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Após transições, mercado editorial prevê expansão em 2023
Vida & Arte

Após transições, mercado editorial prevê expansão em 2023

Em meio a XIV Bienal Internacional do Livro, V&A traça panorama do mercado literário em 2022. Autores e editores discutem possibilidades, confira:
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Autores cearenses buscam expandir oportunidades dentro da cena literária  (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Autores cearenses buscam expandir oportunidades dentro da cena literária

"De toda gente para todo mundo". Esse é o tema que norteia a XIV Bienal Internacional do Ceará, evento que segue até o dia 20 de novembro no Centro de Eventos. O mote condensa muito do que a literatura é capaz de fazer: reunir pessoas, mobilizar paixões e aproximar debates. Em um panorama que reúne mais de 90 mil títulos em, aproximadamente, 150 estandes, o evento se aproxima de autores e leitores para proporcionar novas dimensões do mercado editorial brasileiro.

O setor, inclusive, segue em constantes reviravoltas após o período inicialmente conturbado da pandemia, principalmente entre o início de 2020 e 2021. Segundo dados do levantamento Painel do Varejo de Livros no Brasil, realizado pela Nielsen Bookscan e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), o primeiro semestre de 2022 registrou a venda de R$ 10 milhões em livros, índice superior ao mesmo período de 2021. O indicativo mostra que, apesar das incertezas financeiras e mercadológicas, a área continua sendo um ponto atrativo para um público que deseja, cada vez mais, agregar títulos às prateleiras.

As direções do setor apontam cada vez mais para a abrangência de nomes e temas, tendo a diversidade - ou o que ainda falta para alcançá-la dentro da literatura - como ponto chave das bienais de São Paulo e da capital cearense. É o que pode explicar, também, os distintos gêneros presentes nas listas de livros mais vendidos. Apenas na lista da plataforma literária PublishNews, consta "É Assim Que Acaba" (2016), romance de Colleen Hoover, "O Poder da Cura" (2022), religioso de Padre Reginaldo Manzontti, e "Torto Arado" (2019), obra escrita por Itamar Vieira Junior que toca nas questões de um Brasil profundo.

"Os livros que mais venderam desde a pandemia, entre 2020 e 2021, são de desenvolvimento pessoal. As pessoas buscam livros que pudessem ajudar naquele momento, que fossem capazes de aumentar a resiliência", explica o editor da Citadel Editora, Marcial Conte Jr.. Dados da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), mostra que também houve crescimento da literatura juvenil. As informações são referentes ao ano de 2021.

"O mercado se abriu novamente, as livrarias conseguiram permanecer abertas. O leitor está ávido não só por compra online, mas para folhear os livros. As pessoas ficaram em casa e passaram a ver o quanto os livros são importantes", complementa o editor. Para Marcial, a grande concorrência do mercado não é o virtual, que por vezes pode ser um aliado, mas sim o tempo gasto com streaming e mídias sociais. "O livro mexe com uma parte do cérebro que os filmes, as músicas, outras formas de captar conteúdo não fazem".

A Citadel mantém padrão adquirido com a venda da nova edição de "Mais Esperto Que O Diabo" (1938), título de Napoleon Hill editado e traduzido pela companhia, configurando nas listas de mais vendidos do Brasil no ano de 2020 e 2021. Ademais, o editor reforça que a empresa tem se preocupado em incluir distintas pautas nas estantes, a exemplo de "A Menina Que Queria Ter Rugas" (2022), lançamento escrito por Fernanda Moro. "Fala sobre essa questão do empoderamento feminino, do poder feminino, a beleza do envelhecimento em si. Valorizar cada ruga, não como algo ruim, mas como algo positivo, uma história que dá certo".

Para 2023, a editora busca seguir a variante considerada proveitosa deste ano e fazer o lançamento de mais 120 títulos, vários deles na temática de desenvolvimento pessoal. "Nosso lema é livros para mudar o seu mundo. O livro tem que fazer uma sociedade mais feliz, é um conhecimento aplicado à vida cotidiana, para que melhore a convivência", define Marcial.

 

Mercado editorial

A escritora Vanessa Passos estreou no gênero romance com o livro "A Filha Primitiva" (2021) depois de já ter publicado contos. Ela percebeu, então, que a nova categoria tinha um "peso muito importante" para o mercado editorial. O lançamento aconteceu por intermédio do Prêmio Kindle de Literatura, concedido pela Amazon Brasil e editora Nova Fronteira. "Eu que já tinha uma trajetória como autora independente, decidi trabalhar nesses pilares: deixar um livro bem escrito, bem revisado e trabalhar fortemente na divulgação, independente dele vencer ou não. Eu queria que ele alcançasse leitores nessa trajetória, e foi o que aconteceu", rememora a autora. O livro chegou a mais de 530 avaliações antes mesmo de ter sido anunciado como vencedor, com alcance do grande público e da crítica.

