“Num rito coletivo de festa e de teatro, uma casa se reabre às/aos convivas e reaprende: como estarmos juntos novamente? Quatro artistas, tal qual páginas soltas de um livro, folheiam o tempo e convidam o público a percorrer um lugar, um ontem, uma vida, um agora, um país, um amanhã”, diz a sinopse do espetáculo “Há uma festa sem começo que não termina com o fim”.
Embora represado, o aguardado retorno aos palcos presenciais aconteceu. Em 10 de setembro de 2021, o Grupo Pavilhão da Magnólia apresentava o espetáculo pela primeira vez na Casa Absurda, em Fortaleza. Agora, será apresentada durante o mês de janeiro no Teatro do Dragão do Mar, em Fortaleza, entre os dias 10 e 31.
Inspirado na obra “O livro dos começos”, da escritora paulista Noemi Jaffe, o espetáculo debate memórias individuais e coletivas. "Num momento em que planejar o futuro parecia algo assombroso e impossível diante do medo, do luto e da aguda indignação com o (des)governo do Brasil, revisitar o passado emergiu como um lugar capaz de alimentar os imaginários e movimentar os afetos", define a sinopse.
Justamente no contexto de isolamento social, os artistas que integram a peça, Eliel Carvalho, Jota Júnior Santos, Nelson Albuquerque e Silvianne Lima, passaram a vasculhar arquivos em busca de possíveis origens e ancestralidades.
“O espetáculo tem o desafio de nos trazer em cena, de falar de nossas próprias questões enquanto artista, mulher, preta, e isso talvez seja a maior dificuldade”, explica a atriz Silvianne Lima. "Na minha cena especificamente falo das questões de escolher ser artista, e de tantas outras mulheres atrizes cearenses importantes que tiveram suas trajetórias atravessadas pelo machismo e que infelizmente nem todas conseguiram seguir com a vida no palco", explana. Ela relembra a estreia da peça, um marco de retorno, há mais de um ano.
“Foi muito emocionante voltar esse encontro. Os olhos atrás das máscaras, por vezes sorrindo outras chorando nos emocionava muito, pois estávamos ali sobrevivendo a uma pandemia e a um desgoverno sem nenhum interesse em desenvolver a cultura, e estávamos ali fazendo arte, possibilitando o encontro presencial entre artista e público, e é incrível a sensação”, descreve a artista.
“Estamos muito felizes com essa temporada logo de início do ano e com a continuidade de projetos de ocupação como o Teatro da Terça que o Dragão proporciona através de edital. Será muito importante nesse ano de 2023, onde o grupo faz seus 18 anos, já iniciarmos trabalhando e celebrando junto com o público e com esse espetáculo que foi construído durante a pandemia e que traz questões tão atuais de serem discutidas. Estamos vivos! Vamos festejar!”, completa a atriz.
Com direção de Francis Wilker e co-direção de Thereza Rocha, “Há uma festa sem começo que não termina com o fim” investe em um teatro disruptivo, o qual une palestra-performance e teatro documentário. “O processo criativo foi muito bem conduzido por Francis e Thereza que aos poucos ia abrindo as possibilidades a partir de dispositivos provocativos para que cada ator falasse de algum começo seu: começo como artista, ou de quando se descobriu preto, ou sobre ancestralidade”, elogia Silvianne. Neste ano de 2023, o Grupo Pavilhão da Magnólia completa dezoito anos de atuação.
Além da co-direção, Thereza Rocha ficou responsável pelo dramaturgismo e destaca o ideal de “aproximar o público” da obra para “tecer uma reflexão sobre o Brasil de hoje, ontem e amanhã que parte de cada corpo e aquilo que carrega de visível e invisível”.
"Lembrar não é um não é uma atitude individual, então as pessoas são muito atravessadas pelas histórias dos personagens, com questões como machismo, se reconhecer indígena e negro, por exemplo", declara Thereza.
Para ela, a temporada de janeiro no Teatro do Dragão será uma experiência bem diferente da estreia. “É um novo momento do País, não sabemos como o público vai receber. É uma peça que atravessa muitas questões contemporâneas e pessoais das pessoas, então a recepção foi muito boa (à época da estreia)”, destaca. "Será uma emoção e ao mesmo tempo um desdobramento do que o próprio espetáculo debate especialmente nesse momento ele se redimensiona em função do que tá acontecendo na sociedade", finaliza.
Há uma festa sem começo que não termina com o fim
Quando: dias 10, 17, 24 e 31, às 19h30min
Onde: Teatro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar , 81 – Praia de Iracema)
Quanto: R$5 (meia) e R$10 (inteira), à venda na bilheteria do Teatro ou na plataforma Sympla
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