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80 anos de Milton Nascimento: o encontro de Bituca com coral cearense
Vida & Arte

80 anos de Milton Nascimento: o encontro de Bituca com coral cearense

Milton Nascimento completa 80 anos de vida nesta quarta-feira, 26; Vida&Arte resgata presença do cantor em espetáculo em sua homenagem em Fortaleza
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A turnê
Foto: marcos hermes/divulgação A turnê "A Última Sessão de Música" marca a despedida de Milton Nascimento dos palcos

Quando os ponteiros do relógio marcarem a meia-noite desta quarta-feira, 26, um dos maiores nomes da história da música brasileira terá alcançado os 80 anos de vida. Dessas oito décadas, quase seis foram intensamente dedicadas às artes, com contribuições profundas para a cultura brasileira. Milton Nascimento, sem dúvidas, é presença obrigatória na lista de artistas mais importantes do País.

Vencedor de Grammys, o “Bituca”, como também é carinhosamente conhecido, é responsável por sucessos como “Maria, Maria”, “Travessia” e “Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor”, além de ter sido um dos responsáveis pelo movimento musical “Clube da Esquina”, que revolucionou a MPB nos anos 1970.

Para celebrar a sua trajetória, o Vida&Arte resgata a história de um espetáculo cênico-musical feito em Fortaleza em sua homenagem há quase dez anos - e que foi visto pelo próprio músico. Realizado pelo Coral da Universidade Federal do Ceará (UFC), “Menino” foi apresentado em duas temporadas, entre 2013 e 2014, e comemorou os 50 anos de carreira de Milton, completados em 2012.

Ao todo, 19 canções foram interpretadas, entre elas “Bola de Meia, Bola de Gude”, “Nada Será Como Antes”, “O Rouxinol” e “Maria, Maria”. Trinta e seis cantores participaram do projeto, que contou com casas cheias e, devido à repercussão, foi convidado a se apresentar no aniversário do Dragão do Mar.

A obra, com regência e direção dos maestros Erwin Schrader e Elvis Matos, narrava a vida de Milton passeando pelas lembranças de sua juventude até a chegada da vida adulta. Em meio a isso, o retrato do sonho, da busca pela arte e “da vontade de mudar as coisas” da sua “alma moleque”.

“O espetáculo ia contando essa travessia que é a nossa vida, de encontros, de despedidas, de momentos bons e ruins… Ao longo de todo o processo, fomos contando um pouco sobre isso e mostrando muito da força do coletivo, da união. Todos cantando juntos podemos modificar as coisas”.

As palavras são da jornalista e radialista Carolina Areal, que foi protagonista do trabalho ao interpretar o “Menino”. Ela relata que o personagem tinha um pequeno trem, que fazia alusão aos trens de Minas Gerais. Ao longo da apresentação, ele ia colhendo elementos como música, amizades, sonhos e também perdas.

“Só que esse pequeno trem, na verdade, era reflexo de um trem maior. Um trem que carregava 36 coralistas em cima do palco. Embora houvesse a representação de que era o Milton Nascimento, na verdade, ele era o reflexo de 36 pessoas de um coletivo, dessa união e dessa amizade que são tão presentes nas músicas dele”, afirma.

Apesar de não ter seguido profissionalmente como artista, Carolina aponta essa como uma das “experiências artísticas mais incríveis de sua vida”. Isso se deve também ao fato de que o Coral conseguiu cantar presencialmente para o próprio homenageado em duas oportunidades - uma no hotel em que ele estava hospedado, ainda quando não havia o trabalho montado, e outra em uma sessão exclusiva de “Menino” para convidados.

O encanto não parou por aí: o mineiro chegou a subir no palco e cantou ao lado dos coralistas. Depois, ele também saiu para uma confraternização na casa de um dos integrantes do coral. Carolina ressalta: “Para você escutar uma voz que você sabe que te é familiar desde a tua infância, que você escutava nos LPs, nos discos, no rádio e ele está confraternizando com você, sentado numa cadeira de plástico, no quintal de uma casa, confraternizando com trinta e seis jovens, sonhadores, que assim como ele acreditam na arte, no poder de mudança social… Uma experiência simplesmente inesquecível”. 

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Artur Guidugli participou da apresentação do espetáculo
Artur Guidugli participou da apresentação do espetáculo "Menino", do Coral da UFC, e abraçou o cantor Milton Nascimento

Um abraço em Bituca

“Eu sou de Minas Gerais, mas morei oito anos em Fortaleza, e durante muito tempo as músicas do Milton foram uma forma de eu voltar para casa, de visitá-la, porque a distância é grande e não dava para ir sempre para meu estado. Com a música do Milton, sempre foi uma maneira de me sentir em casa. Eu escutava a música dele e lembrava da minha avó, dos meus tios, dos meus primos, de irmos aos shows dele e discutirmos sobre as suas músicas… A obra dele é muito significativa e importante”.

Esses são os sentimentos do músico mineiro Artur Guidugli ao ouvir a obra de Milton Nascimento. Para ele, porém, as lembranças podem ser ainda mais especiais. Um dos integrantes do coral da UFC, ele é o rapaz que aparece sendo abraçado pelo seu ídolo - uma das oportunidades que teve de estar frente a frente com Bituca.

Os encontros aconteceram em dois momentos. O primeiro, em 2013, foi durante a pré-produção do espetáculo, em uma ocasião regada a muita emoção, como afirma Artur. Conterrâneos da mesma cidade (apesar de ter nascido em Belo Horizonte, Guidugli foi criado em Três Pontas, município onde Milton também foi criado), para Artur foi como se “tivesse encontrado um parente mais velho” porque, mesmo não conhecendo-o pessoalmente, sua vida “foi toda baseada musicalmente no Milton Nascimento e no Clube da Esquina”. “Eu chorei demais”, relata.

Em 2014, foi a vez de Milton assistir in loco ao espetáculo “Menino”, coincidentemente no dia do aniversário de Artur. O presente para o mineiro em Fortaleza se estendeu para todo o coral, que também teve a oportunidade de cantar no show de Bituca que seria realizado no Siará Hall.

As experiências inesquecíveis com Milton Nascimento ocorreram há quase uma década, e inegavelmente a sua discografia segue influenciando a vida de Artur - assim como foi desde o início. Para Artur, Milton está para os mineiros como Belchior está para os cearenses, em questão de importância e representatividade.

“A obra do Milton influenciou a minha vida, minha criação, minha forma de pensar música e composições. As minhas criações passam muito pela música do Bituca, é impossível não passar, além da questão afetiva”, pontua.

“Hoje em dia, vejo que o meu cantar é um pouco diferente, mas segue a mesma toada da do Milton. A toada que eu aprendi ensaiando, observando as letras, conhecendo um pouco mais da história dele, que tem um cantar que busca muito a justiça social, um mundo mais pautado pelo amor e pela alegria. Hoje, enquanto jornalista que trabalho com a voz e com o rádio, tento levar um pouco dessa mensagem de podermos seguir lutando e acreditando no poder da união”, finaliza a jornalista Carolina Areal.

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