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Do crime para a poesia: trajetória de Felipe Rima é tema de filme
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Do crime para a poesia: trajetória de Felipe Rima é tema de filme

Trajetória do rapper Felipe Rima é tema do filme "Sinos: Do Crime para a Poesia" que estreia nesta quarta, 1º de fevereiro, no O POVO+
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Felipe Rima: produtor cultural com forte atuação 
na periferia de Fortaleza (Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo Felipe Rima: produtor cultural com forte atuação na periferia de Fortaleza

Há certas histórias que parecem saídas da ficção. A trama de um jovem envolvido no crime que deixa tudo para trás para traçar um novo caminho na arte é um desses scripts da vida. É o enredo da história real do rapper cearense Felipe Rima, de 35 anos. E sua trajetória não é apenas digna de filme, como se tornou tema da produção "Sinos: Do Crime para a Poesia" que estreia nesta quarta, 1º de fevereiro, no O POVO+.

"No início da minha trajetória, algumas pessoas, quando eu contava minha história, elas diziam que poderia ser uma história de filme ou livro" relembra o rapper. Nascido na comunidade da Zareia, no Papicu, em Fortaleza, Felipe tinha sonhos como qualquer criança, sendo um deles ser jogador de futebol. Mas o ambiente familiar em que estava inserido mudou seus planos. Pai, primos e outros parentes eram envolvidos com o crime, o que fez com que Felipe tivesse desejo de seguir pelo mesmo caminho. Até que o contato com a arte mudou seu rumo.

"Sinos" retrata os caminhos percorridos por Felipe desde a infância até a vida adulta, mostrando os principais acontecimentos que mudaram o destino daquele jovem, e evidenciando como a arte, mais especificamente a poesia, transformaram seus pensamentos. A trama mescla depoimentos do artista com encenações, rimas e músicas. Ao assistir a produção, o rapper diz que ficou surpreendido e emocionado.

Para Felipe, a obra retrata sua trajetória com responsabilidade. "Eu sempre tenho muito cuidado com os temas da minha vida, porque são todos muito sensíveis. Eu venho de uma comunidade, um ambiente onde a vulnerabilidade é extrema. Nós não tínhamos muitas regalias, nem do Estado, nem do próprio contexto social em que eu nasci. Eu aprendi a dizer as coisas que precisam ser ditas. Tem muita gente que pergunta se eu aumento as histórias por ser chocante, mas eu digo que eu diminuo um pouco o tom”, destaca.

Ele completa: “Algumas histórias eu não conto, porque são dolorosas até. E eu sei que a partir do momento que eu transmito isso para o público, passa a ser também história das pessoas que se identificam com a minha. Então, eu acho que tudo que está no filme foi posto com muita responsabilidade, tanto da minha parte quanto da equipe que fez".

Duas cenas do filme ganham destaque para o rapper. Uma delas está logo no início, quando em meio ao sonho de se tornar jogador de futebol, Felipe ganha uma bola. A outra está no fim: um vídeo dele e Romário, seu grande ídolo na infância. Esses dois trechos poderiam facilmente ser uma trend das redes sociais de "início de um sonho / deu tudo certo". O sonho de se tornar jogador não se tornou realidade, mas muitos outros sonhos do artista foram conquistados, incluindo o de conhecer Romário, e quem assiste ao filme irá conferir algumas dessas realizações.

Felipe deseja que o filme inspire o público a mudar o rumo de suas vidas. "Eu espero que as pessoas consigam ver que a vida da gente não tem uma definição de futuro. A gente pode construir esse futuro. A gente pode lembrar das coisas do passado como cicatrizes e até feridas, mas que a gente pode sarar e entender que essas cicatrizes são marcas para que a gente consiga reconhecer quem somos e tá deixando marcas na nossa própria história", declara,

"A intenção do filme é mostrar pras pessoas que a gente pode começar uma história triste e fazer ela se tornar uma história alegre, feliz e inspiradora. Não é porque uma história começa triste que ela precisa terminar de forma trágica. As boas novas também mudam as vidas das pessoas. Não só as coisas ruins que mudaram minha vida de forma radical, mas as coisas boas também. Acho que o filme é uma ferramenta para as famílias, educação, empreendedores, pra olhar a vida mais amplamente num sentido próspero", pondera.

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Por dentro da produção

O filme surgiu a partir de um edital da Secult-CE de 2015, mas somente agora em 2023 será lançado. Naquele ano, Felipe Rima era um dos palestrantes do projeto "Enem Mix" da Fundação Demócrito Rocha (FDR), que realizava palestras motivacionais em diversos municípios do Ceará. O projeto era coordenado por Marcos Tardin, atual gerente-geral da Fundação Demócrito Rocha, que fez o convite de produzir um filme com o percurso de vida do rapper.

"Achei que a história dele era muito cinematográfica, merecia ser contada em audiovisual", declara Tardin. Inspirado no formato não convencional das palestras, o filme apresenta a trajetória de Felipe a partir de vários recursos. O principal é a narração em primeira pessoa, onde o rapper está diante das câmeras e fala diretamente ao público sobre os principais acontecimentos de sua vida. Mas também há rimas e até músicas, já que para ele era essencial usar a arte para se comunicar com o público.

Além disso, há encenações, gravadas na comunidade onde nasceu Felipe. O elenco foi formado a partir de moradores da região. Marcos Tardin, que assina o roteiro com Pati Rabelo, conta que foi desafiador escolher quais cenas da vida do rapper seriam gravadas, já que havia limitações de produção. O desafio de fazer o 'Sinos' foi tentar, já que não podíamos fazer muitas encenações, escolher aquelas em que eu acho que teriam maior representatividade", explica.

A produção está disponível para os assinantes do O POVO+ a partir desta quarta-feira, 1º de fevereiro.

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