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Cássia Eller 60: influências da artista em cantoras brasileiras
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Cássia Eller 60: influências da artista em cantoras brasileiras

Na data em que completaria 60 anos, Cássia Eller é celebrada por cantoras que se inspiraram em uma das maiores representantes do rock brasileiro
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Um dos maiores nomes do rock brasileiro, a cantora e compositora Cássia Eller faria 60 anos em 2022 se estivesse viva (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Um dos maiores nomes do rock brasileiro, a cantora e compositora Cássia Eller faria 60 anos em 2022 se estivesse viva

Foi em um 10 de dezembro, há exatos 60 anos, que nasceu uma das maiores vozes da história do rock brasileiro e da música nacional. Intérprete de grandes sucessos como “O Segundo Sol”, “Malandragem”, “Palavras ao Vento” e “Relicário”, sua força se demonstrava principalmente nos palcos, mas também se expandia para a influência que passava para outros e outras artistas que nela se inspiravam.

Afinal, mesmo interpretando canções de outros artistas, imprimia aos vocais sua personalidade e atestava a autenticidade de sua performance, rompendo as barreiras do sucesso. Entretanto, teve carreira breve. Seu primeiro disco foi lançado em 1990 e 11 anos depois sairia a notícia de seu falecimento, causado por um infarto do miocárdio 19 dias depois de seu aniversário de 39 anos.

Mesmo assim, sua obra segue sendo celebrada e servindo de referências para diferentes cantoras, que compartilham lembranças e influências da roqueira em suas carreiras.

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Cantora cearense Aline Costa
Cantora cearense Aline Costa

Aline Costa

Para Aline Costa, quando cantava em bares e em eventos em Fortaleza no início da carreira, Cássia Eller já era presente em sua rotina quando clientes pediam que interpretasse músicas cantadas por Eller, como “Por Enquanto”.

“Eu era alucinada e ainda sou até hoje por ‘Rubens’, do Mário Manga, música que não ficou tão conhecida, mas que, mesmo assim, eu cantava e canto para o povo ouvir. Fiz questão de gravá-la para participar das etapas que me levaram ao palco principal do Ceará Music em 2002, junto à cantora cearense, Lupe Dualibe, para homenagear Cássia, após ter nos deixado tão cedo”, complementa.

“Sempre cantei MPB. Mas por ter uma voz grave e ser mais ‘agitada’, acabava por dar às músicas uma roupagem mais pop rock. No entanto, não era exatamente isso que eu queria colocar nas minhas interpretações. Cássia foi uma janela que abriu minha arte. Depois de conhecer seu trabalho, passei a me libertar de algumas amarras e coloquei para fora meus desejos de rasgar a voz, as roupas e ser mais eu”, expressa.

De Cássia, Aline incorporou características como a sua irreverência, mas também a decisão usar sua voz “para interpretações mais próprias”. “Procurei elaborar melhor arranjos e outros detalhes nos shows que tivessem mais o meu jeito. Saí dos covers tradicionais. Cássia fazia das músicas alheias algo que a autoria parecia ser dela”, diz.

Aline até chegou a raspar a cabeça muitas vezes “para colocar a Cássia de forma marcante” em sua vida musical. “Penso que tudo que a Cássia me inspirou no seu jeito de cantar e se comportar serviu para mudar minha vida, me deu liberdade artística e creio que deve ter tido esse mesmo efeito em diversas outras cantoras e até cantores”, compartilha.

A cantora cearense ainda destaca: “Cássia Eller é, para a arte mundial, imprescindível. Não vai existir igual! Por isso, seu legado permanecerá atravessando gerações”.

Mona Gadelha também atua como coordenadora do Laboratório de Música do Porto Iracema das Artes.
Mona Gadelha também atua como coordenadora do Laboratório de Música do Porto Iracema das Artes.

Mona Gadelha

Mona Gadelha já sabia da “potência em que a Cássia Eller se tornaria” com o lançamento de seu álbum de estreia, que levava seu próprio nome. Com participação do baixista cearense Jorge Helder, o trabalho reunia canções marcantes para a cantora e compositora cearense, como “Já deu pra Sentir” e “Rubens” - que Gadelha aponta uma “conversa” com sua música “Cinema Noir”, de seu primeiro CD.

“Com essa proposta de repertório inovadora, com a postura rocker (outra coisa rara), com a forma livre de expor sua sexualidade”, lembra Mona Gadelha ao se encantar com Cássia Eller depois de ter assistido a um show da artista no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Para a cearense, Cássia sempre será uma inspiração por sua postura “absolutamente visceral e verdadeira”.

