No texto de curadoria da 8ª Bienal Internacional de Dança - De Par em Par, a professora e dançarina Claudia Pires destaca que o evento acontece, neste ano, "no mês da eleição mais importante do período de pós-redemocratização do Brasil". "É uma Bienal que traz mais explicitamente esse tom político", reforça a curadora, em entrevista ao Vida&Arte. Ressaltando a vocação de pluralidade e expansão do evento, a Bienal De Par em Par de 2022 aprofunda presenças diversas que constroem, em conjunto, um importante discurso em prol das liberdades de expressão e criação. A edição deste ano acontece gratuitamente entre os dias 21 e 29 em diversos espaços de Fortaleza, Itapipoca, Juazeiro do Norte e Paracuru.
A Bienal De Par em Par é realizada nos anos pares, enquanto a Bienal principal ocorre nos anos ímpares. Em 2020, a edição par não pôde ser realizada por conta do contexto da pandemia, tendo se adaptado ao formato remoto em 2021. 2022, portanto, marca o retorno da realização presencial do evento. Nesta edição, o bailarino piauiense Marcelo Evelin e a gestora cultural cearense Luisa Cela serão homenageados na abertura para convidados, que contará ainda com apresentações da Cia de Dança Mainara Albuquerque e da São Paulo Companhia de Dança.
"Esse retorno é em um contexto bem político. A gente quis mostrar muito o que estamos vivendo, os ataques à cultura que existem além da pandemia e todas as dificuldades: a gente não tem mais Ministério da Cultura, políticas federais", elenca David Linhares, diretor da Bienal que também assina a curadoria com Claudia e Felipe Sales.
David destaca que as obras selecionadas se ligam não somente ao contexto eleitoral, mas ao dos últimos anos. "Quando a gente vê o que está sendo produzido no Brasil agora, a arte retrata o que a gente vive politicamente. A Bienal está carregada dessas questões políticas que são urgentes de serem resolvidas", aponta.
"A gente foi buscar programar uma presença de maior pluralidade de corpos e obras aliadas a uma produção de discurso e narrativa mais abertamente voltada para a defesa das liberdades e também a denúncia dos desmantelamentos das políticas culturais no âmbito federal", dialoga Claudia.
Uma das proposições da curadoria neste ano foi aprofundar a acessibilidade em discurso e prática. "A gente está fazendo uma coisa inédita, uma oficina antes da Bienal começar com todos os técnicos e produtores para uma formação em acessibilidade", ressalta David. Obras da companhia potiguar Giradança, por exemplo, serão apresentadas no evento.
Além das produções, haverá também espaço de debate, com a realização de um seminário sobre dança e acessibilidade entre 25 e 29 de outubro, com nomes como Alexandre Américo, Rosa Primo e Helena Vieira. "É essa ideia da Bienal ser esse interlocutor que provoque inserção e atenção à diversidade de corpos, ao déficit de políticas públicas para pessoas com deficiência especialmente no campo cultural e é uma provocação à dança no que diz respeito ao entendimento de um corpo em dança", acrescenta Claudia.
A vocação expansiva da Bienal é reforçada ainda pela variedade de expressões e bases dos espetáculos. "Há a produção de laboratórios, obras de danças urbanas, com acessibilidade. É uma variedade de expressões e transversalidades, em diálogo com instituições, circulação nos interiores", destaca David.
A 8ª edição da Bienal De Par em Par traz maioria de espetáculos cearense e nordestina, mas também estimula intercâmbios com outras regiões do País e, inclusive, do mundo, com a presença de nomes como a francesa Myriam Gourfink e o moçambicano Jorge Armando Ndlozy em ações da programação. "A Bienal é a ação de difusão de criação em dança que mais avançou na ideia de conexões nacionais e internacionais e é dos poucos eventos no País que, já há décadas, vem buscando intersecções e 'desespecificar' a dança, entender a ela e ao movimento de maneira bastante expandida", elabora Claudia.
Obras como "Jango Jebezel" e "Tchau, Amor", do Outro Grupo de Teatro e da Inquieta Cia, respectivamente, são exemplos da aposta do evento na expansão de compreensões do que é a arte, uma vez que se ligam mais à ideia de teatro. "A Bienal traz a música para perto, extrapola a fronteira da dança e do teatro, vem dando uma contribuição a nossa cena de teatro local e nacional no que diz respeito a um corpo cada vez mais presente nas obras. A ideia é de expansão geográfica, mas também de linguagens. Se é uma dança plural que a gente busca, é uma Bienal para todas as danças possíveis", finaliza a curadora.
8ª Bienal Internacional de Dança - De Par em Par
Quando: de 21 a 29 de outubro
Onde: espaços diversos de Fortaleza, Paracuru, Juazeiro do Norte e Itapipoca
Entrada gratuita. É necessário retirar ingressos (mediante disponibilidade) em www.sympla.com.br/bienaldedanca
Mais informações: www.bienaldedanca.com e @bienaldedanca
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