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Uma visita guiada pelo 73º Salão de Abril
Vida & Arte

Uma visita guiada pelo 73º Salão de Abril

Com tema "Iminência de um Tempo", 73º Salão de Abril reúne 33 obras e está aberto para visitação até 22 de outubro no Centro Cultural Casa Barão de Camocim
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A 73ª edição do Salão de Abril se encerra neste sábado, 22 (Foto: Samuel Setubal-Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal-Especial para O Povo A 73ª edição do Salão de Abril se encerra neste sábado, 22

Maria Neusimar, de 82 anos, pedalava pelos arredores da Casa Barão de Camocim, no Centro de Fortaleza, quando se deparou com uma obra de arte na calçada. "Não tenho estudo, mas quero saber o que é", ponderou. Na tarde de quinta-feira, 29, entrou no Salão de Abril e se surpreendeu ao notar como as obras dialogam com seu cotidiano. Como bordadeira, a performance "Conversas tramadas", da dupla Mel Andrade e Érica R, imediatamente lhe chamou atenção. Depois de passear pelos dois andares da Casa, voltou a pedalar. Acima dos níveis da razão, a arte diz respeito aos sentimentos e mais do provocar a sentir.

De diferentes perspectivas, linguagens e formatos, as 33 obras que compõem o 73º Salão de Abril tratam de um novo tempo e valorizam visões artísticas sobre as urgências contemporâneas, ancestralidades, preocupação com a natureza, além de representatividade social e política, intercalando entre reflexões e denúncias, como também memórias e afetos.

Hosana Fernandes, integrante do Núcleo Educativo do Salão de Abril, ressalta as novidades dessa edição. "Esse ano, o título 'Iminência de um Tempo', reuniu muitas obras que tratam da natureza, das transformações na paisagem e da representatividade", diz. Para isso, não há forma pré-estabelecida de conhecer a exposição, a ideia, segundo ela, é "deixar o visitante livre para fazer sua rota".

O chamado para a arte inicia ainda na calçada, com a intervenção da artista visual Natália Coehl. Em sua pesquisa de mestrado, Natália investiga performances urbanas e tem a obra "Células Florestais" exposta no Salão. O objetivo é investigar a pavimentação da Cidade a partir da "demarcação de territórios" das ervas daninhas, consideradas danosas à agricultura.

"A arte, para mim, está na fissura. Na verdade, ela abre fissura no que está duro e enrijecido, então através do diálogo, da educação e das políticas em arte, os artistas se tornam ervas também e abrem brechas, ocupando um lugar de resistência", declara Natália.

No segundo piso, cores fortes entrelaçadas em tramas espessas chamam atenção dos visitantes. Na abertura do salão, as artistas Mel Andrade e Érica R iniciaram a obra que será finalizada hoje, a partir das 10 horas. "A gente quer muito que seja esse espaço do ateliê, do tricô, do crochê e das manualidades que a gente não vê por só ver o resultado final. Todo esse processo a gente quis tornar público", revela Mel.

"Durante as nossas conversas tramadas, a gente ouvia também as pessoas. Umas até diziam 'nossa, ela é mais rápida que você' e não estamos aqui para competir. O crochê, o tricô, é essa ideia de você sentar, esquecer o que está lá fora e fazer sua arte", compartilha Érica.

"Não vim pra cá para apresentar uma obra de arte e sim para reclamar" declara, com doses de crítica e bom humor, o artista visual Felipe Camilo Mesquita Kardozo. Felipe apresenta a instalação "Ceci n'est pas pessoa negra (preta ou parda)?", para tratar do que classifica como "violência institucional". O episódio que inspirou a obra foi o indeferimento como proponente nas vagas destinadas às políticas afirmativas no Edital das Artes deste ano, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado.

Dividida em duas partes, a instalação traz uma série de lambes com frases de questionamento sobre a autodeclaração racial e fotos do artista na infância. Já a segunda parte, denominada "véu esclarecedor", expõe a decisão de indeferimento e a solicitação de correção feita pelo artista, não atendida pela Secult-CE. Por fim, apresenta o "Manual esclarecido de conclusões inconcluíveis", com perguntas que ironizam as ações do Estado.

Já entre os espaços novos da Casa Barão de Camocim, na instalação "Manual das Pseudociências", Henrique Braga se apropria de livros e da tecnologia para investigar as materialidades do desenho. "Busco contrapor essa ideia de objetividade do conhecimento científico e subjetividade da arte. O livro é um lugar ideal porque é onde esse conhecimento é transmitido, é uma forma de perturbar o que entendemos de corpo, organismo e como o ser humano tem age sob a natureza", explica.

73º Salão de Abril

Quando: de 8 de setembro a 22 de outubro
Visitação: terça a sexta das 10h às 17 horas e aos sábados das 10h às 16 horas
Onde: Centro Cultural Casa Barão de Camocim (Rua General Sampaio, 1632 – Centro)
Gratuito

Perfomance ""Conversas Tramadas"

Quando: hoje, 1º, a partir das 10 horas
Onde: Centro Cultural Casa Barão de Camocim (Rua General Sampaio, 1632 – Centro)
Gratuito

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