É uma quinta-feira quando o Vida&Arte tenta contatar a cantora Letrux durante um percurso da artista entre São Paulo e Curitiba. No outro lado da linha, a carioca se prepara para mais um show dentro da agenda corrida dos últimos meses. Após algumas tentativas falhas devido ao sinal da estrada, ela prontamente atende a reportagem para uma entrevista que antecede o retorno da artista aos palcos cearenses.
As longas horas de viagem não anulam o seu entusiasmo ao falar sobre o reencontro com o público fortalezense, que acontece neste sábado, 8, no Festival Encaixa, ao lado de DJ Adrian Brasil, Gabi Dorato, Uana, Jáder e Johnny Hooker. “Nossa, em Fortaleza, a gente fez um show inesquecível no Maloca Dragão, foi uma loucura. Depois fizemos no Cineteatro São Luiz, que foi muito astral. Temos lembranças maravilhosas dessa cidade, tanto do show de rua, de galera, quanto de teatro, algo mais performático. É muita gente pedindo, um público querido”, celebra.
O espetáculo une hits do primeiro disco, “Letrux em Noite de Climão” (2017) e do álbum mais recente, nomeado “Letrux Aos Prantos” (2020), e acontece, por certo, em um ano significativo. Sobretudo por suceder o período mais crítico da pandemia causada pela Covid-19. “Eu reclamo do governo, mas tive muito privilégio. Não passei fome, tive uma casa perto da natureza, tudo isso me protegeu muito do horror do mundo. Acho que sobrevivi sem sucumbir, sem enlouquecer, isso já é um feito muito grande. Tive algumas lives e encontros, o que me salvou muito. Mas foi difícil e ainda tenho traumas desses dois anos complicados. Eu nunca mais vou ter 38 anos, agora eu vou ser uma pessoa de 40 anos e tudo bem. As pessoas estão meio alucinadas, numa velocidade maluca de querer recuperar o tempo”, compartilha.
Letrux, nome artístico de Letícia Pinheiro de Novaes, passou a maior parte do período pandêmico em uma casa perto da natureza, situada no município de São Pedro da Aldeia, a 208 km do Rio de Janeiro. Criada com aventuras em árvores e mergulhos nos mares, a cantora utilizou o ambiente para “voltar aos primórdios” e conseguir “um respiro”. Desde 2020, a carioca desenvolveu o podcast “Taradas por Letras” (2021) e o livro “Tudo Que Já Nadei: Ressaca, Quebra-Mar e Marolinhas” (2021), além de contribuir como colunista na revista Gama e prosseguir com os lançamentos musicais.
“A minha mãe é professora, então eu sempre fui apresentada à arte por ela desde criança. Todo meu amor por palavras, inevitavelmente, vem deste lugar. Claro que eu também tenho histórias horríveis da infância, de crueldade, horror e abuso, mas de alguma maneira existe um lugar na escrita em que eu me sinto em casa”, desenvolve. Apesar de ter jogado com vários gêneros, ela afirma que ainda deseja aprofundar a escrita em romances e roteiros. Já no âmbito musical, Letrux segue com a divulgação de “Letrux Aos Prantos”, um disco que considera mais íntimo em comparação com sua obra de estreia.
Para a cantora, uma das principais motivações da profissão é a troca, seja com o público, seja com os colegas de ofício. Em maio deste ano, ela lançou “El Misterio Ya Está Aqui”, ao lado de Luísa e Os Alquimistas. Já em junho, disponibilizou “KOBRA”, com Jonas Sa, Pedro Sá e Thiago Nassif. “Quando a história da pessoa me toca, eu tenho vontade de estar perto e, querendo ou não, eu também já fui uma artista que está começando”, comenta. Sua playlist, portanto, é diversa. Tem a banda Gente, do Rio de Janeiro; o duo Troá; a baiana Josyara e o cearense Getúlio Abelha. “Acho Getúlio uma figura peculiar, muito maravilhoso”, opina.
Para este “retorno a alegria”, com comemoração no dia 8, Letrux preparou um setlist “misturado”. O repertório é composto por sucessos como “Déjà-Vu Frenesi” e “Abalos Sísmicos”, por exemplo. “A gente sempre faz uma homenagem a algum artista que tenha inspirado a cantora e pessoa que eu sou, uma releitura. A gente tenta entender a dinâmica do dia. A alegria do artista independente é ver agenda lotada, mas as coisas fogem do nosso controle e dependemos muito ou de iniciativa privada ou de edital. A gente pela gente é um risco muito louco”, acrescenta.
A personalidade considera 2022 como um ano de “turnê” e de “alívio”. “É um alívio espiritual, físico e kármico perceber que estamos perto do fim desse governo. As pessoas estão com fome. Estou falando da fome, que é algo geral, e consequentemente todas as outras esferas vão ser beneficiadas. Claro, a cultura precisa de muito incentivo”. Para o que ainda está por vir nos próximos meses, Letrux adianta: “Vem coisa nova na música, não sei quando, mas vem”.
Festival Encaixa
Quando: neste sábado, 8, a partir das 18 horas
Onde: avenida Clóvis Arrais Maia, 3343 - Antônio Digo
Quanto: ingressos a partir de R$80
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