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Memória da música preta constrói acervo de museu virtual
Vida & Arte

Memória da música preta constrói acervo de museu virtual

O Museu Memórias da Música Preta (MMMP) inaugura acervo digital e gratuito com história de artistas negros influentes nos movimentos da música brasileira
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O cantor Cartola, intérprete de
Foto: Reprodução O cantor Cartola, intérprete de "O Mundo é Um Moinho", está na seção "Ninguém Fica Parado"

A cantora Elza Soares (1930 - 2021) foi eleita como "Voz do Milênio" pela BBC de Londres e manteve contínua produção artística durante toda a vida. Já a soteropolitana Majur, nome expoente no cenário musical, ascende na área com mistura de ritmos que vão desde o R&B até as batidas do afrobeat. Ambas levam consigo a marca de representação das próprias gerações e pavimentam o caminho de futuros artistas brasileiros. As trajetórias se difundem ao desenvolvimento da black music e são apresentadas no Museu Memórias da Música Preta (MMMP), plataforma virtual liberada no último sábado, 1º.

O MMMP mostra ao público geral as histórias de personalidades da música preta, assim como Tony Tornado, Sandra de Sá, Jovelina Pérola Negra e Ademir Lemos. O domínio digital exibe acervo composto por pesquisa iconográfica, documental, fílmica, sonora e discográfica sobre a história e cultura da temática. A ferramenta busca trazer protagonismo para artistas que foram invibilizados. "A ideia surgiu para dar o verdadeiro reconhecimento para estas pessoas e mostrar o quanto o talento delas faz a identidade da música brasileira", conta o produtor Rafael Braga, um dos idealizadores do projeto, elaborado pela Criamos Agência de Cultura.

Neste primeiro momento, o conteúdo é dividido em dois recortes. O primeiro, nomeado "Dura Na Queda", adentra a história de cantoras pretas. Já o segundo, intitulado "Ninguém Fica Parado", retrata o percurso da música a partir do movimento black dos anos 1970 até a introdução do funk na década de 1990. "A gente chama de museu virtual mas, na verdade, é um memorial. A pesquisa surgiu no final de 2020 e a gente foi amadurecendo, incluímos a proposta na Lei de Incentivo à Cultura e conseguimos o apoio do Banco BV, voltado para o protagonismo de pessoas pretas ou sobre pessoas pretas", informa Rafael. A mobilização, entretanto, começou antes da finalização do projeto digital.

Já no começo deste ano, a equipe do MMMP começou a abastecer o perfil da iniciativa no Instagram com conteúdos. Os idealizadores ainda prepararam pesquisas com pessoas ligadas à black music para definir a estrutura do estudo, com ajuda de museólogos. Todo o material é gratuito e dividido de forma interativa, disponibilizado em uma plataforma acessível para pessoas com deficiência visual e auditiva. O site conta com vídeos e entrevistas inéditas, além de uma versão em inglês. "A gente não quis focar muito nas dificuldades e temas pessoais, mas sim nas conquistas relacionadas às obras e no histórico de como alguns movimentos e pessoas foram aparecendo. Quando a pessoa entra, é para ela se instigar a voltar no outro dia, porque o conteúdo é um pouco extenso. É como se a gente entrasse numa sala de exposição e olhasse para aquelas paredes cheias de quadros", sinaliza o produtor.

O lançamento oficial aconteceu no último sábado, 1º, no Museu da História e Cultura Afro-Brasileira, no Rio de Janeiro. A programação da ocasião envolveu um bate-papo com os idealizadores do projeto e pocket show do Grupo Missa Criola. O material também vai circular em escolas da rede pública de ensino do Rio de Janeiro e Salvador. Nos próximos meses, o MMMP integra ações educativas em oito unidades escolares nas duas cidades mencionadas. Ainda haverá a circulação em mais três equipamentos culturais na Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, nos dias 17 e 18 de novembro, com contação de histórias a partir do livro "A Menina Akili". Já no dia 19 do mesmo mês, as atividades envolvem um show do grupo Samba Que Elas Querem.

"A nossa intenção principal é que as crianças sintam que elas possam ser o que elas quiserem, que elas podem chegar ao sucesso. Obviamente, isso não depende apenas delas, depende de todo um sistema de educação e cultura". O produtor ainda afirma que a pesquisa é uma forma de expandir as discussões sobre o racismo na sociedade. "Todo mundo tem que entender que tem que ser antirracista, tem que lutar. Esse projeto fala muito de como as pessoas pretas foram inviabilizadas. O nosso principal propósito é esse, mostrar que tem um histórico de racismo no Brasil e que ele precisa parar".

Museu Memórias da Música Preta (MMMP)

Onde encontrar: www.memoriadamusicapreta.com.br

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