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Cine Ceará: Mostra Olhar do Ceará reúne diversidade da produção audiovisual
Vida & Arte

Cine Ceará: Mostra Olhar do Ceará reúne diversidade da produção audiovisual

Reunindo quatro longas-metragens e dez curtas, Mostra Olhar do Ceará destaca produções locais na programação do Cine Ceará
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Documentário
Foto: Divulgação Documentário "Afeminadas" será exibido no Cine Ceará

Para além do caráter de integração entre diferentes países, o Cine Ceará busca também destacar as produções realizadas por artistas de sua terra. Esse é o intuito da Mostra Olhar do Ceará, que se inicia nesta sexta-feira, 7, e segue até dia 12 promovendo a apreciação de curtas e longas-metragens feitos por cineastas cearenses.

As obras serão apresentadas no Cinema do Dragão e, após a janela de exibições no equipamento cultural, oito dos dez curtas selecionados estarão disponíveis no serviço de streaming Itaú Cultural Play. A programação do festival é gratuita e pode ser conferida na íntegra no site do evento.

Temas como ancestralidade, identidade, retratos sobre a ditadura militar e percepções sobre a pandemia são alguns dos assuntos que permeiam a mostra. A curadoria desta edição é feita pela cineasta Camilla Osório, que comentou ao Vida&Arte sobre o processo de escolha dos longas e dos curtas da mostra.

O POVO: Como ocorreu a seleção das obras que serão exibidas na Mostra Olhar do Ceará? Quais foram os critérios seguidos?

Camilla Osório: São perguntas sempre muito complexas e que nos fazemos quando estamos selecionando as obras. Há muito do pensamento de “como vou escolher os melhores filmes?”, mas não existe isso de melhor filme. Existe um olhar que lançamos sobre o que recebemos dos inscritos. Então, o que tentei trazer foi a ideia de traçar um certo panorama da produção cearense. Busquei reunir filmes que de alguma forma representassem esse todo, do que está inquietando esses realizadores, quais são os temas e as prioridades estéticas desse conjunto. Houve uma prioridade de selecionar mais obras que trouxessem reflexões sobre ancestralidade, que estão muito presentes em filmes como “Mulheres Árvore”, da realizadora indígena Wara, e “A Margem de Um Rio Que Correm Meus Ancestrais”, de Iago Barreto Soares - que não é indígena, mas apresenta essa temática. Há também “Na Estrada Sem Fim Há Lampejos de Esplendor”, um filme sobre pessoas trans que traz um universo sensível para o futuro, que é algo que vi em outros filmes, mas esse filme vai ser muito representativo disso. Então, é uma tentativa de respeitar esse todo trazendo filmes que lançam luz sobre isso de uma forma mais impactante e emocionante, apresentando um lidar com a linguagem cinematográfica que é mais inventivo de algum modo.

OP: Para além da ancestralidade, existem outros temas que se destacam na seleção de obras para a Mostra?

Camilla: Eu observei muito o luto. Acredito que tem a ver com a pandemia, apesar de não haver tantos filmes que falem diretamente sobre esse período. Há o “Todo Mundo Já Foi Para Marte”, animação de Telmo Carvalho, que cria uma ficção sobre esse momento do isolamento. Entretanto, todas as obras trabalham o luto de formas diferentes. Algumas se aprofundam mais em uma dor e outras de forma a observar o futuro, mas todas falam sobre isso de alguma forma.

OP: Dos dez curtas selecionados, a maioria é de ficção. O que pode explicar a grande presença de produções nesse estilo?

Camilla: Acho que a presença maior de ficções se dá também por uma maior possibilidade de financiamento. É importante frisar que, sem a Lei Aldir Blanc, provavelmente não teríamos filmes suficientes para o festival, porque foi ela que impulsionou a existência do cinema durante os últimos anos. Há filmes que são feitos com orçamento mais baixo, mas a ficção exige o mínimo de orçamento. Além da Aldir Blanc, a presença das escolas de formação em audiovisual também dá esse suporte e elas podem fornecer equipamentos e elementos necessários para realizar ficção. Acredito que tenha esse caráter muito prático de uma possibilidade econômica de realizar essas ficções estar sendo mais presente e impulsionado nos últimos anos.


OP: É curioso que a mostra reúne realizadores já experientes e também realizadores que estão começando. Em sua análise, qual a importância dessa mistura?

Camilla: É fundamental, pois os realizadores que estão iniciando trazem algo novo, que é seu, para o todo, enquanto que realizadores que já têm estrada têm suas marcas e seus olhares próprios. Em um festival, há sempre a possibilidade de conseguirmos ver essas produções como uma totalidade, um conjunto. Assim, os realizadores trarão essas novas inquietações e as novas possibilidades para o conjunto. Para a experiência do público e de quem participa do festival é algo muito interessante ter esses dois lados.

OP: Em que agrega à mostra a diversidade de temas dos filmes?

