No último mês do ano de 2012, precisamente no dia 12 de dezembro, a internet ganhou o que seria uma nova febre. Entre o sucesso de memes com palavras estrangeiras e fórmulas repetitivas, surgia a página Suricate Seboso, que se tornou símbolo digital do "cearencês". Desenvolvido por Diego Jovino e pelos co-criadores Leo Suricate e Dudu Suricate, este animal reconhecido pela linguagem própria acabou, também, conquistando uma rede de comunicação única dentro das telas.
Durante entrevista ao O POVO em 2018, numa matéria sobre os cinco anos de criação do Suricate, Diego explicou que a inspiração veio de projetos similares, a exemplo do "Esquilo Lombroso", da Paraíba, e da rotina cotidiana no Estado. "Comecei a botar nomes nos personagens e colocar jargões do nosso linguajar nos últimos quadros das tirinhas", relembrou na ocasião. De maneira espontânea, a figura firmou presença no Facebook, Twitter, YouTube e Instagram. "Era massa porque representava nós três, criados por avós. A gente tem uma carga de nordestinidade porque a gente replica o que elas falavam", situa Dudu.
Com este olhar atento, eles começaram a reproduzir os "armaria, nam!", "vixe!" e "orra, diacho!" - apenas parte de um longo vocabulário local - e foram sendo multiplicados no meio de crianças, adultos e idosos. O personagem ainda representa personalidades que podemos conhecer em casa ou na rua, como a mãe ou o "papudim". A estratégia, que começou como brincadeira entre três amigos, se tornou um marco na cultura digital cearense por se distanciar dos conteúdos sudestinos. "Isso foi transformador", opina Leo.
Com grande base apoiada nas paródias, o conteúdo do Suricate se expandiu para outros formatos. Além de diferentes propostas de vídeos e postagens, o animal começou a estampar campanhas publicitárias, entrou na televisão e até mesmo colaborou com O POVO durante a Copa das Confederações de 2013. "Era visto como um meme. A gente fez ele se transformar e, hoje, ele é o personagem digital mais influente do Ceará", indica Dudu.
Por meio da participação ativa dos criadores, que até receberam o Suricate como "sobrenome", a figura pôde dialogar com o público mais próximo, a exemplo dos seguidores, e com aqueles que por vezes podem estar mais distantes, como colaboradores da área e instituições públicas e privadas. "Falar sobre a história do Suricate é falar sobre a história da cultura digital do Nordeste. Ele nasceu e conviveu com pessoas que foram ponto chaves na mudança da cultura nordestina na internet, como o Bráulio Bessa, Whindersson Nunes, Camila Uckers e Kaio Oliveira", acrescenta Dudu.
Utilizando o humor como forma de entreter e questionar problemáticas sociais, a personalidade foi necessária para que outros projetos pudessem ser construídos. Um deles foi o "La Casa Du'z Vetin", série cearense sobre a vida dos moradores da periferia de Fortaleza. O animal, inclusive, é um dos símbolos da produção. O bicho carismático também foi a ponte para trabalhos com artistas como Baiana System e para a idealização de oficinas de criação de conteúdo digital para jovens periféricos. "É inegável falar de outras coisas que estão do lado, em paralelo, na cena da Cidade. O Suricate é um personagem vivo do que está rolando, tem a cara do Ceará, a cara da periferia", defende Leo.
Dez anos depois do surgimento, a iniciativa que nasceu na Sapiranga é inspiração para outros nomes do Estado. "Os meninos que vêm de um beco, do buraco da periferia profunda, acertaram um espaço na internet e começaram a desbravar um terreno que, literalmente, no começo, só tinha mato. Por isso a gente acredita que o acesso à informação e à capacidade de produção é transformador, porque transformou a nossa", detalha Leo. Com raízes que se estruturam em nomes como Patativa do Assaré e Nas Garras da Patrulha, hoje o Suricate é mais do que uma página, porque também é um terreno fértil para a comunicação, que une produção e gerência de projetos.
"Trabalhar com internet é importante para a cultura e para incentivar novas pessoas, principalmente pessoas periféricas. Era para nascer, todo ano, vários influenciadores periféricos, do Nordeste, a gente tem que trazer esse debate", argumenta Dudu. Depois da saída de Diego Jovino - hoje responsável pelo Fortaleza Ordinária -, a atual equipe é encabeçada por Dudu Suricate, ao lado de Ana Beatriz de Souza, Felipe Souza, Plínio Câmara e Batuta. Para 2023, a expectativa é concretizar ainda mais projetos, como um podcast e um CD infantil, sempre buscando somar distintas linguagens. É como eles entoam no vídeo "A Embolada do Suricate", disponível no YouTube: "Nosso jeito Suricate se espalhou por todo canto".
Retrospectiva
2012
Suricate Seboso foi criado em 12 de dezembro de 2012 por Diego Jovino na plataforma Facebook. Pouco tempo depois, Leo e Dudu Suricate passaram a integrar a equipe de co-criação. Em menos de um ano, a página alcançou mais de 1 milhão de seguidores.
2013
Já com contas no Twitter e YouTube, o número de publicações virais da página aumentou. Neste ano, os criadores do Suricate participaram do Sana Fest 2013, evento que contou com mais de 70 mil pessoas.
2014
Além das redes sociais, o animal também passou a fazer parte da programação da TV Jangadeiro, com animações de segunda a sexta-feira.
2015
Em 2015, o canal no YouTube bateu a marca de 100 mil seguidores. No mesmo ano, ranking divulgado pela empresa SumoRank revela que o Suricate Seboso é a página de comédia mais influente do Brasil e 11º no ranking mundial.
2016
Diego, Dudu e Leo foram convidados para conduzir a tocha olímpica no Ceará.
2017
Com o sucesso dos vídeos, o Suricate Seboso participou do programa "Só Pra Parodiar", do Multishow.
2018
Com a chegada do 99 Pop no Ceará, o personagem iniciou o ano como uma das figuras principais na campanha de divulgação da plataforma. No período eleitoral, viralizou o post: "Ele? NÃM!". A publicação faz referência ao movimento "Ele Não".
2019
Leo e Dudu participam do ato de 15 de maio, contra os cortes da educação, e puxam o que consideram a maior vaia cearense da história. "Tem que puxar o Guiness", brinca Leo.
2020
Na pandemia, Suricate Seboso promoveu ações informativas sobre o combate à Covid. Publicações foram realizadas também em parceria com a Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP CE).
2021
Suricate participa de campanha contra a fome com apoio ao projeto Restaurante Popular de 1 Real.
2022
Neste ano, o Suricate marcou presença na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará e no Festival Elos.
Em números
Mais de 6 milhões de seguidores no Facebook
893 mil inscritos no YouTube
Mais de 1 milhão de seguidores no Instagram
647,7 mil seguidores no Twitter
Acompanhe
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O POVO
Suricate no jornal? Veja as tirinhas do Suricate Seboso que saíram no O POVO no ano de 2013, durante a Copa das Confederações, na matéria ampliada