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Livro narra história de João Cândido, o "Almirante Negro"
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Livro narra história de João Cândido, o "Almirante Negro"

|história|Em livro, ilustradora Flávia Bomfim conta a trajetória de João Cândido, líder da Revolta da Chibata, por meio de bordados
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Flávia Bomfim retrata história de João Cândido por meio de bordados no livro
Foto: Reprodução Flávia Bomfim retrata história de João Cândido por meio de bordados no livro "O Adeus do Marujo"

"Todo marinheiro é um barco. Todo marinheiro é um mapa, uma carta náutica e um caminho. Todo marinheiro sabe a rota dos ventos e das estrelas. Todo marinheiro gira como o tempo gira". A partir das palavras da ilustradora baiana Flávia Bomfim, é possível perceber quantas histórias um marinheiro pode carregar consigo, explorando conhecimentos específicos sobre caminhos de um ambiente não totalmente dominado: o mar.

A própria artista, ao iniciar a história de seu livro "O Adeus do Marujo", aponta para o mar como um lugar "onde ondulam memórias, sonhos e também batalhas". Sim, o mar também pode ser ponto de inspiração para resistência - e o protagonista da obra de Bomfim dominou com muita relevância esse campo: João Cândido.

Conhecido também como "O Almirante Negro", ele liderou, em 1910, a "Revolta da Chibata", em um movimento de marinheiros contra castigos físicos sofridos na Marinha brasileira e melhores condições de trabalho. Em homenagem a essa importante personalidade da história do Brasil, Flávia Bomfim construiu o livro de 48 páginas publicado pela Pallas Editora.

A obra destaca a luta de João Cândido por meio de ilustrações e bordados de Flávia sobrepostos em fotos de jornais da época. Um detalhe é que o título do livro faz menção a um bordado do próprio Almirante Negro quando esteve preso na Ilha das Cobras - bordar, aliás, acabou se tornando uma de suas ocupações.

Vencedora de um prêmio internacional sul-coreano em 2021 com algumas de suas ilustrações, Flávia Bomfim em seu livro a técnica da "cianotipia", evoca o azul do mar em referência ao marinheiro homenageado. "Eu quis trazer a dimensão desse azul do oceano. O mar sabe de tudo. Quis trazer também a cor como uma narrativa dessa história", revela.

"O Adeus do Marujo" é resultado de pesquisas de Flávia em diversos artigos acadêmicos e relatos jornalísticos da época de João Cândido. Esses recortes de imprensa, segundo a autora, narravam os "feitos" do marinheiro, e os artigos também apresentavam a dimensão do bordado em sua obra, relacionando o homem dentro do contexto da Marinha com a sua arte.

No caso da obra de Bomfim, a história que se propõe a contar não vem a partir somente dos bordados. Ela defende que explora duas dimensões, sendo uma feita a partir de fotografias históricas divulgadas em jornais de época e a outra a partir da "iconografia de João Cândido" presentes em seus dois bordados. Assim, busca contar a história para além "da narrativa jornalística", acessando uma outra maneira de falar sobre esses "microrrelatos" em um "plano mais sutil".

"O livro propõe duas camadas. Uma é a narrativa histórica, em que eu conto o ocorrido com a Revolta da Chibata e com o João Cândido, mas também tentando abrir para que a sensibilidade de olhar para esse relato histórico possa ser possível quando a gente escutar sobre essa história e a gente possa entender mais quem foi esse personagem", relata.

Não apenas para João Cândido, aliás, a arte do bordado foi importante para Flávia. "O bordado é uma das minhas principais expressões, não só no campo das artes visuais, mas também dentro do meu fazer da ilustração. Então, eu acho que conectar essa dimensão também foi uma intenção clara no meu processo criativo de não só trazer a escrita e a iconografia de João através do bordado, mas também conectar um pouco com a minha", alega.

"Eu até cheguei a imaginar: 'E se eu me encontrasse com João para bordar, como se ele estivesse me contando toda a história da revolta?'. Então, essa foi uma espécie de abertura que eu me propus de conectar esses dois tempos do bordado: o meu e o de João", diz.

Em seu trabalho, a ilustradora ressalta a trajetória de João Cândido, e também defende a importância de continuar falando sobre esse e vários outros personagens históricos do Brasil. "Reconhecer os personagens da nossa história e entender que tudo que fundamenta, determina e conduz o que a gente está vivendo hoje, todos os avanços e as conquistas, vieram de lutas importantes dos nossos antepassados. João é um personagem nessa corrente de resistências", infere.

A autora prossegue: "Trazer esse homem preto, dissidente, que tentou quebrar - e conseguiu quebrar - muitos grilhões de opressão da nossa história é importantíssimo para a gente entender o que acontece hoje. A gente pode olhar para o passado e ele não vai mudar, ele já aconteceu. Mas a nossa maneira de nos relacionarmos com ele muda. A gente pode revisitar a história, em um exercício de redescobrimento, e levantar algumas tábuas pesadas que escondiam narrativas para revelar outras não só de João Cândido, mas de vários outros personagens".

 

 

Capa do livro
Capa do livro "O Adeus do Marujo"

O Adeus do Marujo

De Flávia Bomfim

Pallas Editora

48 páginas

Quanto: R$ 89

Onde comprar: no site pallaseditora.com.br

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