Camilla: Nós temos uma diversidade muito grande também de realizadores. Há realizadores brancos, pretos, indígenas, LGBTQIA+, heterossexuais, de diferentes locais do Ceará… Tudo isso desemboca em uma riqueza maior de possibilidades para pensarmos a partir dos filmes. Para um festival isso é fundamental, e nós fazemos um festival de cinema para ter essa pluralidade e, assim, debater a sétima arte. Acho que conseguimos um resultado muito interessante e isso enriquecerá as conversas em torno do cinema no Cine Ceará.

OP: Qual a importância da Mostra Olhar do Ceará para dar força ao audiovisual cearense?

Camilla: A “razão de ser” da Mostra Olhar do Ceará é justamente essa, e me parece que cada vez mais ela tem conseguido cumprir esse papel, porque conseguimos lançar um olhar sobre a produção cearense e a produção cearense também lança um olhar sobre nós. Mostrar o que os realizadores cearenses têm a dizer esteticamente para o Brasil e pensando que o Cine Ceará é um festival ibero-americano, com pessoas de vários países, é um momento em que todos voltam seus olhares para a produção cearense. Ela tem muita qualidade, e a mostra é um momento em que existe maior visibilidade para esse conjunto de profissionais locais. Não vemos essa coletividade vir à tona tão fortemente em outros festivais como nesta programação.

 

Programação completa

Longas-metragens

Sexta, 7

14 horas: "A Colônia", de Vírginia Pinho e Mozart Freire (documentário)

Sábado, 8

14 horas: "Todo Mundo Já Foi Para Marte", de Telmo Carvalho (animação)

Domingo, 9

14 horas: "Escuridão na Terra da Luz", de Popy Ribeiro (documentário)

Segunda-feira, 10

14 horas: "Afeminadas", de Wesley Gondim (documentário)

Curtas-metragens

Terça-feira, 11

14 horas

"A Margem de Um Rio Que Correm Meus Ancestrais", de Iago Barreto Soares (documentário)

Aluá, de Felipe Camilo (documentário)

"Aquele que veio do Oeste",
de Wesjley Maria (ficção)

"Ópera Sem Ingresso", de Andreia Pires (musical)

"Rosa Negra", de Sabina Colares e Marieta Rios (documentário)

"Mulheres árvore", de Wara (experimental)

Quarta-feira, 12

14 horas

"Bege Euforia", de Anália Alencar (ficção/experimental)

"Fio de Ariadne", de Mozart Freie e Ton Martins (ficção)

"Na Estrada Sem Fim Há Lampejos de Esplendor", de
Liv Costa e Sunny Maia (ficção)

"Pedro", de Leo Silva (ficção)

Mostra Olhar do Ceará

Quando: de sexta-feira, 7, a quarta-feira, 12

Onde: Cinema do Dragão (Rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema) e plataforma de streaming Itaú Cultural Play (de 12 a 20/10, com oito dos dez curtas da mostra)

 

A animação
A animação "Todo Mundo Já Foi Para Marte", de Telmo Carvalho, aborda a pandemia de covid-19 em uma narrativa ficcional e fantástica

Laços do audiovisual

Na Mostra Olhar do Ceará, longas e curtas-metragens se entrelaçam em programação que destaca obras produzidas por realizadores locais. Podem ter diferentes temáticas, mas são costuradas pelas potências criativas e diversas de profissionais cearenses. Um dos longas a serem exibidos é o documentário “Todo Mundo Já foi Para Marte”, de Telmo Carvalho.

Por meio da animação experimental, 35 artistas cearenses narram suas próprias histórias durante os dois primeiros anos de pandemia. Política, família e ansiedade são alguns dos temas que percorrem os enredos, e cada criador teve liberdade tanto no roteiro como na forma de apresentar a história. Na visão de Telmo, “o filme virou um grande panorama da animação cearense”.

“Cada animador convidado criou uma história de acordo com sua realidade, seus sentimentos, no que passaram e estavam passando durante este período. Alguns foram mais críticos, outros mais sensíveis e outros tentaram ser mais leves”, revela Telmo ao falar sobre como a pandemia é representada no longa.

A ficção também surge entre os trabalhos selecionados, como no caso do curta-metragem “Na Estrada Sem Fim Há Lampejos de Esplendor”, de Sunny Maia e Liv Costa. A produção narra a travessia de um personagem que está em processo de transição e faz um recorte de uma noite em que “vivencia as angústias, os prazeres e os encontros que permeiam a fuga da cisbinariedade”.

“O curta discute a importância de ter referenciais para entender a si mesmo, pois os encontros com outros corpos desobedientes de gênero são para pessoas trans formas de autorreconhecimento e possibilidades de reinvenção de si mesmo”, pontua Liv Costa.

Liv defende a relevância do retorno do Cine Ceará ao formato presencial: “É importante para promover o encontro de realizadores e partilha sobre processos e atividades realizadas por cineastas e artistas cearenses. Além disso, para que o nosso trabalho enquanto produtores de cultura e pensamentos sobre imagem possam ser vistos por conterrâneos e onde foram produzidos”.

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