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Criador de "Um Sábado Qualquer", cartunista Carlos Ruas participa da Bienal
Vida & Arte

Criador de "Um Sábado Qualquer", cartunista Carlos Ruas participa da Bienal

Cartunista Carlos Ruas, criador da série de tirinhas "Um Sábado Qualquer", monta estande próprio na Bienal do Livro do Ceará e fala sobre sua trajetória ao V&A
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Série de tirinhas
Foto: Reprodução Série de tirinhas "Um Sábado Qualquer" foi criada pelo cartunista Carlos Ruas

É quinta-feira à tarde, em 17 de novembro, quando o quadrinista e empresário Carlos Ruas concede entrevista para o Vida&Arte no estande do O POVO na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará. Para ele, era o horário mais adequado, pois o movimento estaria mais tranquilo em relação à visitação no seu próprio estande no evento.

Criador das tirinhas “Um Sábado Qualquer”, com 13 anos corridos desde as suas primeiras publicações na internet, ele decidiu “sair da zona de conforto” e participar pela primeira vez da bienal cearense, trazendo consigo os produtos (como pelúcias e livros) atrelados aos seus desenhos.

Premiado com o HQMix (considerado o “Oscar” dos quadrinhos brasileiros) na categoria Webtiras em 2012, idealizador também das tirinhas “Mundo Avesso” (2014) e “Cães e Gatos (2016) e com milhões de seguidores em suas redes sociais (sendo três milhões apenas no Facebook de sua tirinha), ele está na Bienal desde o primeiro dia recebendo fãs, vendendo seus produtos e concedendo autógrafos. Ao Vida&Arte, compartilhou um pouco da experiência desta Bienal e pontos marcantes de sua trajetória.

Em “Um Sábado Qualquer”, Carlos aborda de forma bem-humorada temas religiosos, tendo como personagens principais Deus, Luciraldo (Luci), Jesus Cristo, Adão, Eva e também espaço para personalidades como Einstein e Darwin e deuses de outras religiões, a exemplo de Zeus, Odin e Rá.

Com seu trabalho popularizado muito a partir do alcance permitido pela internet, Carlos destaca a importância do meio como forma de ampliar a visibilidade de novos artistas. Se antes, para quadrinistas, o espaço ficava restrito aos meios impressos (como em jornais), agora é possível expor mensagens de forma gratuita e com maior possibilidade de serem disseminadas.

Através dela, então, Ruas conseguiu agregar uma base de milhões de fãs que acompanham sua obra pelas redes sociais. Nesse sentido, ele pontua como seus leitores contribuem para a continuidade de seu trabalho - e, com um público tão vasto, a atemporalidade de suas criações também se torna um marco de sua arte.

“Eu considero os meus leitores o combustível da minha criação. Eu sei que a nossa arte pode ser feita apenas para nós, como um diário, uma coisa pessoal. Mas, quando ela é apreciada e você conquista outras pessoas em torno de uma mensagem que você quer passar, conseguir conquistar uma legião de pessoas que querem ouvir aquilo que você está falando e desenhando é muito gratificante. Por isso faço tirinhas atemporais. Eu não gosto de fazer tirinhas do assunto da semana, porque elas morrem daqui um mês. Eu gosto de fazer tirinhas que daqui a 500 anos as pessoas estarão lendo. Eu espero que 500 anos se passem e minhas tirinhas continuem vivas nas mentes das pessoas”, revela.


Trezes anos se passaram desde o início de “Um Sábado Qualquer”. Depois, vieram tirinhas como “Mundo Avesso” e “Cães e Gatos”. Todas essas séries atravessaram, assim como seu criador, diferentes períodos de pensamentos e mudanças importantes nas maneiras de consumo e produção da arte.

Para Carlos, é inegável que ele próprio também mudou, acompanhando seus traços e a forma de pensar sua arte. Ele, por sinal, gosta de acompanhar o processo de transformações sociais e culturais, e comenta sobre as mudanças inerentes a pouco mais de uma década de suas tirinhas.

“Eu estou em uma fase em que estou me reencontrando, me reinventando. Estou vendo e publicando tirinhas de dez anos atrás, mas com a minha visão atual. O esqueleto da tirinha é bom, mas às vezes a piada, o conceito, o traço e a até as linguagens de exibição estão ultrapassadas”, afirma.

Além da produção de seus desenhos, Carlos Ruas também enfrenta a rotina da vida como empresário, e precisa lidar com dois lados que, apesar de parecerem distantes, necessitam ser combinados para que um artista consiga viver de suas produções. Entretanto, ele admite que esse não é um processo fácil. Na verdade, é bem mais enfático ao falar sobre essa necessidade de conciliação.

“Eu odeio lidar com esses dois lados. Odeio do fundo do meu coração. Porque o artista quer fazer sua arte porque está empolgado, por impulso, quer fazer porque ele ama. Já o empresário quer fazer para saber se vai dar lucro e, às vezes, quer fazer, mas (o produto) não pode ser de capa dura porque o custo vai ficar muito grande, não pode ter relevo, verniz, rodopiar, virar drone, não pode”, comenta.

Assim, é necessário ter um equilíbrio entre o lado de artista e o empresarial - nesse sentido, o quadrinista aponta ser uma necessidade de todo artista: “As pessoas acham que são extremos. O artista está de um lado da régua e o empresário está do outro, mas não: isso faz uma curva e transforma a régua em uma ferradura. Para você viver da sua arte, você tem, que saber empreendê-la, e buscar esse equilíbrio é muito complicado. Às vezes já estive muito para um lado, às vezes muito para outro, então sempre estou na corda bamba para encontrar esse equilíbrio. Eu prefiro encontrar o equilíbrio entre o ateu e o evangélico que entre o artista e o empresário”.

O autor enfatiza: as suas tirinhas são criadas para gerar debates e reflexões, pregando sempre a liberdade religiosa. “Eu sou muito cuidadoso com isso, até porque não quero ofender ninguém - e é difícil também não ofender ninguém. Mas, se uma tirinha minha só gerar ofensa, qual teria sido a minha contribuição para o mundo? O que eu quis ganhar gastando energia nesse conteúdo? Então, na verdade, o que eu faço é para trazer reflexão e debate. Às vezes eu crio uma certa provocação para tirar a pessoa da sua zona de conforto”, pontua.

Carlos também ressalta o seu desejo de estar presente em seu estande em todos os dias da Bienal, pois, além de ter sido resultado de um investimento seu, faz questão de receber os fãs que apreciam seu trabalho e, por vezes, se deslocam de uma grande distância para encontrá-lo presencialmente.

Se depender do artista, a próxima edição terá novamente a exposição de suas criações: “Eu sou muito encantado pelas Bienais que ocorrem pelo Brasil, e pretendo voltar a todas. Estou gostando muito de fazer esse circuito, e se preparem, porque daqui a dois anos eu quero retornar à Bienal do Ceará, porque gostei bastante de estar por aqui”.

Bienal do Livro

Quando: até domingo, 20; visitação das 9h às 22 horas
Onde: Centro de Eventos (Av. Washington Soares, 999 - Edson Queiroz)

Acompanhe o artista

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