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Boate Kiss 10 anos: produções para streamings relembram tragédia
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Boate Kiss 10 anos: produções para streamings relembram tragédia

Incêndio da Boate Kiss deixou 242 mortes, 636 sobreviventes, nenhum preso, ninguém condenado
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Famílias soltam balões brancos durante homenagem 
às vítimas e sobreviventes do incêndio na boate Kiss (Foto: SILVIO ÁVILA/AFP)
Foto: SILVIO ÁVILA/AFP Famílias soltam balões brancos durante homenagem às vítimas e sobreviventes do incêndio na boate Kiss

Na madrugada desta sexta, 27 de janeiro de 2023, assinantes da Netflix receberam um alerta de nova produção na plataforma. Quem acompanha já sabia, era a minissérie "Todo Dia a Mesma Noite". Inspirada no livro da jornalista mineira, Daniela Arbex, que tem o mesmo título, a obra pode ter os seus problemas no que diz respeito ao viés cultural, o sotaque dos personagens é carregado demais, a narrativa tem "uma pegada" um tanto quanto lenta, expõe a dor, mas sobre o papel social, não há defeitos.

Com apenas cinco capítulos, os dois primeiros são 'de chorar de soluçar'. Os outros três são de embrulhar o estômago. Acredito que não exista um gaúcho que não conheça alguém ligado a uma das vítimas, ou que não se lembre daquele dia. O Brasil teve a sua maior tragédia em uma casa noturna, foi o caso da boate Kiss, em Santa Maria, que é memória viva e recente todo o mês de janeiro.

Mas eu, que nasci e vivi naquele estado até o ano passado, estava na estrada no dia 27 de janeiro 2013, voltando de uma viagem. Quando o rádio começou a sintonizar, senti que algo de muito ruim tinha acontecido. Os números de mortes aumentavam a cada atualização de boletim. Ninguém conseguia entender como aquelas centenas de jovens haviam morrido ou ficado feridos. Poucos dias depois, começaram a aparecer as muitas evidências de negligência e os motivos daquelas mortes.

Já jornalista, trabalhava em um jornal impresso e para mim veio a missão, um dia depois da maior tragédia do estado, de entrevistar a enfermeira que tinha andado 600 quilômetros (ida e volta) para socorrer vítimas e tinha ganho a missão de ajudar na triste tarefa de identificação dos corpos.

O mesmo embrulho que senti naquele dia, ao ouvir o relato dos celulares tocando junto aos corpos com a identificação das chamadas escrito "mãe"e "pai", eu senti ao ver a história sendo contada pela série. Ao todo, 636 jovens ficaram feridos e 242 perderam a vida.

Uma década se passou, os pais e familiares lutam, até hoje, para que a vida dos filhos receba justiça. Pessoas se mataram de depressão por conta daquele incêndio, daquelas cenas, daquela dor. O prefeito da cidade sequer pediu desculpas às famílias. Até agora, ninguém foi responsabilizado ou está preso. Aliás, muitos não tiveram o mínimo com quem sobreviveu a tudo aquilo: empatia.

Como jovem que já fui, me coloquei no lugar daqueles que se foram ou ficaram marcados, mas como mãe de um menino de cinco anos, me dá um aperto no peito. Foi ainda mais avassalador relembrar tudo aquilo. A negação de alguns pais, a dor de outros, a luta. "Por memória. Por justiça. Que não se repita."

As três frases fecham a série e a última é a que quero ressaltar. Passamos por três anos de pandemia e as festas estão retornando com tudo. Tem Carnaval batendo na porta e eu me perguntei: como estará a segurança dos locais que nós, nossos filhos e nossos amigos estão indo e irão frequentar? Como estão os alvarás, os PPCIs (plano de prevenção contra incêndio)? Como estão as lotações? Passamos muitos meses fechados, casas noturnas quebraram, mas as que sobraram e abriram nestes últimos tempos, estarão em dia?

Um pai da Kiss, na série, diz que as famílias estavam seguras e deixaram seus jovens filhos irem à festa porque confiavam que o Estado estava cumprindo o seu papel e que lá, aqueles meninos estavam seguros. E nós, ao sairmos para nos divertir, estamos realmente seguros? Essa semana o meu lugar vai ser no sofá, assistindo a produção - true crime do Globoplay, do jornalista Marcelo Canellas, "Boate Kiss - A Tragédia de Santa Maria". Essa semana, não vai rolar sair em festa, não vai dar.

Produções sobre a boate Kiss

- "Todo Dia a Mesma Noite": disponível na Netflix

- "Boate Kiss - A Tragédia de Santa Maria": disponível no Globoplay

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