mecha no cabelo, ela encanta a todos. Sua comunicação é por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras), linguagem adotada para expressão das pessoas surdas. Atualmente, a comunidade surda é composta por 10 milhões de pessoas no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Isso inclui os surdos oralizados, que também se comunicam em português.

Sueli, a primeira personagem surda da Turma da Mônica(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Sueli, a primeira personagem surda da Turma da Mônica

Sueli é muito mais que um personagem que veio para reforçar a importância da acessibilidade e da inclusão no dia a dia das pessoas e já chega com força. Isso porque faz parte de um time grande, criado por Mauricio de Sousa e sua equipe: André, menino com Transtorno do Espectro Autista; Luca, que usa cadeira de rodas; Tati, com síndrome de Down; Dorinha, que é cega, entre outros.

Mauricio já tinha trazido o tema Libras em histórias da Turma da Mônica, mas ter um personagem único que represente os surdos já é outra história. O movimento ganha forma num momento único no qual o País precisa cada vez mais de representatividade  por parte de determinados grupos.

Diretor da Mauricio de Sousa Produções (MSP), Rodrigo Paiva conta que a personagem tem o DNA do próprio Mauricio, que há vários anos já incorporou estas questões de inclusão, pois antes mesmo de ser pauta coletiva já era pauta dele, que sempre olhava as pessoas, se admirava e inspirava. "Isso aconteceu com a Dorina Nowill, na qual ele reconheceu um exemplo a ser reproduzido e enfatizado e assim criou a Dorinha, uma menina cega que faz parte da Turma da Mônica e interage da mesma forma que os demais personagens, brincando e levando coelhada", destaca.

Paiva conta que, diferentemente dos demais personagens, ela não teve inspiração em uma única pessoa. "Foi diferente justamente porque o interessante da obra do Mauricio, por ser contemporânea, é ser viva. Quando ele lançou o Humberto, ele tinha essa questão da sensibilidade das pessoas que não falavam, não ouviam, mas faltava conhecimento. O que vemos com a evolução da sociedade é que a atenção vem aumentando, então a precisão se faz necessária. O Humberto não é surdo e não é mudo. Então, ele sentiu a necessidade de criar efetivamente uma personagem surda", diz.

A estreia dela, neste ano, foi nas redes sociais e contou com interação de mais de 20 milhões de usuários. Em maio, entrou como uma espécie de mascote durante a 24ª Surdolimpíadas de Verão, no Rio Grande do Sul. A equipe dos estúdios MSP teve colaboração da organização do evento na criação da personagem, que requer cuidados e fidelidade ao tema, e, ainda, de professores da Derdic, instituição sem fins lucrativos, mantida pela Fundação São Paulo e vinculada à PUC São Paulo que atua na educação, acessibilidade e empregabilidade de surdos.

 

Na sequência, em julho, Sueli já fez uma grande parada. Desta vez na 26ª Bienal do Livro de São Paulo, no lançamento do livro "Turma da Mônica Conto Clássico em LIBRAS - O Lobo e os Sete Cabritinhos", publicação da On Line Editora em parceira com a MSP que conta um clássico da literatura em Libras.

Na narrativa contada por Sueli, é visível a contribuição do tema, pouco explorado na literatura, que traz a reflexão sobre o papel da escola e das famílias na inclusão social da criança surda na interação com as demais da mesma idade.

Em cada página, é possível ver as imagens que, com clareza, ensinam a execução dos movimentos equivalentes a cada sinal que conta a história, fazendo com que a integração entre as crianças aconteça. Esse clássico foi adaptado da história de Wilhelm e Jacob Grimm pela escritora e intérprete Izildinha Houch Micheski.

O futuro de Sueli? Paiva revela que é livre dentro da Turma da Mônica e do bairro do Limoeiro. "Ela irá fazer parte das aventuras. Teremos mais livros com ela em 2023 na editora On Line, antes dela entrar nas revistinhas. Estamos, ainda, estudando para ela uma enciclopédia de Libras", antecipa. Nos resta aguardar!

