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A lista das coisas mais lindas
Vida & Arte

A lista das coisas mais lindas

A jornalista e professora Isabel Costa escreve sobre o que funcionou e o que não funcionou na lista de promessas pra 2022, e já projeta o que espera de 2023
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Isabel Costa é jornalista, professora da rede pública, escritora de cartas e de livros não publicados.

 (Foto: Aurélio Alves)
Foto: Aurélio Alves Isabel Costa é jornalista, professora da rede pública, escritora de cartas e de livros não publicados.

Terminou 2021 e eu havia prometido escrever muitos textos para o Vida&Arte - esse caderno de cultura que também é minha casa. Tracei uma crônica no fim daquele ano que rendeu muitas mensagens emocionadas e até comentários entre os colunistas. Fiquei felizinha. Saltitante. Parecia a Isabel repórter no começo da carreira. Quase como a primeira vez na qual vi um texto escrito por mim impresso na página do Jornal. E aí veio a promessa na voz do Chaves: "vou escrever um texto por mês e serão doze. Não, vou escrever textos quinzenais, publicar no blog, enviar para o editor, deixar de ser a escritora das cartas e dos livros não publicados...". E, pá, coloquei como resolução na lista de objetivos para alcançar em 2022.

Há alguns dias, eu estava revisando anotações e peguei o bendito papel. Do que estava lá, incluindo a promessa de textos para o Vida&Arte, executei pouco ou quase nada. Não comprei a casa própria. Não perdi o pânico de dirigir (acho que estou com mais medo agora, na verdade). Não fiz o armário cápsula. Não mudei de emprego. Não entrei no mestrado (eu nem me dei ao trabalho de tentar a seleção, para ser sincera). Não adotei um cachorro. Não comprei o celular novo. E, por preguiça ou desencanto, não escrevi com constância para o Vida&Arte. Parando para refletir: que porra que eu fiz mesmo durante os últimos doze meses?

Comecei a pensar, então, sobre a instituição lista em si e naquelas matérias ridículas publicadas em todos os sites de comportamento quando dezembro chega. A fórmula é estipulada de maneira muito clara por especialistas na vida alheia: "trace objetivos reais, somente coisas que você sabe que vai alcançar e não fique frustrado no fim do próximo ano, não abuse da sorte". Mas que graça tem a existência quando não corremos alguns riscos?

E pensei, também, sobre todos os saltos que eu dei em 2022 para fazer coisas que não estavam previstas ou desejadas, mas que foram absolutamente sensacionais. Eu vi o meu nome no letreiro do Cineteatro São Luiz e, acreditem, não há palavras para descrever essa emoção. Superada apenas pelo fato de que, na mesma noite, eu subi lá no palco para fazer uma mediação de leitura. Eu ganhei um sobrinho em janeiro, outro em julho e mais um menino agora em dezembro. O José Arjuna, o José Heitor e o Clínio Neto. Todos são meninos com saúde, rechonchudos e cheios de curiosidade pelo mundo. Sou madrinha de dois deles. Uma família fértil, meus caros. O que mais posso pedir?

Eu gabaritei todos os estágios de vida de um legítimo concurseiro: fui aprovada, fiz os exames médicos, participei de uma penca de provas, executei aula prática, fui reprovada, coletei documentos, assinei o termo de posse, vi meu nome em muitas listas, fiquei enclausurada estudando, fui convocada, fui aprovada novamente e reprovada mais uma vez. Tudo aconteceu em poucos meses e não necessariamente nessa ordem. No meio dessa gangorra emocional, não perdi a sanidade. Isso já é muito, isso já é tanto.

Retomei o ritmo de leitura que havia sido minado durante a pandemia: seis livros por mês - falo isso com muito orgulho! Voltei a pintar com lápis de cor e, confesso, é muito bom exercitar a criatividade. Fiz a matrícula na academia (pasmem!), consigo frequentar com constância e gostar dos exercícios. Eu tenho estado mais preocupada com futuro e com a saúde dos meus pais - mas, ao mesmo tempo, ganhei o entendimento de que a vida vai se desenrolar em alguns aspectos para além das minhas vontades ou das minhas preocupações, então, não adianta pensar, conjecturar, antecipar, sofrer.

Para 2023, eu não vou fazer lista. Evitarei o trabalho inútil de dividir os meses em tópicos. Quero passar um ano inteiro sem tentar atender as expectativas de ninguém. Nem as minhas próprias. Veja bem, caro leitor, meu objetivo aqui não é ficar exalando felicidade tóxica ou pessimismo derrotista. Mas eu preciso me permitir ficar um pouquinho só entendendo que os melhores passos nem sempre são os planejados, que as vitórias que mais vou comemorar nem sempre serão as minhas e que viver não cabe em uma folha de papel.

Isabel Costa é jornalista, professora da rede pública, escritora de cartas e de livros não publicados.

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