"Saber como utilizar as estratégias, redes sociais, participar ativamente dos clubes de leituras, foi fundamental", explica Vanessa ao detalhar o processo até o lançamento. Ela oferta cursos de escritas e materiais para escritores que desejam ter a primeira publicação e reforça o quanto pode ser difícil para pessoas fora do Sudeste. Por vezes, a autora escutou que não poderia escrever uma obra situada no Estado se quisesse ter uma produção "universal". "Por que não seria universal? Hoje eu vejo leitores que vão conhecer a oralidade e muitas das questões da cultura nordestina a partir do livro, isso é maravilhoso", complementa.

Quem está em constante contato com realizadores culturais do Ceará é a atriz, produtora, escritora e revisora Sara Síntique. Ao percorrer a própria trajetória dentro da escrita, Sara destaca que "Corpo Nulo" (2015), primeiro trabalho autoral publicado, pôde ter vida por meio da Substânsia, uma das editoras independentes desenvolvidas na Cidade. "Já tinha movimentos independentes, já tinha zines, mas acho que a Substância chegou com muita ousadia publicando um grande número de autores em pouco tempo. Acho que isso causou um burburinho de diversas formas, tanto para o fomento desses livros, para a abertura de espaço para esses autores, como também para a possibilidade de outros editores surgirem", destaca.

Estes deslocamentos dentro da cena literária, ressalta a escritora, são "fundamentais" para fazer a literatura circular. Sara também atua como produtora colaboradora de Literatura do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBN), espaço que propõe a ampliação de ações destinadas à área. "Existe uma curadoria aberta, que busca ter uma diversidade de gênero, busca ter equidade racial, fazer jus a essa luta antirrascista. A programação é semanal, a gente tem tentado fazer da forma mais diversa possível", comenta.

São estas atividades promovidas pela Cidade que permitem a troca entre quem escreve e quem lê. Ela faz parte da programação da Bienal nas mesas "Escrever Um Corpo" e "Como A Crítica É Pensada A Partir da Curadoria de Revistas" e pontua que o evento é um importante lugar de diálogo: "Esse mercado tem que estar integrado com a discussão em torno do sensível. Lutar, como Antônio Cândido disse, por um direito à literatura, porque a literatura move para o que é mais humano".

 

Edições Demócrito Rocha

A Edições Demócrito Rocha (EDR), selo editorial da Fundação Demócrito Rocha (FDR), se prepara para um 2023 movimentado. É o marco dos 35 anos da iniciativa e de uma série de mudanças dentro do catálogo. "Nós temos o lançamento da coleção original `Nova Terra Bárbara´, feita a partir dos anos 2000 com a concepção original do Lira Neto, biógrafo que era editor na época. Nós colocamos agora uma comemoração de 20 anos da coleção, com livros no formato pocket, de perfis biográficos de personagens cearenses ou que deixaram o legado aqui no Ceará, como José Alcides Pinto e Adísia Sá. Nós também vamos ter uma coleção chamada `Biblioteca O POVO´, de seis títulos de textos que saíram no O POVO. Inclusive, o único livro de Demócrito Rocha, fundador do O POVO, com crônicas extraídas desde 1928 até 1943", explica Raymundo Netto, escritor e gerente editorial e de projetos da FDR.

Os planos já estão sendo adiantados nesta edição da Bienal do Ceará, que conta com um estande da instituição. O espaço reúne livros com até 70% de desconto. Parte deles destaca a história de personalidades do Estado, o grande diferencial da EDR. "Posso dizer que nesse sentido nós fomos muito pioneiros. Desde que surgiram, as Edições sempre privilegiaram autores e ilustradores cearenses. Isso a gente quer continuar mantendo". Além de prosseguir a tradição, a organização busca expandir seus produtos para o meio digital. "É interessante porque nos liberta um pouco das livrarias, que é um processo muito complexo e fechado. A partir do final do ano, nós vamos ter cerca de 500 títulos que vão ser convertidos para E-Book. As pessoas, ao pouco, estão tendo mais experiências com o formato, melhorando a tecnologia, nós queremos entrar cada vez mais nesse mercado", adianta.

