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Pitty faz show em Fortaleza e revisita carreira em entrevista
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Pitty faz show em Fortaleza e revisita carreira em entrevista

Pitty faz show em Fortaleza neste sábado, 28; em entrevista exclusiva, cantora baiana relembra carreira e pontos importantes de sua trajetória
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Cantora baiana Pitty (Foto: Jade Vieira/Divulgação)
Foto: Jade Vieira/Divulgação Cantora baiana Pitty

"Olho em retrospecto e vejo que cada peça teve um papel e um tijolo nessa construção. Todas as escolhas foram calcadas na essência, na verdade, no amor à arte e no desejo de se comunicar com as pessoas através da música. Acho que é um processo evolutivo natural, de ir crescendo enquanto compositora e pessoa, dos pensamentos e canções irem se desdobrando nesses rumos”.

Quando analisa sua evolução enquanto artista ao longo dos anos, a cantora e compositora Pitty logo lembra dos caminhos percorridos na carreira a partir “das experimentações e descobertas através dos discos e dos anos”. Para a baiana, cada passo seguido levou à “Matriz” - nome do álbum mais recente, lançado em 2019, mas que também remete aos cernes de seu fazer artístico: inovações e ampliações.

É também, aliás, o nome da atual turnê com a qual se apresenta neste sábado, 28, no Centro de Eventos do Ceará. O show, programado para ser iniciado às 20 horas, acontecerá dentro da programação do Sana. Os ingressos estão à venda por valores a partir de R$ 90 e podem ser adquiridos pelo site Sympla Bileto.

No repertório estarão músicas do “Matriz”, como “Noite Inteira” e “Bicho Solto”, do EP Casulo e sucessos de sua carreira como “Me Adora”, “Teto de Vidro”, “Equalize” e “Serpente”. Incluídos nesse leque estão estilos como rap, reggae e MPB em canções como “Roda” e “Sol Quadrado”.

Em entrevista exclusiva ao Vida&Arte, Pitty apontou o que essa ampliação sonora representa para a carreira de uma cantora também muito marcada pela “veia roqueira”: “É uma ampliação que sempre houve em mim como público e amante de música: desde sempre eu ouço jazz, blues, hip hop, samba, ritmos latinos… muita coisa mesmo. E essas influências foram aparecendo devagarzinho nos meus sons, e eu fui respeitando”.

Como a cantora aponta, foram influências que, aos poucos, passaram a surgir em suas composições, em uma estrada que neste ano completa 20 anos. Foi em 2003, afinal, que Pitty lançou seu álbum de estreia - e logo um marco: “Admirável Chip Novo” levou ao público singles como “Máscara”, “Equalize”, “Teto de Vidro” e “Admirável Chip Novo”.

O trabalho foi, de fato, marcante para uma geração, mas, mesmo após 20 anos, segue ecoando suas mensagens de críticas sociais e investigações sonoras no País. Na análise de Pitty, o álbum comunica ao Brasil de 2023 “a retomada da discussão sobre as nossas ideias de sociedade, de equidade e de convivência”.

“Tenho percebido, através dos comentários das pessoas, o quanto as letras desse disco estão mais atuais do que nunca. Às vezes acho até que tem gente que não entendeu em 2003 e só entendeu agora (risos). É doido pensar que isso foi escrito naquela época, naquele contexto, naquela idade que eu tinha. Tudo tem se encaixado, a narrativa do álbum, o momento social e político e o comportamento da juventude de agora”, enfatiza.

Falar da “Matriz” de Pitty não é apenas comentar sobre produções musicais de sua trajetória, mas lembrar de sua origem enquanto nordestina - e, ao mesmo tempo, quebrar estereótipos associados a isso. Mantendo traços de sua origem, como sotaques, ela aponta que “sempre quis ser uma artista que falasse uma língua universal, mesmo que nela haja um acento de origem”.

“Existir dessa forma global traz luz sobre a diversidade da regionalidade, porque nem toda menina baiana é igual, assim como nem todo cearense é igual, e por aí vai”, pontua. Ela acrescenta: “Tratar as pessoas dessa forma restrita e encaixotada é muito limitador. E existem muitas possibilidades de ser nordestino fora do estereótipo do cartão postal. É sobre ampliar o olhar do resto do Brasil para a riqueza real de pessoas de diversas regiões, especialmente Norte e Nordeste, que são retratados normalmente pela lente do olho do visitante, e não de quem vive a realidade do dia a dia daquele lugar”.

Hoje com 45 anos de idade, Pitty revisita também percepções próprias e sociais sobre temas discutidos em canções marcantes de sua carreira, a exemplo de “Desconstruindo Amélia”, de 2009, na qual fala sobre estereótipos e pesos ligados ao universo feminino.

Ao ser perguntada sobre como, em 2023, lida com tópicos como relacionamento e maternidade em uma perspectiva de autodescoberta através dos anos, ela pontua que são debates e conversas que atravessam as pessoas ao longo dos tempos e podem evoluir a partir de novas gerações e novos contextos.

“Quando escrevi essa música, não se falava de feminismo abertamente como hoje. Era um assunto para mulheres que estudavam ou se interessavam até de forma mais acadêmica sobre o assunto. As coisas foram ganhando nomenclaturas e ampliando seus espaços de existência nas conversas. O questionamento acerca de equidade de gênero, de igualdade racial e social foram ganhando força. Apesar da tentativa de retrocesso recente, eu acredito que não há mais volta. Podemos seguir ampliando esses papos e envolvendo todos os setores da sociedade, pois só como um todo conseguiremos mudar situações que são enraizadas e estruturais no nosso país”, destaca.

Em uma balança entre passado e presente, sobra espaço também para vislumbrar o futuro, especialmente diante do novo momento político vivido no Brasil, com a volta do Ministério da Cultura e promessa de maior orçamento. Isso, entretanto, ainda em um contexto de reconstrução.

Para Pitty, a perspectiva é a volta da valorização e do entendimento da cultura “como patrimônio e direito do cidadão”. “A sociedade foi bombardeada com essa falácia de superficialidade, de menosprezar a arte, quando na verdade esse é um dos valores formadores mais importantes de sociedade junto com educação. Cultura e arte são educação. São história. Representam o entendimento de si como ser humano e dos outros ao seu redor”, acrescenta.

Leia no O POVO + | Confira mais histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

Pitty - Turnê Matriz

Quando: sábado, 28, às 20 horas
Onde: Centro de Eventos (Av. Washington Soares, 999 - Edson Queiroz)
Quanto: a partir de R$ 90 (meia); vendas no site Sympla Bileto

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