Maggie Sanders tinha um futuro promissor. Ainda adolescente, era uma das melhores jogadoras de futebol da escola e seguia os passos de sua mãe, uma atleta que, depois de se machucar em uma partida, deixou a carreira para trás e se tornou treinadora. A jovem caminhava por uma vida estável, mas teve sua trajetória transformada de repente após perder completamente a visão devido a uma doença. Com isso, tudo mudou: ela teve que ser transferida para uma escola focada em estudantes com deficiência visual, abandonou o esporte preferido e deixou suas amizades de lado. Sua casa também precisou ser adaptada e a relação com a família ficou mais difícil. Agora no presente, a personagem não encontra motivos para se manter esperançosa. É com esse enredo que a escritora estadunidense Marci Lyn Curtis inicia o livro "Tudo que eu posso ver", publicado no Brasil pela Verus.
Sem conseguir se moldar à nova rotina, a garota detesta as aulas particulares que lhe auxiliam a se locomover sozinha pela cidade. Ainda evita a colega de classe, que costuma ser feliz e empolgada com pequenas situações do dia a dia. A relação com a mãe está pior: se antes as duas se conectavam por meio do futebol, naquela realidade, não há muito o que conversar. Por isso, as duas optam por um silêncio que machuca os laços entre elas e que se estende ao pai e ao avô.
Mas uma situação estranha acontece. Ela, que está em liberdade condicional depois de participar de um trote considerado ilegal pela justiça, esbarra em uma criança na saída de uma consulta. Quando olha para o garoto, percebe que consegue enxergá-lo. Ben é um menino precoce que não tem todos os movimentos plenos das pernas. Apesar de andar com o auxílio de muletas, é um dos melhores nadadores de um clube infantil.
Ao conhecer Maggie, ele pergunta se os dois poderiam namorar. A adolescente recusa, mas ambos se tornam amigos, e a personagem adentra no universo particular de Ben. Quase que diariamente, eles se encontram - e esse é o único momento em que a protagonista pode enxergar. É como se houvesse uma luz ao redor do menino e tudo que ela consegue ver gira em torno dele. À distância, sua visão já não existe.
Neste contexto, a protagonista também passa a ter contato com Mason Milton, o irmão mais velho de Ben. Tímido e silencioso, o jovem não parece gostar da presença da garota em seu cotidiano. Ele é integrante de uma banda que está ganhando popularidade nas redes sociais e ela se tornou fã do grupo musical recentemente. Para Maggie, as músicas cantadas pelos membros viraram uma maneira de enfrentar os problemas cotidianos. Por causa dessa afeição, Mason acredita que a adolescente está mentindo sobre sua cegueira para se aproximar dele.
Com uma série de mistérios e problemas a resolver, a adolescente precisa encontrar uma maneira de provar que está falando a verdade, principalmente, depois que descobre o possível motivo para enxergar Ben. Mas, durante esse período, ela terá que se reconciliar com as amizades do passado - algumas que ficaram para trás devido à forma como lidou com sua cegueira repentina. A jovem ainda terá que reatar seus laços com a família, que estão abalados desde que todos enfrentaram o trauma de uma mudança inesperada. Por causa disso, ela contará com o auxílio de Ben, que, mesmo com a pouca idade, é capaz de ensinar sobre um jeito resiliente de levar a vida.
Em "Tudo que eu posso ver", Marci Lyn Curtis percorre os sentimentos comuns da juventude a partir de uma situação extrema para Maggie Sanders. A personagem, que recentemente perdeu a visão por completo, tem que se adaptar a uma realidade a qual não era acostumada. Às vezes, deseja até que nunca tivesse enxergado porque, assim, não saberia o que está perdendo. Entre o medo de uma nova vida e a necessidade de adaptação para sobreviver, ela começa a percorrer um caminho estável com o auxílio de seu recente melhor amigo. Unidos pela perda e em situações distintas, ambos se ajudam. Entretanto, apesar desses obstáculos, Maggie vive questões típicas de sua idade: o primeiro amor, a vontade de se descobrir no mundo, as dificuldades de comunicação entre gerações e os distanciamentos nas amizades causados pelo tempo são algumas das situações.
Sobre Marci Lyn Curtis
“Tudo que eu posso ver” é o primeiro livro de Marci Lyn Curtis publicado no Brasil, mas a autora já se tornou uma escritora de romances YA (young adult) conhecida nos Estados Unidos. Além dessa obra, também escreveu “The Leading Edge of Now”, que conta a história de uma jovem vítima de abuso sexual que quer dizer a verdade para as pessoas ao redor. Quando vai passar o verão em New Harbor, o lugar lhe lembra de todos que perdeu, como seu pai, seu melhor amigo e seu namorado.
"Tudo que eu posso ver", de Marci Lyn Curtis
Verus Editora
322 páginas
Preço médio: R$54,90 (e-book: R$38,90)
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