“Tempo, tempo, tempo, és um dos deuses mais lindos”, entoa Caetano Veloso na canção “Oração ao Tempo”. Como parte da sociedade, a música também é impactada pela passagem do tempo. Aos 73 anos, o cantor mineiro Flávio Venturini é testemunha de mudanças tanto de gerações como também no modo de produzir arte. Reunindo clássicos e projetos recentes, ele se apresenta nesta semana no Ceará, com show em Sobral, Fortaleza e no Crato.
“O mundo mudou muito e a gente não tem mais ídolos tão grandes como no passado. Hoje o artista faz uma carreira e some porque a renovação é muito mais rápida, o mundo hoje é digital. Também não há grandes movimentos de música acontecendo”, avalia o músico, cantor e compositor de sucessos como “Espanhola”.
Venturini cita nomes como Roberto Carlos, Milton Nascimento, Caetano Veloso e Gilberto Gil como artistas marcantes “algo difícil de voltar a acontecer”, segundo julga. “Eu senti muito a perda do Erasmo, estamos tristes com a despedida (dos palcos) do Milton. Ele é meu padrinho desde o começo, é uma pessoa muito importante na minha vida e na vida de muitas pessoas”, homenageia Flávio, em referência aos recentes falecimentos de Erasmo Carlos e Gal Costa.
Apesar disso, considera que a nova geração da Música Popular Brasileira é talentosa e diz escutar por meio de plataformas de streaming de áudio. “Eu gosto de música romântica e uma boa balada sempre me inspira. Hoje em dia a gente tem um universo de músicas para ouvir. É até difícil você acompanhar o que faz sucesso. Eu ainda ouço rádio, mas pouco, a internet está sempre indicando algo. Ah, eu gosto de Vanessa da Mata, é alguém que eu escuto”, revela o artista.
Quando jovem, esteve com Milton Nascimento nos bares e palcos do Clube da Esquina, grupo de artistas de Belo Horizonte da década de 1960, que além deles, reuniu nomes como Wagner Tiso, Lô Borges, Beto Guedes e Márcio Borges.
Mas antes mesmo de entrar para o movimento artístico, a música já acompanhava Flávio Venturini. Aos 3 anos de idade teve seu primeiro contato com a linguagem e logo demonstrou interesse.
“Eu nasci em Belo Horizonte, meus pais são do interior. Minha mãe tinha uma pensão e meu pai de um restaurante, mas ela gostava de ter o negócio dela. Lá morava um maestro que tinha um piano no quarto, ele tocava na noite de Belo Horizonte, e eu adorava ficar ouvindo ele tocar. Eu gostava muito de ouvir aquilo e minha mãe me pegava dormindo na porta do quarto dele”, rememora o artista.
Entre discos de músicas clássicas, orquestras americanas, boleros e canções de Luiz Gonzaga, passeava por diferentes estilos, que mais tarde se tornaram referências. “Cresci nos anos 1950, no pós guerra, então foram anos muito românticos, eu acho que as pessoas queriam esquecer aquela tragédia da guerra e voltaram-se para uma vida mais feliz, então tinha muitas coisas românticas”, conta Venturini.
O ponto de partida para a arte viria com seu primeiro instrumento, um acordeon, presente de sua mãe. “Eu nunca evoluí muito no acordeon, foi só um início um início assim na música. Meu pai tinha um piano nesse restaurante que tinha música ao vivo, eu ia para lá de tarde e ficava tocando”, conta Flávio. Ouvindo as letras da banda de Liverpool, aprimorou habilidades como músico.
“Já era década de 60, então eu queria ficar me ‘tirando’ as músicas dos Beatles do piano, aí meu pai percebeu que realmente eu tinha jeito para música, tinha um ouvido bom para reproduzir no piano. Então ele me deu um piano, aí eu entrei numa escola”, completa.
Seria na Fundação de Educação Artística de Minas Gerais que ele se formaria como artista, carreira a qual nunca deixou. “A escola fazia os festivais de inverno de Ouro Preto na época era muito importante no Brasil na minha formação musical”, pontua. Dali, passaria pelo movimento Clube da Esquina, pelo grupo musical O Terço, no período de 1974 e 1976, até fundar o grupo 14 Bis, em 1979. A carreira solo a qual mantém até hoje viria após deixar o 14 Bis, em 1989.
Para os shows no Ceará, prepara um repertório com canções já conhecidas pelo público e também de seu novo projeto, o álbum “Paisagens Sonoras”.
“Gravei o primeiro disco Paisagens Sonoras volume 1 no início da pandemia, mas serão três. No show vou mostrar algumas músicas que se destacaram desse trabalhos. Além dos meus sucessos ‘Todo Azul do Mar, ‘Espanhola’, ‘Mais uma Vez’, que é minha parceria com Renato Russo e ‘Santo Amaro’ que é a minha música mais ouvida nas plataformas digitais. Além, claro, de algumas músicas que foram trilhas sonoras de novelas”, revela ele.
Flávio relembra a última vez que veio ao Ceará, para uma festa privada há cerca de quatro meses, e se diz entusiasmado para os três shows que realiza em mais uma passagem pelo Estado. “Estou feliz de tocar no Ceará, tenho muitos amigos. Quem gosta do meu trabalho vai gostar!”, entusiasma.
Prepare-se para o show
1. O Céu de Santo Amaro
2. Clube da Esquina II
3. Noites com sol
4. Espanhola
5. Todo Azul do Mar
Shows de Flávio Venturini no Ceará
Fortaleza
Quando: quinta-feira, 8, às 19 horas
Onde: Anfiteatro da Beira Mar (Av. Beira Mar, 3620 - Meireles)
Gratuito
Crato
Quando: 9 de dezembro, às 20 horas
Onde: Sesc Crato (R. André Cartaxo, 443)
Ingressos: R$ 30 ou 6 kg de alimentos não perecíveis (comerciário/dependentes) e R$ 60 ou 12 kg de alimentos (público em geral), a serem adquiridos no endereço: Rua André Cartaxo, 443 – Palmeiral
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