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Em Natal, Festival Mada celebra reencontros em edição de retomada
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Em Natal, Festival Mada celebra reencontros em edição de retomada

Reunindo artistas de destaque na música brasileira, festival Mada celebra reencontros e volta a acontecer após dois anos de espera
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Mais de 25 mil pessoas estiveram na Arena das Dunas para acompanhar os dois dias do festival Mada (Foto: Rogério Vital/Divulgação)
Foto: Rogério Vital/Divulgação Mais de 25 mil pessoas estiveram na Arena das Dunas para acompanhar os dois dias do festival Mada

Com o avanço da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, o ano de 2022 tem sido marcado pelo retorno de diversos eventos presenciais por todo o País - e até pela estreia de festivais, como no caso do Zepelim, em Fortaleza. Tais programações têm permitido aos seus públicos o reencontro com diferentes artes, no caso do setor cultural, e com a sinergia dividida com artistas.

Em Natal (RN), foi a vez do Música Alimento da Alma (Mada) voltar a brindar seus frequentadores com uma programação musical diversa e buscando reforçar o papel da música como potencializadora de encontros. O festival, que completou 24 anos nesta edição, foi realizado nos dias 23 e 24 de setembro na Arena das Dunas e reuniu mais de 25 mil pessoas. O Vida&Arte realizou a cobertura presencial do evento.

De cara, a retomada foi marcada pela presença de artistas de relevância nacional - e até internacional. Além disso, reforçou o intuito do evento de promover em sua programação a integração entre nomes expoentes locais e músicos já com maior destaque por todo o País.

Participaram do Mada músicos como Emicida, Djonga, Don L, Gloria Groove, Marina Sena, Letrux, BaianaSystem, Linn da Quebrada, Mayra Andrade, Terno Rei e Luísa e os Alquimistas. A programação se dividiu em dois palcos disponibilizados lado a lado. Assim, quando uma atração encerrava seu show, outra já estava a postos para continuar a empolgação do público.

A cantora e atriz Linn da Quebrada foi a responsável por encerrar o quadro de apresentações de headliners do último dia do evento. Ela levou ao público repertório com músicas de seu primeiro álbum, Pajubá (2017), e também do disco mais recente, "Trava Línguas" (2021) - trabalho que, por sinal, nomeia a atual turnê da artista.

Em depoimento ao Vida&Arte, Linn compartilhou seus sentimentos com a participação no Mada e, ao ser questionada sobre o balanço que faz dos últimos dois anos de sua carreira - com lançamento de álbum, participação no BBB 22 e retorno aos palcos -, ponderou sobre quão intensa tem sido sua rotina.

"Eu sinto que tem sido muita coisa. Não consigo fazer um balanço justamente porque tudo tem se balançado muito. Eu acho que se tivesse balançado mais eu já estaria no chão, e se eu estivesse no chão eu ia rastejar para golpear (risos). Estou muito feliz, plena, e querendo entregar e dividir o que eu tenho vivido, quero multiplicar tudo que eu tenho sentido aqui com todo esse pessoal. Estou muito feliz, honrada e grata por fazer parte de um festival como esse", relata.

*Jornalista viajou a convite do evento

Leia também | Confira mais histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

Linn da Quebrada e Luísa Nascim se apresentaram juntas no festival Mada
Linn da Quebrada e Luísa Nascim se apresentaram juntas no festival Mada

Busca pelo diverso

O Mada chegou ao fim no último sábado, 24, reunindo, ao longo dos dois dias de evento, mais de 25 mil pessoas. Para além da volta da mistura de atrações locais e nacionais nos palcos do festival, as sensações de "respiro" cultural e fôlego para a retomada de um setor tão prejudicado pela pandemia estiveram presentes. Os encontros, então, foram diversos.

Para Jomardo Jomas, produtor cultural e idealizador do Mada, apesar de a organização saber que "havia uma demanda reprimida" pelo retorno às programações do festival, o balanço geral é de uma surpresa positiva com a resposta do público. "Acabamos conseguindo montar uma programação muito diversa, então atraímos vários públicos para cá, um espaço onde se sentem muito acolhidos", analisa.

