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Retrospectiva: festivais de música voltaram à efervescência em 2022
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Retrospectiva: festivais de música voltaram à efervescência em 2022

2022 foi palco para o retorno em massa de festivais de música, celebrando reencontros e expandindo alcance de artistas
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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 01-07-2022: Shows de Roberta Sá e Caetano Veloso no I Music, no Shopping IguatemiFortaleza. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo) (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 01-07-2022: Shows de Roberta Sá e Caetano Veloso no I Music, no Shopping IguatemiFortaleza. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)

"Depois desses dois anos guardados em casa, queria muito agradecer ao amor que vocês mandaram pela internet e nesse retorno. Todo lugar que a gente tem passado tem sido tão fantástico!", disse o rapper Emicida durante show no Festival Mada, em setembro. O evento voltava a ser realizado após dois anos de interrupção devido à pandemia. O sentimento não era exclusivo do artista - tampouco era única a configuração do Mada em um festival que estava retornando ao calendário cultural presencialmente.

Em 2022, o avanço da cobertura de vacinação contra a Covid-19 contribuiu para o restabelecimento de festivais de música Brasil afora - com a modalidade sendo, talvez, o exemplo mais visível da volta de um cenário "pré-pandemia", no qual era possível celebrar encontros e a reunião de pessoas em grande número. Com diferentes estilos musicais, tamanhos e alcance, os festivais voltaram à efervescência.

Ao longo deste ano, "tribos" diversas encontraram espaços para festejar seus gostos musicais. Entre estreias e retornos, foram realizados o religioso Halleluya, o Fortal (mobilizando fãs de axé e forró, por exemplo), o I'Music (reunindo apreciadores da MPB, do rock nacional e até de samba e pagode), a primeira edição do Zepelim (com funk, rock, rap e mais vertentes) e do Viixe (celebrando o forró e o piseiro), além do Festival Jazz & Blues.

Vale dizer, porém, que nem todos os festivais - e alguns shows - aconteceram nos períodos inicialmente idealizados. Em janeiro, o Governo do Ceará publicou decreto que reduzia a capacidade de público em eventos, além de suspender eventos de Carnaval e Pré-Carnaval.

A medida ocorreu devido ao aumento de casos de síndromes respiratórias e gripais no Estado. Assim, foram remarcados eventos como o tradicional Bloquinho de Verão, o Bloquinho Goxtoso (que teria shows de Duda Beat e Silva), além de shows como os de Fagner e de Ana Cañas em tributo a Belchior.

Com os festivais, viu-se também maior projeção de artistas que passaram a ter repercussão nacional após viralização na internet durante o período restritivo, como no caso da cantora mineira Marina Sena. Autora do hit "Por Supuesto", ela chegou a liderar com seis participações, junto com BaianaSystem e Djonga, o ranking de artistas mais "requisitados" por festivais da cena alternativa, segundo levantamento do Festival Coquetel Molotov divulgado em março.

A retomada de eventos acompanhou também o desejo do público de voltar a curtir shows ao vivo de forma presencial. A prova disso foram as adesões em massa aos festivais, a exemplo do Rock In Rio, que registrou mais de 700 mil pessoas ao longo da edição. Além disso, também foram vistas atualizações devido ao período de paralisação pela pandemia - preços de ingressos aumentaram, bem como cachê de artistas.

Para Mardonio Barros, diretor do Festival Elos (realizado em novembro em Fortaleza), houve adoção de novas estratégias por parte dos organizadores na realização dos eventos. Em sua análise, é preciso observar também se o movimento do público se manterá ou se é "reflexo de uma euforia pós-isolamento social".

"Podemos perceber uma nova estratégia nos eventos privados que é a de embalar ações musicais em formato de festivais com cobrança de ingresso e com programação mais extensa. O valor dos ingressos acompanhou a elevação no cachê dos artistas. Acredito que estamos no momento de aquecimento do setor de eventos. O desafio é saber se esse modelo vai se sustentar ou se ele é apenas reflexo de uma euforia pós-isolamento social", reflete.

Ao lembrar de festivais como o América do Sul Pantanal e o Campão Cultural, ambos realizados em Mato Grosso do Sul (MS), a Gerente de Difusão Cultural/Fundação de Cultura de MS, Soraia Ferreira, aponta como pontos em comum "a busca pela diversidade e inclusão", pautas importantes que se estendem para todo o País.

