Culinária, rituais espirituais, vestimenta (indumentária), dança (pisada) e música (pontos): todos esses elementos se encontram no documentário “Povos de Terreiro”, a ser lançado nesta quinta-feira, 5, no Cineteatro São Luiz. A produção é uma realização do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) e será possível conferir gratuitamente a programação a partir das 19 horas.
Na obra, são ressaltados aspectos culturais e históricos de espaços espirituais do Grande Bom Jardim explicados pelos pais, mães, filhos e filhas de santo representantes dos Povos de Terreiro do território. A iniciativa contempla, além do documentário, um podcast (já disponibilizado em plataformas digitais) de seis episódios preenchidos por conversas com pais, mães e filhos de santo falando sobre jornada espiritual e assuntos que envolvem o movimento.
O documentário e o podcast fazem parte de uma iniciativa criada dentro do programa Conversas de Terreiro, do Núcleo de Articulação Técnica e Especializada (NArTE/CCBJ), administrado pelo educador social Eduardo Marques. De acordo com a organização, foi solicitado pelos povos de terreiro que o equipamento cultural valorizasse a “memória, a cultura e a ancestralidade” no espaço.
“Uma das falas - e isso nos atravessou muito forte no nosso corpo gestor - foi de como um equipamento cultural e periférico ainda não tem espaço para os próprios terreiros. Isso nos incomodou muito, então nós começamos a fazer essa abertura de saber o quê e como eles desejavam isso. Enquanto produto de comunicação, chegamos nesse denominador comum da produção dos podcasts, todos conversados com os povos de terreiro. Foi algo muito colaborativo. Eles apontaram o roteiro e chegamos com nossa visão e trabalho técnicos”, compartilha Isabela Mayara, da Gestão de Comunicação do CCBJ.
Quanto ao filme, produzido pela equipe do CCBJ, a produção estreou na Mostra das Artes 2022 do equipamento cultural. As gravações foram feitas em eventos como o Festejo de Iemanjá e ações pontuais entre maio e novembro de 2022. Ao longo do documentário, pais e mães de santo versam sobre os costumes dos povos de terreiro do Grande Bom Jardim, alcançando aspectos como culinária e dança.
O projeto contou com a colaboração do Centro Espírita de Umbanda São Miguel (Pai Neto Tranca Rua), da Sociedade Espiritual de Umbanda Caboclo Índio (Pai Iran do Negô Chico), do Centro Espírita de Umbanda Caboclo Vira Mundo Pemba (Mãe Socorro do Caboclo Vira Mundo), do Centro de Umbanda Zé Pilintra das Almas (Pai Guiliano Zé Pilintra das Almas), do Centro Espírita de Umbanda Sagrada Família de Urubu Reis (Mãe Sandra) e do Centro Espírita de Umbanda Palácio das águas (Mãe Janaína Ti Osun).
“Acho que além da transmissão de ensinamentos para as gerações mais novas e futuras é uma maneira de dar visibilidade à nossa religião e à nossa cultura. Eu vejo nesse sentido de preservar o conhecimento e dar visibilidade e empoderamento aos Povos de Terreiro”, pontua Pai Neto Tranca Rua, do Centro Espírita de Umbanda São Miguel.
Além de ressaltar a importância das produções para a preservação da memória dos povos de terreiro, Pai Neto analisa a relevância de se combater, a partir de obras como essa, a intolerância religiosa. “A gente busca combater a intolerância religiosa e o racismo dentro das nossas atividades. Elas vêm nos fortalecendo e é uma maneira também de denunciar os casos de opressão, dar esse conhecimento e empoderamento aos Povos de Terreiro”, argumenta.
Nesse sentido, indica a necessidade de ações para maior visibilidade e fortalecimento dos povos de terreiro: “Nós precisamos fortalecer e politizar mais o novo povo, porque ainda estamos com resquícios da opressão que sofremos através de séculos. Tem muitos terreiros que têm medo ainda de ir a alguma praça. Então, precisamos de recursos para nos revigorarmos, para levar palestras aos terreiros, e vamos trabalhar para consolidar os mapas culturais junto às secretarias de cultura municipais e estadual. Creio que isso vai fortalecer mais o nosso povo”.
Povos de Terreiro
Quando: quinta-feira, 5, às 19 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500 - Centro)
Ficha Técnica
Pai Neto Tranca Rua (Centro Espirita de Umbanda São Miguel)
Pai Iran do Negô Chico (Sociedade Espiritual de Umbanda Caboclo Índio SEUCI)
Mãe Socorro do Caboclo Vira Mundo (Centro Espírita de Umbanda Caboclo Vira Mundo Pemba)
Pai Guiliano Zé Pilintra das Almas (Centro de Umbanda Zé Pilintra das Almas)
Mãe Sandra (Centro Espírita de Umbanda Sagrada Família de Urubu Reis)
Mãe Janaína Ti Osun (Centro Espírita de Umbanda Palácio das águas)
Participações especiais
Riquelme Alves (filho de santo Pai Iran)
Jaison Costa (filho de santo Pai Iran)
Solange Maria Valentim (filha de Santo Mãe Socorro)
Fr.ª Gerlânia dos Santos Damasceno (Filha de Santo Mãe Socorro)
José Júlio da Silva Filho (filho do Pai Iran)
Marcos Levi Nunes (Gestão executiva CCBJ)
Fabiano Piúba (Secretário de Cultura do Estado do Ceará)
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