“O Papo de Música surgiu dessa minha vontade de entrevistar artistas que fossem de outros segmentos além do adulto e da MPB contemporânea. Abranger um segmento mais popular em que eu pudesse atingir um outro tipo de ouvinte, que não está acostumado a ouvir rádios adultas - ou então que está, mas que quer escutar outros artistas e tem outros interesses assim como eu”.
Ao falar de seu canal Papo de Música, a jornalista musical e apresentadora Fabiane Pereira resgata uma história que a acompanha desde antes de sua entrada no jornalismo. Criada com “todas as sonoridades” em sua casa, ela viu a música crescer em sua trajetória junto com seu passar de idade, e entrou no rádio como algo que continuava a sua formação de casa.
Com o trabalho na rádio, porém, viu um “recorte editorial” mais voltado a nova geração da música brasileira. Diante disso, há quatro anos resolveu expandir esse recorte e, então, criou o canal independente no YouTube “Papo de Música”, em que realiza “entrevistas exclusivas num tom íntimo e pessoal, além de informações sobre a história da música popular brasileira”.
Em setembro, o projeto que nasceu no YouTube foi levado pela primeira vez para a rádio, e nesta temporada o Papo de Música homenageia o músico e maestro Letieres Leite, que faleceu por Covid-19 em 2021. Além disso, é dedicado totalmente a artistas negros do Brasil. Ao longo de 19 episódios, Fabiane conversa com artistas como Chico Brown, Russo Passa Pusso, Teresa Cristina, Liniker, Djavan e Martinho da Vila - esse, por sinal, foi o primeiro entrevistado.
As entrevistas são veiculadas todo domingo, às 7 horas, na rede Nova Brasil FM. Nas segundas-feiras, são publicadas sem edição e em formato podcast nos perfis da rádio nas plataformas de streaming. Nas terças-feiras, ao meio dia, entram no canal do YouTube as conversas em formato audiovisual. A temporada se encerra em 18 de dezembro.
“Eu quis nessa temporada homenagear os artistas em vida, e não só os que estão na estrada há muitos anos, mas trazer artistas que estão pegando esse legado e apontando para frente. Eu quis juntar nessa temporada uma espécie de ancestralidade do futuro”, revela. Assim, Fabiane procurou entrelaçar diferentes gerações ao longo dos episódios. Xênia França, 36, e Alaíde Costa, 86, são alguns dos destaques da temporada.
Em entrevista ao Vida&Arte publicada em formato de podcast, Fabiane repercutiu, além de sua atuação no jornalismo musical e de seu projeto, sobre o cenário da produção musical no País atualmente. Uma das reflexões propostas que têm permeado esse contexto é a pressão sobre artistas para que façam conteúdos que se tornem sucessos rapidamente na chamada “era dos streamings”.
Em meio a isso, surgem os algoritmos das plataformas, que “moldam” a entrega dos conteúdos para o público de acordo com métricas de engajamento e de acesso pessoal do usuário. Para Fabiane, é válido e “legítimo” que artistas adotem estratégias que ajudem a impulsionar organicamente suas músicas em plataformas como o TikTok e o Spotify. Entretanto, isso passa a ser um problema quando o horizonte perseguido pelos profissionais são apenas os números, e não a qualidade de suas obras.
“Quando você deixa de querer criar algo genuíno única e exclusivamente com o objetivo de viralizar, eu acho preocupante, porque não acho que você esteja fazendo arte. Acho que você está de alguma maneira servindo apenas a uma indústria. Não que a arte e a música não façam parte dela, não estou romantizando, mas é possível equilibrar isso”, opina.
Nesse sentido, para a jornalista musical é possível até fazer uma retrospectiva recente envolvendo o consumo de música por diferentes gerações. Como Fabiane aponta, ela passou pelas fases dos CDs, dos MP3s, do retorno da adesão massiva aos vinis e, agora, pela era de streamings como Spotify e Deezer.
Se, por um lado, essa nova configuração pode ser prejudicial para a produção musical, por outro também pode ser porta de entrada para novos ouvintes. “Eu acho que os diferentes formatos só amplificam ainda mais a audiência e as disputas”, analisa.
Vislumbrando o futuro, Fabiane admite sua grande vontade em trabalhar na televisão e, quem sabe, transportar o Papo de Música para o formato. Ela analisa que há a uma redução da cobertura de cultura na TV aberta e que é necessário retomar esse espaço, principalmente diante da importância do setor ao longo da pandemia.
“Acho que ela precisa muito voltar a abrir espaço para a música e para a cultura, porque a cultura do Brasil foi o que nos salvou nesses dois anos de suspensão. Se não fossem as lives, o teatro on-line, as leituras poéticas, eu não sei o que seria da humanidade se todos nós estivéssemos sem cultura trancados e amedrontados por conta de um vírus ”, conclui.
Ouça a seguir o episódio com Fabiane Pereira no Podcast Vida&Arte.
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