"A retomada desses eventos foi muito bem recebida pelos artistas e pelo público", afirma Soraia, lembrando também como a cadeia produtiva do setor artístico foi "duramente atingida". "Foi e ainda está sendo um momento de catarse, refletido pela quantidade de festivais que aconteceram pelo Brasil afora. É o setor da economia criativa retomando sua força e aqui em MS não foi diferente. É importante ressaltar que para 2023 as perspectivas são muito melhores, com o retorno do Ministério da Cultura", acrescenta.

A fala de Soraia tem relação com o anúncio da volta do MinC feito pelo presidente eleito, Lula. Seu antecessor, Bolsonaro, havia extinguido o ministério, uma das medidas que levaram ao desamparo do setor para além da gravidade da pandemia nos últimos anos. O descontentamento com a conduta bolsonarista, por sinal, foi evidente em festivais tanto por parte dos artistas quanto pelo público em festivais, que se expressaram contra o governo vigente e a favor do então candidato à presidência, Lula.

As vaias, os xingamentos, os gritos de "Fora, Bolsonaro" e manifestações a favor de Lula em festivais como Rock In Rio, Lollapalooza, Zepelim e diversos outros davam a tônica do presente, mas também alcançavam projeção de anseios para 2023. Na lista de expectativas do público para o ano que vem, estão festivais como o Festival de Verão de Salvador, em janeiro, Monsters of Rock, em abril, e o retorno oficial do Ceará Music, em outubro.

Assim, o caldeirão de festivais promete efervescer ainda mais em 2023, promovendo outros reencontros e celebrações em torno da música.

Durante show no Lollapalooza Brasil, a banda Fresno projetou no telão do palco os dizeres
Durante show no Lollapalooza Brasil, a banda Fresno projetou no telão do palco os dizeres "Fora, Bolsonaro"

Ecos de Insatisfação

Em ano de eleições presidenciais, festivais espalhados pelo Brasil demonstraram como política e música se misturam. Em 2022, foram evidentes manifestações de artistas e do público contra ou a favor dos até então candidatos à Presidência, Lula e Jair Bolsonaro, além de defenderem a democracia. No Rock In Rio, em setembro, Dinho Ouro Preto (Capital Inicial) exaltou que "não teria golpe". Em março, no Lollapalooza Brasil, Pabllo Vittar carregou bandeira de Lula durante apresentação, Fresno projetou "Fora, Bolsonaro" no telão do palco e Emicida, além de pedir aos jovens que tirassem o título de eleitor, xingou Bolsonaro.

Mais de 25 mil pessoas estiveram na Arena das Dunas para acompanhar os dois dias do festival Mada
Mais de 25 mil pessoas estiveram na Arena das Dunas para acompanhar os dois dias do festival Mada

Vida&Arte Viu

Para além de festivais no Ceará, o Vida&Arte viajou para outras cidades para acompanhar o retorno presencial de eventos musicais. Em setembro, Natal (RN) voltou a receber o festival Música Alimento da Alma (Mada) após dois anos de espera, promovendo integração entre expoentes locais e músicos de destaque nacional, como Luísa e os Alquimistas e Emicida. No mês seguinte, o Festival Campão Cultural, em Campo Grande (MS), reuniu teatro, dança, circo, música e mais linguagens em um evento plural que levou de Roberta Miranda ao Bonde das Maravilhas, tudo registrado pelo caderno.

Pitty e Nando Reis foram atrações da edição de retorno do Ceará Music, realizado em outubro de 2022
Pitty e Nando Reis foram atrações da edição de retorno do Ceará Music, realizado em outubro de 2022

(Re)Estreias

Quem te viu, quem ainda te verá: se 2022 foi o ano da retomada, foi também o de início para alguns festivais no Ceará. Zepelim, em agosto, firmou seu nome com mais de dez horas de programação, mesclando ritmos e localidades (como o rock dos cearenses Selvagens À Procura de Lei e o pop da gaúcha Luísa Sonza). Em maio, "a nata da nata" do forró e do piseiro, como Xand Avião e João Gomes, movimentaram Fortaleza com o festival Viixe. Teve espaço até para o anúncio da volta do Ceará Music (que oficialmente será realizado em 2023), antecedida por edição de "retorno" em outubro com apresentações de Jão, Jota Quest, Pitty e Nando Reis.

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