"Diversidade", por sinal, é uma das palavras que guiam os objetivos do Mada, segundo o produtor. Somam-se a ela os termos "respeito", "acessibilidade" e "inclusão" - na prática, um dos exemplos foi a liberação gratuita de ingressos para pessoas trans. Nesse sentido, Jomardo pontua a necessidade de festivais adotarem posicionamentos como esses.

"Acredito que temos um papel muito importante nisso. Vimos ataques muito fortes a minorias nos últimos anos, então temos a responsabilidade de dizer para essas pessoas que estamos juntos e que elas estão em um lugar em que podem ficar tranquilas, pois também são seus espaços. Não podemos fugir disso. É claro que pensamos em ter muito público, mas também temos que ter sempre essas outras preocupações", afirma.

Sobre as ligações entre diferentes localidades de artistas, Jomardo avalia: “É importante poder ter condições e estruturas de oferecer ao público e às bandas locais o mesmo nível de profissionalismo e estrutura de uma atração mais conhecida. Isso acontece desde o início. Não há diferença de palco ou de iluminação, então a banda está ali se sentindo uma grande atração e isso é bom para sua carreira também”.

O produtor cultural aponta a importância da volta não só do Mada, mas de outros festivais presenciais como forma de celebração de encontros. “Desde o início da pandemia existia uma demanda reprimida - talvez nem tanto para ir a festas, mas para você se encontrar com outras pessoas, abraçá-las, ir a locais em que você fosse se sentir tranquilo. Acho que é muito mais isso. A festa é um complemento dessa saída, mas as pessoas estavam atrás desse clima de encontro, de celebração da vida, por mais que tenhamos perdido muitas pessoas e tenha sido doloroso”, comenta.

Jomardo acrescenta: “Essa volta é aquela volta de dizer: ‘Estamos vivos. Então, vamos aproveitar esse momento - e se tiver música, melhor ainda. Se for uma música que alimenta a alma, aí é perfeito’”.

Entre os que aproveitaram essa “demanda” pelos encontros estava a psicóloga Emanuele Camelo, que reside em Natal. Ela comemorou seu aniversário de 44 anos durante o show da cantora cabo-verdiana Mayra Andrade - sua atração preferida, sim, mas também teve grande interesse em acompanhar os shows de Marina Sena, Gloria Groove e Potyguara Bardo.

Ela já esteve no festival em outras edições, até quando ele era realizado em outro bairro da capital potiguar. Em meio a ese retorno, a psicóloga destaca o lado imprescindível da cultura para o país, sendo enfatizado por meio de programações que estimulem encontros entre espectadores e a arte. “A cultura é essencial para qualquer sociedade. Nós não podemos viver sem cultura, é onde conseguimos expressar nossos pensamentos, nossas alegrias e reflexões”, inicia.

Emanuele aponta também para outros impactos do setor para a sociedade: “Além disso, há a questão da empregabilidade. Quantos empregos estão sendo gerados em um festival desse porte, não é? Então, é essencial que existam - e também para ajudar a nossa saúde mental, até. Enquanto psicóloga, eu tenho que falar que a arte atua muito na saúde mental, ajudando em tratamentos”.

O professor Daniel Guedes saiu de João Pessoa (PB), sua cidade natal, para conferir pela primeira vez o Mada - e na sua experiência de estreia se deparou com o que considerou um “incrível caldeirão cultural e diverso”. Fã do grupo Luísa e Os Alquimistas, o professor também teve grandes expectativas para assistir aos shows de Marina Sena, Baiana System e Gloria Groove - cuja apresentação, em sua análise, “confirmou sua proeminência no universo pop da música brasileira”.

Para Daniel, o retorno dos eventos presenciais e de festivais com a natureza do Mada é fundamental para a defesa da cultura - e também ajuda no apoio à democracia. “Eu acho incrível, principalmente por vivermos tempos difíceis e de resistência. A cultura se afirma como elemento indispensável a essa convergência de forças para lutar pela preservação da democracia. Espero que minha cidade copie o bom exemplo de Natal de trazer festivais tão especiais para engajar públicos de todas as idades, apresentando nomes da nova MPB e artistas locais com perspectiva de muito sucesso não só a nível regional, mas nacional”, pontua.