Dos gibis para os livros

Ao todo, a Mauricio de Sousa Produções  (MSP)já trabalhou com 30 editoras diferentes, que são escolhidas de acordo com os temas e os personagens. Cada projeto é analisado individualmente a partir da expertise de cada editora.

Rodrigo Paiva, diretor da MSP, reforça que cada editora tem um perfil e conversa com públicos diferentes e tem distribuição diferenciada e dirigida. "A gente tenta adaptar um projeto para cada editora. Já lançamos cerca de 500 títulos de livros, por ano são cerca de 40 livros, e, em 2021, vendemos 2 milhões e 800 mil livros", comemora.

Somente nos últimos cinco anos foram comercializados cerca de 7 milhões de livros. "A riqueza da turma da Mônica é que a gente consegue fazer um livro com (o filósofo Mário Sérgio) Cortella, outros com os episódios da Turma da Mônica Jovem que está sendo exibida no Cartoon Network e, também, um livro que inclui literatura, que sai do lado lúdico, em parceria com o Manuel Filho, sobre terror", detalha o executivo.

Outro exemplo é que Dorinha tem uma coleção de livros em braile, além de fonte aumentada para quem tem déficit de visão. O projeto foi distribuído no início deste ano, junto com a Dorina Nowill e conta detalhes sobre as regiões brasileiras.

 

Nossa criança interior nunca morre

Ponto de vista da repórter Carol Kossling

Parecia estar numa daquelas máquinas do tempo, mas, em vez dela me levar para o futuro, ela me levou aos meus seis ou sete anos, não sei precisar, quando estava na recepção do consultório médico aguardando com meu pai a cirurgia da minha mãe. Para minimizar a espera eu tentava ler, aos "soquinhos", revistinhas, ou gibis, da Turma da Mônica. Meu sonho na época? Conhecer a personagem principal, assim como Cebolinha, Magali, Cascão e o Bidu.

Corta e volta para o tempo real. 2022, eu aos 43 anos, e a minha profissão, o jornalismo, me levou, sem nem imaginar, a um dia de vivências e travessuras desta turma que transcende gerações. Estava ali em frente ao Bairro do Limoeiro, onde participei, como leitora, de muitas aventuras.

Na visita, passei por peças da exposição do Museu Mauricio de Sousa Produções, que tem desde os primeiros traços onde toda história começou — aliás, para quem não sabe, a turminha começou há 63 anos com Franjinha e Bidu, a Mônica chegou depois do Cebolinha e conquistou seu espaço — às primeiras parcerias, como com a Hello Kiity e o licenciamento de marca mais antigo, que é entre o personagem Elefante e o extrato de tomate.

Depois, fiz um passeio pelas ruas do Limoeiro, onde fica o estúdio de criação. Dois colaboradores me acompanharam e contaram o passo a passo para criação de tudo, desde a imortal revista em quadrinhos ao games, filmes e aplicativos. Ah, o mais legal eles respondem todas as cartinhas e e-mails que chegam para os personagens. São muitos por semana!

Pude ver, olhar e sentir cada momento e cada traço, personagem e som que ouvia. Percebi que aquela criança que tentava ler com o pai esperando a mãe na cirurgia estava viva dentro de mim e ansiosa pelos novos passeios no túnel do tempo e pelas novas páginas.

 

Capa do livro 'O lobo e os sets cabritinhos'
Capa do livro 'O lobo e os sets cabritinhos'

Turma da Mônica - O Lobo e os Sete Cabritinhos

De Izildinha Houch Micheski

36 páginas

Quanto: R$ 29,99

Onde comprar: www.amazon.com.br e outros sites de livrarias 

Visita à Mauricio de Sousa Produções

Contato para marcação e mais informações: www.visitamauriciodesousa.com.br/visitas e visita.msp@informaconhecer.com.br

Telefone: (11) 3613-5000

Valores e datas: a confirmar com a MSP

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