Logo O POVO+
Ator e diretor Enrique Diaz fala sobre carreira e produções
Vida & Arte

Ator e diretor Enrique Diaz fala sobre carreira e produções

Em entrevista ao Vida&Arte, Enrique Diaz pontua sobre trabalhos recentes, como a novela "Pantanal", e discute sobre a importância da arte principalmente na pandemia
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Enrique Diaz interpreta Timbó na novela
Foto: TV Globo/Divulgação Enrique Diaz interpreta Timbó na novela "Mar do Sertão"

"Eu sempre achei a questão do trânsito em geral como uma coisa muito importante para mim", afirma o ator e diretor Enrique Diaz. Em cena na telenovela "Mar do Sertão", das 18 horas, ele interpreta Timbó, sobrevivente da seca e que, mesmo com todas as dificuldades, leva a vida com bom humor.

Com trajetória por diferentes linguagens, como televisão (em séries como "Justiça"), cinema ("Carandiru") e teatro (fundador e diretor artístico da Cia. dos Atores), ele demonstra múltiplos olhares para a própria carreira construída. Em entrevista ao Vida&Arte, Enrique Diaz pontua sobre trabalhos recentes, como a novela "Pantanal", e discute sobre a importância da arte principalmente na pandemia.

Em "Mar do Sertão", que estreou em agosto de 2022, Enrique dá vida a Timbó, personagem que significou um "enorme presente" devido à escrita de "muita qualidade" dos roteiros e dos contornos do personagem. "Ele é muito carismático, divertido e carinhoso. Ele erra muito também, tem fortes doses de machismo. Existe uma conversa sobre a cultura desse personagem", afirma.

A produção se passa em Canta Pedra, cidade com fama de ter sido mar antes de virar sertão, e apresenta idas e vindas de um triângulo amoroso, bem como o poder dos coronéis da região quanto ao controle da água. Ao ser questionado sobre como tratar símbolos da região nordestina sem reforçar estereótipos, ele abre o debate como uma questão complexa.

"É uma conversa bem ampla e complexa. Eu acho que o estereótipo tem o aspecto pejorativo quando a gente lida com ele de uma maneira reducionista demais. Por outro lado, ele também é comunicativo. Essa novela, por exemplo, tem um elemento de familiaridade do público, seja por causa da cidade do interior, seja por tradições, e tudo isso vai, de certa maneira, dando um contorno que poderia se aproximar do estereótipo no sentido de nós reconhecermos aquilo", considera.

Além de "Mar do Sertão", o artista esteve em outra novela da TV Globo em 2022, com a oportunidade de revisitar uma história já conhecida em sua carreira. No remake de "Pantanal", interpretou o personagem Gil, mas na versão de três décadas atrás havia dado vida ao Chico, filho de Gil e Maria Marruá.

Inegavelmente, houve mudanças entre a primeira versão de "Pantanal" e a que foi exibida pela TV Globo em 2022. Entretanto, as alterações não se restringem apenas à inversão de papéis vividos por Enrique, mas ao próprio ambiente de fundo. Afinal, a degradação do bioma Pantanal cresceu ao longo dos anos, e ele sofreu com desmatamento e incêndios, a exemplo das queimadas de 2020.

O ator fala sobre a importância da ficção como um meio de retratar a realidade: "Para além de construir um mundo que tem uma lógica interna, ela tem o poder de convidar as pessoas a refletirem sobre aquilo de uma maneira imersiva, de modo que a pessoa entra na história, nos dramas dos personagens, vai percebendo dentro aquilo um tipo de consciência sobre algo maior".

Ramificando seu campo de atuação, em junho de 2022 Enrique estreou a peça "O Espectador", dirigido em parceria com Márcio Abreu e com elenco formado por atrizes como Marieta Severo e Andrea Beltrão. No espetáculo, a presença do público é celebrada e serve de motor para a encenação, ambientada em um tribunal de júri.

Na obra, as quatro atrizes que compõem o elenco se alternam em personagens como advogados de acusação e defesa, juízes e testemunhas. O réu é um espectador que não sabe do que está sendo acusado. "A peça tem um elemento meio quântico, porque ela não é uma narrativa linear. Ela joga com as memórias e os corpos dessas atrizes naquele espaço de concreto compartilhado que é o palco. Então, tem uma espécie de flutuação de sentidos e formas que sugerem essa complexidade da relação com o outro", divide.

Nesse sentido, a obra também traz reflexões sobre a importância do papel da arte para a sociedade. Para Enrique, enquanto profissional da cadeia cultural, foi bastante difícil atravessar a pandemia, principalmente com a necessidade de lidar com as consequências da redução dos investimentos no setor. Ele lembra, então, da importância de políticas de fomento à cultura, e como ela é importante para a sociedade.

"Já era uma coisa que estava sendo terrível para todo mundo, não só para os artistas. As pessoas que, de maneira muito desinformada, criticam, por exemplo, a Lei Rouanet, elas não estão criticando o que é de fato criticável, como elementos possíveis que podem ser melhorados na lei. Elas estão criticando a própria coisa em si. Elas não percebem o grau de saúde que a cadeia cultural produz para todo mundo. A arte é um patrimônio fluido de todos", aponta.

A pandemia também o levou a fazer gravações dentro de casa com a esposa e as filhas durante o período de quarentena, culminando em um projeto de um filme documental a partir das filmagens. "O impacto da nossa convivência é muito forte. Ainda não sei direito exatamente que filme pode sair dali", compartilha. Em meio a tantas possibilidades de montagem, Enrique Diaz segue sua rotina de atenção para suas produções em diferentes linguagens.

O que você achou desse conteúdo?