Um festival a uma semana das eleições

Em março, o Lollapalooza, em São Paulo (SP). Em agosto, o Zepelim, em Fortaleza (CE). No início de setembro, o Rock in Rio, no Rio de Janeiro (RJ). Quase no fim deste mês, o Mada, em Natal (RN). Apesar de realizados em locais e datas diferentes, todos têm, em comum, o fato de terem sido festivais de música que mobilizaram milhares de pessoas. Além disso, todos eles foram marcados por protestos do público contra o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL) - e também a favor do candidato Lula (PT).

No Mada, porém, houve um detalhe que o diferenciou dos demais: o evento ocorreu no fim de semana anterior ao do primeiro turno das eleições. Ao longo dos shows, foi possível observar, então, as manifestações do público que acompanhava as apresentações, entoando coros contra Bolsonaro - e exigindo a sua saída do cargo - e em apoio a Lula.

Referências também vieram por parte dos artistas, algumas mais implícitas e, outras, mais abertas. Antes de cantar a música "Bang!" em seu show, Emicida agradeceu o apoio do público ao seu trabalho ao longo da pandemia e durante o retorno presencial. "O que me faz pensar: se a gente consegue criar uma energia foda dessas, por que a gente não consegue colocar um país foda em volta? Consegue. Confio em vocês", disse. Em seguida, uma parte do público voltou a protestar contra Bolsonaro.

No caso da cantora Letrux, a manifestação foi mais aberta. Na sua apresentação, levantou uma bandeira em que estava escrito "Tô com Lula", sinalizando seu apoio ao candidato. Antes do show, ela falou ao Vida&Arte sobre o setor da cultura no atual governo Bolsonaro. "Estamos nas mãos de um governo que detesta cultura e as diferenças entre os seres humanos. Foram dois anos de pandemia de muito perrengue", inicia. Ela complementa: "Nós não temos apoio. A cultura é esquecida".

Os casos citados demonstram o caldeirão de sentimentos que envolvem os eleitores a poucos dias das eleições, a serem realizadas no próximo domingo, 2 de outubro.

Alguns destaques

Afrocidade: O grupo baiano levou críticas sociais e animação na noite do segundo dia, com seu repertório que exalta a musicalidade afro-baiana.

Baiana System: o grupo voltou ao Mada já com "os dois pés na porta" com o Sulamericano show, animando o público desde o início ao misturar guitarras baianas, dub, samba e soundsystem da Jamaica;

Djonga: Último dos headliners a se apresentar no primeiro dia, o rapper mineiro colocou todos para "tirarem os pés do chão" com músicas como "Heresia" e "Ladrão".

Don L: Crescido em Fortaleza, o rapper agitou os visitantes com repertório recheado pelo seu premiado álbum "Roteiro Pra Aïnouz vol. 2". Em diversos momentos as vozes da plateia se confundiam com a do cantor, tamanha era a empolgação do público.

Emicida: Uma das principais atrações do Mada, o rapper se apresentou no primeiro dia e levou ao público o elogiado show "AmarElo", no qual propõe um olhar sobre a grandeza da humanidade diante do mundo, e outros sucessos de sua carreira.

Gloria Groove: Na acepção da palavra, um espetáculo: o show de Gloria celebrou as eras de sua carreira com hits como "A Queda", "Bonekinha" e "Vermelho". A cantora ainda interpretou músicas de outros artistas, como "Máscara", de Pitty, e "Exagerado", de Cazuza.

Josyara: A cantora baiana se apresentou no primeiro dia e estreou seu novo disco de estúdio, intitulado "ÀdeusadarÁ".

Luísa e os Alquimistas: A banda voltou à sua terra natal para lançar o álbum "Elixir" e se tornou a primeira potiguar headliner na história do Mada.

Potyguara Bardo: A cantora drag queen levou ao Mada o repertório de seu álbum "Simulacre", emocionando fãs e plateia. Um dos pontos altos foi a interpretação de seu hit "Oásis".

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