Além de Cássia, cita Janis Joplin como cantoras “que sempre serão referência de artistas que se entregam no palco, com muito sentimento”, que é o seu jeito de cantar e de se expressar. Uma lembrança especial é a de quando entregou seu CD pessoalmente para Eller no camarim do show “Veneno Antimonotonia”, em São Paulo.

“Ela me falou que curtia duas músicas do disco, ‘Cinema Noir’ e ‘Blues Diário’. Esse show foi emblemático - o encontro da música da Cássia com a obra de Cazuza e Frejat, um show dirigido incrivelmente pelo grande Waly Salomão, que também dirigiu ‘Fa-Tal’, da Gal Costa”, afirma.

“Cássia deixou o legado de uma cantora com um talento extraordinário, genial mesmo, que sempre ousou, foi na contramão do mercado, abrindo caminhos, experimentando, transgressora, sobretudo com muita coragem”, destaca Mona Gadelha.

Lupe Duailibe

“Foi arrepiante ouvir aquele vozeirão pela primeira vez no rádio e de cara já fiquei fã, era muito forte e visceral. Não demorou nada pra eu colocar ‘Malandragem’ no repertório e depois vieram outras canções como ‘Palavras ao Vento” e junto a impressionante suavidade da voz. Além disso, aquele jeito de tocar violão era muito legal. Gostava de tudo na Cássia”.

A cantora Lupe Duailibe conheceu Cássia Eller “dando uma canja” no Bar London London nos anos 1990, e não imaginava que chegaria a representá-la no palco principal do Ceará Music em 2002 com uma homenagem à roqueira devido ao seu falecimento. “Cássia me inspirava a tocar melhor, a arriscar timbres vocais, a ter presença de palco superando a timidez e ter confiança”, revela Duailibe.

Como Lupe afirma, incorporou à sua forma de apresentar elementos artísticos de Cássia como postura de palco e seu “jeito particular de tocar o violão”, quando muitas vezes “quebrava” o andamento das músicas.

“Ela foi única com sua voz, sua irreverência, sua multiplicidade instrumentista, sua alegria, suas canções atemporais. Cássia, assim como Gal e Elis, representa a riqueza da nossa cultura musical e deve ser eternamente lembrada. Artistas assim são como deuses, só morrem quando paramos de lembrar deles”, pontua.

Cantora Luh Livia
Cantora Luh Livia

Luh Lívia

“Exemplo de originalidade” e “simplicidade”: características de Cássia Eller que, para Luh Livia, servem de inspiração em sua carreira como cantora. As recordações que têm de seus primeiros contatos com a obra da roqueira a levam ao tempo da infância, quando tinha apenas 12 anos e ouviu “O Segundo Sol”. “Apaixonei-me de cara por aquela voz”, relata.

“Eu tinha uma explosão no palco muito forte, desde jovenzinha. Do meu jeito, bem humorado ou dramático. Então, quando eu vi o show da Cassia, eu pensei “tá tudo certo, essa mulher deita e rola, rouba a cena! Ela é incrível!”. Cássia Eller e Raul Seixas são meus maiores cantores, no quesito entrega artística. São superiormente únicos”, afirma Luh.

Ela também chegou a interpretar músicas de Cássia Eller em um tributo durante a Festa Brasileiríssimos, em 2015, em uma recordação “muito especial”. O projeto, segundo conta, chamou atenção até de músicos oficiais da banda de Cássia, como Walter Villaça e Fernando Nunes.

Outra lembrança importante é a de quando tocou com Chico Chico, filho de Cássia Eller, em um show na Praia de Iracema em 2018 durante o projeto Férias na PI. “Foi inesquecível! Chico Chico herdou o talento da mãe, mas traz uma identidade muito própria, além de ser um exímio compositor. Desde então mantemos contato afetuoso, via redes sociais”, compartilha.

Ao pensar sobre uma herança deixada por Cássia em sua vida artística, Luh Lívia não hesita: “Não perder o vigor adolescente. A minha alma criativa é adolescente, está em constante conflito, mas sempre aberta ao novo. Conheci o trabalho de Cássia no início da adolescência. Portanto, Cássia Eller é “Smells Like Teen Spirit” (música do Nirvana, interpretada por ela). Sempre será genial e irá inspirar por mais 60 anos e séculos!

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