Raymundo reconhece que, assim como as demais editoras, a EDR vive um momento de trânsito após a pandemia. Isso significa, também, compreender os novos interesses dos consumidores. "Houve uma queda muito grande de venda de livros no Brasil, mas por conta das tecnologias, começaram a comprar livros por meio digital no lockdown. Os e-commerces deram um salto fantástico nesse período. É onde a gente diz como a cultura é importante e as vezes a gente não tem noção do impacto que ela tem na vida. Estamos tendo uma recuperação agora no segundo semestre, principalmente pelos editais. Até hoje, a maior parte das vendas são livros infanto-juvenis, embora nós reconheçamos que existe uma tendência muito forte de dois ou três anos onde os clássicos voltaram", afirma. Os preferidos do público envolvem livros de fantasia, de ficção científica, suspense e terror. "Talvez a Demócrito Rocha comece a aposta mais em títulos infanto-juvenis, vai depender muito também do adiantamento do mercado. Existe muita gente que já está publicando, por causa da tecnologia, existe a autopublicação e o surgimento de pequenos editores. Tem a Câmara Cearense do Livro (CLL), que abriga outras instituições, nós temos um universo muito amplo", considera.

Como adquirir títulos da EDR: www.livrariaedr.fdr.org.br ou pelo Whatsapp (85) 991838515

 

FORTALEZA, CE, BRASIL, 25.08.2019: Ultimo dia da Bienal Internacional do Livro . Centro de eventos do Ceara.   (Fotos: Fabio Lima/O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 25.08.2019: Ultimo dia da Bienal Internacional do Livro . Centro de eventos do Ceara. (Fotos: Fabio Lima/O POVO)

Bienal do Livro

Com o tema "Diversidade: De toda gente para todo mundo", a XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará acontece até 20 de novembro. O evento é promovido após dois anos de paralisação, motivados pela pandemia, e conta com curadoria da escritora Conceição Evaristo, do poeta cearense Talles Azigon, da multiartista Tércia Montenegro e do escritor indígena Daniel Munduruku. A iniciativa será dividida em dez eixos: infância, juventude, cultura alimentar, mercado editorial, oralidade e ancestralidade, formação de professores, literatura de cordel, mediação de leitura, livro técnico e acadêmico e ilustração.

Durante coletiva realizada na última terça-feira, 8, o secretário da Cultura Fabiano Piúba reforçou que o projeto traz quatro eixos importantes. "A dimensão da democratização do acesso ao livro, ela busca promover a leitura e a formação leitora. É uma bienal que traz a promoção do livro no imaginário cultural do povo brasileiro e traz um ambiente de economia da cultura", defendeu. O titular da Pasta ainda mencionou que a Bienal é um espaço de políticas públicas e de educação.

Entre os nomes confirmados, estão a ganhadora do Prêmio Jabuti 2020 Cida Pedrosa e a jornalista Fernanda da Escóssia, autora do livro "Invisíveis: uma etnografia sobre brasileiros sem documento". A lista de convidados também conta com Dalia Maria, Fernanda Trias, Mailson Furtado, Nádia Camurça, Pedro Salgueiro e Vanessa Passos.

A programação completa está disponível no site da Bienal do Livro.

 

Dados

3,83 milhões de livros foram comercializados
R$ 161,05 milhões foram faturados no mercado
6,61% foi o avanço da venda de exemplares

Números referentes ao primeiro semestre de 2022, retirados de pesquisa do Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL).

Capa do livro
Capa do livro "É Assim Que Acaba", de Collenn Hoover

Mais vendidos 2022

01) "É Assim Que Acaba" (2016), de Colleen Hoover

02) "Mais Esperto Que O Diabo" (2011), de Napoleon Hill

03) "Nas Pegadas da Alemoa" (2022), de Ilko Minev

04) "Amor & Gelato" (2016), de Jenna Evans Welch

05) "Mulheres Que Correm Com Os Lobos" (1989), de Clarissa Pinkola Estés

06) "O Poder da Autorresponsabilidade" (2018), de Paulo Vieira

07) "O Poder da Cura" (2022), de Padre Reginaldo Manzotti

08) "Torto Arado" (2019), de Itamar Vieira Junior

09) "Os Sete Maridos de Evelyn Hugo" (2017), de Taylor Jenkins Reid

10) "Heartstopper: Dois garotos, um encontro" (2016), de Alice Oseman

*Com dados da plataforma literária PublishNews

 

XIV Bienal Internacional do Livro

Quando: 11 a 20 de novembro
Onde: Centro de Eventos do Ceará (Av. Washington Soares, 999 - Edson Queiroz)

Programação completa no site da Bienal do Livro(https://bienaldolivro.cultura.ce.gov.br/)

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