Aos 36 anos, Cristiano Praxedes olha com carinho para as paredes pretas do bar que leva seu sobrenome. Em tom de nostalgia, ele observa diversos detalhes, entre os quadros temáticos (como o porta-tampas de cerveja), a "atmosfera dark" que preenche o local e o logotipo (uma caveira com capacete e barba) que acompanha o seu empreendimento até hoje. Sem dúvidas, o sentimento é de saudade.
Não é por acaso, aliás, que ele se detém às paredes. Afinal, elas contam histórias e, no caso do Praxedes Bar, são várias as narrativas que preenchem suas lembranças. De festivais de metal a shows internacionais, o local foi por anos espaço de acolhimento em torno do rock na Barra do Ceará.
Quando recebeu o Vida&Arte para entrevista, Cristiano estava a apenas dois dias de realizar a despedida "territorial" do negócio que criou em 2016. O show de Jonatta Doll na última sexta-feira, 13, marcou o encerramento das atividades do Praxedes Bar na Barra do Ceará e deu início a uma nova etapa. A partir deste sábado, 21, ele levará seu legado para o Benfica, no Centro, em uma fusão com o Snake Bar.
"Eu não consigo ficar quieto, sempre tenho que estar fazendo alguma coisa", admite. Morador da Barra do Ceará desde quando tinha apenas 2 anos de idade, ele acompanhou o movimento de "descentralização" do rock na Capital cearense - houve um tempo, relata, que os bares de rock ficavam concentrados na região da Praia de Iracema. Depois de anos, porém, foi a vez de expandir esse "mercado" para outras regiões.
Faltava um na Barra do Ceará. Entretanto, curiosamente a criação do Praxedes Bar não está relacionada a esse movimento, mas à fabricação da cerveja artesanal Praxedes Bier. Formado em Mecatrônica Industrial, Cristiano ouviu de seu professor a sugestão de apresentar como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) o projeto de uma minicervejaria automatizada.
"Eu não só fiz o projeto como também montei a minicervejaria. Quando fui apresentar o TCC, eu já estava no quarto lote de cerveja e decidi levar para os professores. Nessa época, não existia o Praxedes Bar. Depois do TCC, eu gostei tanto dessa cultura de fazer cerveja que eu quis montar um local para fazer cerveja e, além de reunir amigos, vendê-la", compartilha.
Em 2016, então, surgiu a primeira estrutura do Praxedes Bar, e desde sempre instalado no espaço da casa de Cristiano. Mesas e cadeiras preenchiam seu quintal. Formou sociedade com sua mãe para administrar o bar - que, na época, era aberto e bem diferente da última versão do local - e decidiu investir em reformas para trazer bandas covers e autorais voltadas ao rock.
"Eu curto rock desde os 13 anos, andava em praças que tinha uma galera roqueira, e minha essência sempre foi essa. Curtia também as bandas autorais, tanto que depois fiquei muito feliz em receber as bandas que eu gostava, como Obscure, para tocar no meu bar - antes eu só ia assistir a eles em outros bares", celebra.
"Acho que a primeira história marcante do bar que me lembro é de quando a gente colocou pela primeira vez aqui uma banda estrangeira. Foi a banda de heavy metal sueca Air Raid. O bar lotou. Depois, olhando as fotos, parecia show gringo, os caras louros e cabeludos no palco… Outra grande história foi quando a gente fez o Praxedes Metal Fest, o primeiro festival do bar com bandas autorais de Fortaleza", resgata.
Realizado pela primeira vez em 2018, o Praxedes Metal Fest, como apontado por Cristiano, dava destaque à cena autoral do metal, e teve apresentações de bandas como Dead Enemy, Flagelo e Réu Podre. O evento, claro, contribuía para a apreciação da comunidade roqueira em torno da produção local do estilo. Assim, o Praxedes Bar acabou se tornando uma referência não só para os moradores do bairro, mas para localidades muito além da Barra do Ceará.
