Na virada da década de 1990, Ron Gilbert criou um marco do gênero de aventura "point-and-click". "The Secret of Monkey" é um clássico da LucasFilms Games, que equilibra quebra-cabeças inteligentes e design de produção avançado (para a época), bem temperados com um senso de humor sem precedentes. O roteiro era de Gilbert, que antes criara o seminal "Maniac Mansion" (1987), ao lado de Dave Grossman e Tim Schaffer. Em suma, o triunvirato da SCUMM — engine da LucasArts que ajudou a popularizar os "point-and-clicks".
Depois do sucesso da obra original, o grupo produziu a sequência, o desconstruído (e genial) "Monkey Island 2: LeChuck's Revenge" (1991) e viveu um hiato de uma série de games que seguiu fazendo sucesso. Em 1997, veio "The Curse of Monkey Island", mais belo e ainda divertido. Em 2000, tentou-se criar uma versão 3D no bom (mas horroroso) "Escape from Monkey Island" e então não havia mais LucasArts.
Em 2009, puxado pelo saudosismo e no sucesso da Telltale Games, que fez reviver o interesse pelos "point-and-clicks", veio o game graphic novel "Tales from Monkey Island", dividido em cinco bons capítulos. Restava, porém, um sentimento de incompletude. E como o interesse no gênero virou quase nulo, parecia que o ponto final era aquele, distante de casa.
Eis que, em pleno 2022, Ron Gilbert retornou à Ilha dos Macacos. E com Dave Grossman. Desta vez sem Tim Schaffer, que fizeram o melhor "point-and-click" da história ("Grim Fandango", de 1998), a dupla resolveu dar um ponto final digno na história do pirata fraco, falastrão, carismático e engenhoso que marcou a história dos games nos anos 1990. Ou um final indigno, contanto que fosse um fim.
Nessa brincadeira de saudosismo com desconstrução, o jogo abre com referências ao ápice da série, "Monkey Island 2", e seu final, digamos, controverso. O jogo começa com um jovem Guybrush (Boybrush) e um jovem LeChuck (Chuckie) explorando um parque de diversões (Big Whoop), tal qual no plot twist do segundo jogo da série. Isso até sermos levados de volta para o rico e excêntrico Caribe da Ilha dos Macacos, onde o real Guybrush resolve retomar sua busca pelo Segredo da Ilha dos Macacos™.
Tudo no jogo é uma referência ao passado e mesmo quem rejeita fan service (eu!) se pega rindo da mesma piada de novo. É um game com gráficos de estética diferente — o que sempre incomoda fãs —, jogabilidade ligeiramente modificada e um nível de dificuldade bem mais acessível que os anteriores, conforme as regras que ditam hoje o mercado do falido gênero point-and-click. Mas segue engraçado e isso é o mais importante.
Existe, porém, um fio que entrecorta a narrativa e vai ganhando força. É, ao contrário dos demais, um jogo com uma pitada melancólica. Ron Gilbert trabalha, de cara, o conceito de frustração. Guybrush (e LeChuck) se digladiam para ver quem vai descobrir o Segredo da Ilha dos Macacos™ e Elaine, esposa do protagonista e a única heroína real da história, o segue como voz da razão. É ela quem deixa claro que nada que Guybrush descubra — que nós descubramos — será suficiente para aplacar a ansiedade de décadas de busca. De décadas de ausência de relevância da série.
É nesse contexto que o jogo se encerra. Que a série se encerra. Com o perdão do spoiler conceitual, "Return to Monkey Island" apresenta um plot twist absolutamente frustrante, reciclado de uma obra anterior. Só para, já no pósfácio, explicar que aquela era a única forma possível de encerrar o ciclo para criadores e para fãs. Uma verdadeira carta aberta para quem ousa rir sempre da mesma piada. Uma das mais bonitas que já li.
Adeus, Guybrush. E obrigado pelos duelos de espada e insultos.
Return to Monkey Island
Plataformas: Nintendo Switch, macOS e Windows
Estilo: Aventura gráfica point-and-click (Apontar e clicar)
Roteiristas: Dave Grossman
e Ron Gilbert
Preço médio: R$ 64,95
(Loja Nintendo, Steam)