"Eu recebia muitos elogios da galera que mora aqui (na Barra do Ceará), porque o pessoal era muito carente de rock. Quando queria curtir, precisava se deslocar para muito longe, e é engraçado que o pessoal que morava longe do bar achava ruim a distância. Aí, quando eu decidi fazer a mudança para o Benfica, teve muita gente na Barra que se lamentou e muita gente que mora perto do Benfica que gostou", revela.
A troca de sede não foi algo repentino. Esse era um projeto antigo do dono, que sabia que em algum momento chegaria a hora de expandir "a música" do bar para outro destino. "Já faz sete anos que a gente está aqui e a gente sempre mudou alguma coisa, sempre inovou, fez algo diferente. A gente passou pela pandemia, houve um declínio no número de clientes acredito que por conta do deslocamento e da condição financeira, e eu sabia que um dia ia ter que ir embora (da Barra do Ceará), porque o bar é no espaço da minha casa. Tem meus pais, minha sobrinha pequena, minhas duas filhas… é um ambiente familiar e, querendo ou não, incomoda. A mudança foi uma junção de coisas: pós-pandemia, questão de ser descentralizado, muitas casas ao redor e também crescimento. Eu queria crescer e aqui já não via para onde", relata.
A alteração, entretanto, não seria comandada de forma solitária. Dessa forma, encontrou um parceiro de negócios para dar nova roupagem ao empreendimento. "Eu já vinha namorando há um tempo o Benfica, queria ir para lá, mas não sozinho, até porque trabalho em outro emprego, então não conseguiria administrar sozinho. Precisava de um sócio. Aí, veio a oportunidade de conversar com o Rodrigo, do Snake Bar, e a gente decidiu fazer essa fusão", aponta.
Como será tocado, então, esse projeto colaborativo, com inauguração marcada para este sábado, 21? Segundo Cristiano, o novo espaço terá a "essência" dos dois bares - ele até levará a "atmosfera dark" do Praxedes, incluindo a coloração preta das paredes. Além disso, continuará a iniciativa de covers de bandas de rock, bem como os festivais autorais.
Do Snake, permanecerá "a pegada retrô e gótica" da programação de bandas que acontecia anteriormente. "Quem for para o novo bar vai perceber o dedo do Snake e do Praxedes, porque vai ser a mistura dos dois ambientes", garante Cristiano.
De acordo com o mecatrônico industrial, o "Snake Bar" funcionará normalmente de quarta-feira a sábado, abrindo sempre às 18 horas, mas com horários diferentes de encerramento a depender do dia. Nas quartas e quintas, o bar estará aberto até meia-noite, enquanto que às sextas-feiras e nos sábados funcionará até às 2 horas. O espaço só abrirá aos domingos quando forem realizados festivais.
"Eu estou bem tranquilo, feliz e satisfeito. Não tem questão alguma que me faça ter um pé atrás. Estou com expectativa muito boa para ir ao Benfica, até porque, se o Praxedes já estava muito bom na periferia, conhecido, saindo em jornais, televisão e até trazendo bandas de outros estados e países, as expectativas são ótimas para o Benfica. É um bar mais universitário, boêmio e central. Acredito que, com essa pegada do Snake e do Praxedes, fazendo tudo direitinho e com a experiência que eu e o Rodrigo temos, vai vir muita coisa boa", projeta.
Atrações da inauguração
17 horas – Abertura do bar
19 horas – Hard N' Roses (banda cover de Guns N' Roses)
21h30min – Music Vice (músicas retrôs de sucesso de artistas como Elton John, Madonna e David Bowie)
0 horas – Vinny Fist (cover de músicas country e rock)
Quanto: R$ 15 (entrada)
Inauguração Snake Bar (fusão Praxedes Bar Snake Bar)
Quando: sábado, 21, às 17 horas; bar funcionará às quartas e quintas-feiras, das 18h à meia-noite, e às sextas e aos sábados, das 18h às 2 horas
Onde: Av. Carapinima, 1994 – Benfica
Instagram: @praxedes_bar e @snakebar2020
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